14 abril, 2007

O caso Sócrates (IV)

O folhetim Sócrates-UnI entrou em registo surrealista. Não dá para acreditar! Segundo o Expresso, o reitor da UNI, durante o tempo em que Sócrates por lá andou (é mesmo bem usado o termo, andou), não era Luís Arouca mas um tal Prof. Ernesto Costa, hoje da U. Coimbra (já agora, seria também professor da U. de Coimbra enquanto reitor da UnI? Quem pergunta não ofende).

Se isto é verdade, descredibiliza todos os intervenientes. Uso o termo no sentido amplo de "permitir juízo de leviandade ou de falta de seriedade", "impedir a assumpção automática da confiança nas afirmações".

Se isto é verdade, descredibiliza a UnI e Luís Arouca (que já nem precisavam de mais este elemento). Ao fim de semanas de folhetim, só agora LA confirma que não era reitor e até refere o nome dos seus antecessores imediatos, incluindo, espantoso!, um de quem já não recorda o nome.

Se isto é verdade, descredibiliza o então Ministério da Educação e o actual MCTES que, pelos vistos, nunca se lembraram de ir ver quem era então o reitor. Ou não têm esse dado? Até há pessoas no actual MCTES com longo e profundo conhecimento do ensino superior.

Se isto é verdade, descredibiliza Sócrates. É evidente que ele julgava até hoje que o reitor era Luís Arouca, senão, obviamente, ter-se-ia servido de erro tão clamoroso do Público. Mas então, pergunta-se: alguma ligeireza que parece haver na atitude de Sócrates como estudante foi ao ponto de desconhecer quem era o reitor da sua universidade? Que estudante era esse, mesmo descontando que em regime pós-laboral? É o tal exemplo para todos os estudantes, como referiu o seu ministro? E mais: era já um politico, actividade em que a gestão dos conhecimentos, a memória dos nomes e das situações pessoais é muito importante.

Se isto é verdade, descredibiliza o Público. Como ter confiança numa "investigação" jornalística que nunca detectou este erro, coisa tanto mais grave quanto o "facto" de Arouca ser reitor é usado como argumento, por exemplo em relação ao facto de também ter sido professor de Inglês técnico de Sócrates ou de o poder ter favorecido, considerando alegadas relações de amizade, segundo o fax? Algum jornalista, em 2007, perguntou a Arouca se ele era o reitor em 1995-96, ou deu de barato que ser reitor hoje é ter sido sempre reitor? Que confiança pode merecer um trabalho jornalístico em que o verdadeiro reitor nunca foi ouvido?

Por tudo isto, considero esta minha entrada com reservas, tão estranho me parece este caso. Escrevi sempre "se isto é verdade", mas é figura de estilo, porque as declarações confirmatórias são inequívocas: do então reitor, do seu vice-reitor e até de Arouca. Não garanto que não volte a escrever sobre o caso Sócrates, mas vou tentar evitar. Já é lama a mais para estar a sujar as mãos. Também, digo com pesar de quem tem o meu conhecido entusiasmo pela educação superior, tudo isto é uma enorme bandalheira, vai-lhe causar tais estragos que temo que muitos justos venham ainda a pagar pelo pecador.

2 comentários:

Anónimo disse...

O pior cego é o que não quer ver.

Vai estando tudo à vista:

http://braganza-mothers.blogspot.com/2007/04/ontem-foi-divulgado-este-documento.html

JVC disse...

O post de blogue a que António Pereira se refere é altamente perturbador. Se não há manipulação da imagem, o caso é gravísimo. Seria óbvia falsificação de documento pela UnI e Sócrates dificilmente se poderia refugiar em desconhecimento.