17 abril, 2007

O caso Sócrates (VIII)

Afinal, pelo menos hoje, a montanha pariu um rato. Vou esperar por amanhã, mas não posso esquecer, até mais se ver, a notícia do Sol.
José Sócrates terá feito a cadeira de Inglês Técnico ­– uma das cinco que realizou na Universidade Independente para concluir a licenciatura em Engenharia Civil – através de um pequeno trabalho entregue numa folha A4, que fez chegar ao reitor acompanhado de um cartão do seu gabinete de secretário de Estado.
O cartão e a folha A4 foram encontrados no processo do aluno José Sócrates pela nova equipa que está à frente da Universidade Independente.
O SOL apurou que está previsto estes dois documentos serem apresentados durante a anunciada conferência de imprensa da nova direcção, com a indicação de que o dossiê escolar de Sócrates, nesta cadeira, não contém qualquer outro elemento de avaliação.
Um destes documentos é, então, um cartão de José Sócrates (subscrito enquanto secretário de Estado adjunto do ministro do Ambiente e que tem o timbre do seu gabinete), em que este escreveu, pelo seu punho: «Meu caro, como combinado aqui vai o texto para a minha cadeira de Inglês».
Agrafada a este cartão, está uma folha A4, com um pequeno texto em inglês, que corresponderá à resposta a menos de uma dezena de alíneas.
Segundo apurou o SOL, este «trabalho para a cadeira de Inglês» é o único documento escolar de Sócrates desta cadeira e terá servido para concluir a sua avaliação final a Inglês Técnico.
Tento ser intelectualmente rigoroso. Ainda não vi nada que leve Sócrates para a cadeia. Mas tudo isto me leva à prudência do Zé povinho de não lhe emprestar mil euros, o que quer dizer voltar a votar nele. E não haverá muitos meus amigos, socialistas honestos, a pensar no mesmo?

Num primeiro momento destes escritos, perante a parvoíce do "trtabalho" do Público, acabei, indirectamente, por beneficiar Sócrates. Carrego no pedal do travão. Já há é porcaria a mais. Não faço juízos definitivos, não sou juíz, mas já tenho razões para me perguntar se Sócrates não é mais um videirinho histórico, retrato de hoje de Abranhos e de Gouvarinho.

P. S. – Até agora, tenho escrito como cidadão. Chegou a altura de não esquecer uma qualidade em que sou bem conhecido, a de professor universitário. O rigor intelectual, de isenção, do cidadão, não vale perante a ética do professor. Que fique bem claro. Como professor, não tenho dúvidas de que o estudante José Sócrates representa o pior da nossa educação superior. E, ao elogiá-lo, Mariano Gago, seu subordinado, entra na história como dando o pior exemplo possível do que deve ser a nossa educação superior. Não é preciso ter-se estudado anatomia, como eu, para se saber que há uma coisas chamada coluna vertebral.

P. S. (18.4.2007) - Só hoje li a tal prova de inglês. Fora a data, que é o que preocupa os jornalistas, ninguém acha nada de estranho naqule texto, no que está bem escrito e nos erros?

1 comentário:

rui disse...

o "data mining" nas secretarias das universidades, em particular no que respeita ao período entre 74 e 75, vai ser o investimento dos coscuvilheiros e mafiosos de serviço a todos os partidos (e não só...)durante os próximos meses.
e é isto que preocupa. perceber-se que este súbito fim do "estado de graça" de sócrates com a imprensa (ou alguma dela) tem o cheiro evidente de cozinhado que esturrou porque alguém se sentiu incomodado.
e o Público em particular sai muito mal no filme.
Não que sócrates seja a valorosa vítima de uma cabala por ter enfrentado "os poderosos", mas apenas porque é possível que este tipo de "processo" se desenrole na nossas barbas com todo o descaramento e com toda a impunidade - e aqui lembremo-nos tão somente da forma como o Ferro Rodrigues foi queimado publicamente ao longo de meses.