20 abril, 2007

Novas oportunidades

Anda por aí uma campanha publicitária elitista e insultuosa, em que vedetas bem sucedidas são apresentadas como "inferiores sociais" que seriam se não tivessem estudado. É elitista porque liga estreitamente o resultado do estudo ao sucesso profissional e a um evidente escalonamento social das profissões. É insultuosa porque lança a suspeita de que quem não estudou foi porque não quis.

José Vítor Malheiros discute muito bem este caso, na sua crónica habitual do Público (17.4.2007). Extraio esta passagem.
"É certamente bom que o Estado português faça uma campanha para promover a aprendizagem e o regresso à escola. Mas é absolutamente desprezível que se apresentem determinadas actividades profissionais como indignas e como exemplos negativos, numa menorização das pessoas (dos cidadãos) que desempenham estas tarefas (cuja relevância social não é nula, diga-se) que é não só eticamente inadmissível como economicamente disparatada.
O problema em Portugal é precisamente que há imensas pessoas que não possuem competências nas suas áreas de actividade: temos comerciantes que não sabem fazer contas, lavadeiras que não sabem tirar nódoas, empregados de teatro que não sabem falar a um cliente e jardineiros que não sabem tratar de um relvado. O problema não é que haja pessoas a fazer isto (ou outra coisa) em vez de terem canudos. O problema é que há pessoas a fazer isto (ou outra coisa) mal feito."

3 comentários:

Anónimo disse...

Quando se trata de campanhas publicitárias, seria bom que o governo pensasse duas vezes antes de gastar um tostão. Ele é o "allgarve", agora vem esta dos "canudos",... E a altura não podia ser "melhor", porque temos exemplos bem expressivos de como é importante "lutar pelo canudo". Há até quem se disponha atudo (menos aprender) para obter esse canudo.

Há um desajuste qualquer em tudo isto. Um jeito especial em acertar ao lado.

Albardeiro disse...

Caro JVC, a propósito desta "lástima" de anúncio, também uma amigo meu (http://alentejanando.weblog.com.pt) escreveu o seguinte:
sôr ministro do trabalho

O Cabeça de Abóbora – que também respondia por Américo Tomaz - num dos seus inaugurativos e colossais discursos, dissertou sobre a sua infantil vontade em ser bombeiro quando grande fosse. Almirante e Presidente da República foi o que calhou em sorte ao eminente cabeça de abóbora para mal dos pecados deste rectângulo na beira-mar assentado.
4 – FIGURÕES – 4, aparecem numa campanha publicitária institucional, consequentemente também paga com a parte do cabedal que o fisco me saca, a armarem ao cabeça de abóbora. Trocada por miúdos, a farsante propaganda, não é mais que o grande educador das massas Vieira da Silva, de dedo em riste, a atemorizar os juniores para a desgraça de virem a integrar o quadro profissional do pessoal menor, caso não se dediquem afincadamente aos estudos. Pretende a rábula do sôr ministro recordar que, neste rectângulo na beira-mar assentado, não havendo meios termos, ou doutor ou pelintra. Já basta o que basta sôr ministro! Já basta de bater no ceguinho do pelintra tuga que não quis, não teve posses, ou ainda arte ou engenho para ser doutor – estes podem ter nacionalidade indiscriminada que são sempre considerados. Já basta de psicodoutoral sôr ministro! Ou ainda não está contente com a ancestral tarefa de entortar os cérebros pátridos.
Quanto aos 4 – FIGURÕES – 4, para além deste deplorável era uma vez, provavelmente nunca ninguém lhe apontou a possibilidade de estarem a esbanjar as não assumidas competências para a carreira de tractorista ???? – não querendo com isto deslustrar a honorabilidade da profissão em causa.

M.C.R. disse...

O que me parece grave é que quase já não há picheleiros, electricistas, marceneiros, carpinteiros, estucadores etc... cada vez que preciso de um é um desassossego.
O meu carpinteiro e amigo sr Brandão abalou para Inglaterra, onde, diz-me, se enche de dinheiro com metade do trabalho de cá.
Esta malta nem as pensa