Ninguém lhe perdoou. E eu não lhe perdoo ter morrido. Luiz Pacheco teria muito mais para escrever.
Mas nem sempre passou à escrita pequenos episódios de uma imaginação delirante em que era fértil e protagonista. Não olhava para o umbigo e não escrevia só sobre si.
Reli com ternura alguns dos panfletos batidos à máquina, fotocopiados ou ainda mimeografados com que recheava envelopes e vendia, na feira do livro em banca própria de tabuleiro de chá, por vinte paus.
Uma rapariguinha de uns 14 anos, ainda na companhia dos pais, à distância, aparece para comprar um envelope. “Vintes! Autógrafo? Mais vintes.” A nota tinha sido cedida por um dos pais para a compra e miudita sem dinheiro na carteira disse que não tinha mais.
“E tens módulos? Sim. Então são dois!”
A dedicatória demorou quase uma hora de escrita.
Numa volta a Braga para refazer os passos que o tinham levado a escrever o seu célebre Libertino, viu-se sem dinheiro para a volta. Nada de espantar para quem sabia das vidas do Pacheco. Foi-se a um livreiro conhecido e pediu-lhe dinheiro para pagar a pensão e a volta. Embrenhado no seu negócio, e sabendo que o empréstimo nunca teria retorno, o livreiro fez-se rogado.
“Então empresta-me umas quantas bíblias escolares à consignação.”
Com uma enorme vontade de saber o que dali sairia, umas quantas cópias do livro sagrado mudaram de mão. Horas depois, pagando a primeira remessa, veio o pedido de mais.
“Luís, como é que consegues dinheiro a vender isso? Só custa 15 escudos!”
“Mas estas vendo-as a 50. São mais caras porque são autografadas pelo autor.”
Foto Luísa Ferreira/Público
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