13 abril, 2007

O caso Sócrates (II)

Ainda hoje tenciono escrever mais alguma coisa substancial, mas, por agora, fico-me por uma nota marginal mas significativa. Começo por comentar uma mensagem de um amigo. "Este processo é importante que decorra e mesmo vá mais longe, de outro modo a democracia não existiria de todo. Eu pelo menos passei a saber um pouco mais do que se passa com essas universidades/empresas e das suas ligações com os políticos. Pode ser que o Sócrates (...) não seja o mais sujo mas também se banhou nessas águas poluídas".

Inteiramente de acordo, e muito relevante como pretexto para esclarecer bem a minha posição. O que eu escrevi não é nada uma defesa de Sócrates. Nem sequer estou em posição de o defender, se é que o quisesse fazer, por não ter conhecimento de todos os factos importantes e do seu contexto. Para que fique bem claro, até o critiquei, pela leviandade (admito que o termo seja excessivo, mas é o que me ocorre) das suas escolhas académicas.

Para não haver dúvidas, até me sirvo da minha concordância com o que escreve no público de hoje Vasco Pulido Valente, um comentarista que nem é do meu agrado geral: "Sócrates, como é natural, tentou arranjar uma licenciatura para o que desse e viesse. Não o preocupou muito (e porque haveria de o preocupar?) se o ISEL e a Universidade Independente lhe dariam uma péssima ou excelente formação profissional. Para o que ele queria da vida, só interessava o papel. (…) Para um estranho à academia, coleccionar 55 cadeiras presumivelmente basta. Mas 55 cadeiras são 55 cadeiras. Não são um curso (no sentido literal de "caminho") que gradualmente transmite um método e treina uma cabeça. (…) Só é possível, e além disso indispensável, deixar claro, cristalinamente claro, que nenhum estudante deve em circunstância alguma seguir o exemplo dele: um exemplo que, segundo Sócrates, revela "nobreza de carácter" e que anteontem ofereceu com "orgulho" aos portugueses. Ninguém que pretende genuinamente aprender anda a saltar de escola em escola, ou escolhe uma universidade porque "é mais perto", ou pede equivalências sob palavra, ou aceita o mesmo professor no mesmo ano para quatro cadeiras, ou se importa em especial com títulos. Sócrates simboliza tudo o que está errado no ensino que por aí existe."

O que para mim está em causa, nesta guerra em que me meti, é a enorme importância que dou à comunicação social, o "quarto poder" da democracia. Se exijo que um primeiro ministro seja honesto, que não minta, nomeadamente sobre as suas habilitações, também exijo que um jornalista e o seu editor e o seu director sejam recrutados sem haver razão para nos estamparem diariamente com a sua ignorância e com a sua mediocridade intelectual, que sejam isentos e honestos. São guardas da democracia, mas "quis custodiat custodes?" (quem guarda os guardas?).

Nota – Diz-me o meu amigo que ficou a saber mais sobre as relações entre universidades privadas e políticos. Recomendo-lhe o estudo de um caso muito interessante, o da inefável Universidade Atlântica, que não obedece ao mínimo das regras mas que se mantém incólume. É um bom exemplo de bloco central. Até há uns anos, o presidente da sua entidade proprietária era Marques Mendes, sucedeu-lhe Torres Pereira. Veja-se a lista dos accionistas, que está no "site".

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