18 abril, 2007

Ainda o novo aeroporto


Continua a atormentar-me a questão do novo aeroporto, por razões primordialmente intelectuais ou éticas. Tenho a certeza de que a opção pela Ota é mais do que um mero capricho, segundo as declarações infelizes do ministro? Tenho a certeza de que não vou hipotecar a geração seguinte, talvez por sua vez confrontada com a necessidade surrealista de ainda um novo segundo aeroporto? Até que ponto tudo isto reflecte um predomínio absurdo da ecologia hoje convencional sobre a ecologia humana, multidimensional?

Uma coisa tenho por certa, a Portela está a rebentar, mesmo com desvio dos "low cost" para outro aeroporto. Também não tenho visto discutir uma outra coisa: o passageiro "low cost" termina sempre a viagem em Lisboa? Quantos seguirão para os Açores e para a Madeira (é só vê-los, como eu, nos voos da TAP ou da SATA para as ilhas)? Vão mudar de aeroporto, ou os voos para as ilhas iriam passar a ser só no segundo aeroporto?

Como não sou perito, tenho feito alguns exercícios, a brincar, de mapa do ACP e de imagens do Google Earth, que me deixam confuso. Começo por dizer que só tenho olhado para a margem norte do Tejo, por razões de geografia humana e de economia que me parecem fortes. Comecei por uma atitude muito estupidamente primária. Se eu for pela A1 adiante, o que é que vejo? Uma grande planura entre Vila Franca e o entroncamento da Vala do Carregado, provavelmente sem os problemas de orografia, ventos e navegação da Ota. Pois, mas acaba por ser uma faixa estreita, com o Tejo logo ao lado. Apesar de tudo, são cerca de 7 por 2 km. Só não sei é se a central não está mesmo no centro.

Outra mancha salta logo à vista, no mapa, um quadrilátero limitado pelo Tejo, a oeste, pelo IC11, a norte, e pelas estradas que ligam Benavente, Samora Correia, Porto Alto e Vila Franca. É margem sul, mas com pequena diferença em relação ao norte. No Google, parece-me um descampado, pouco povoado, mas alguma razão deve haver para nunca ninguém ter sugerido esta localização.

Voltam agora a insistir os defensores da margem sul, com as novas hipóteses das Faias e do Poceirão. Por todas as razões, tenho muitas reservas à margem sul. Não é que me preocupem tanto os efeitos do movimento aéreo no bem-estar de uns milhares de passarecos, mas sim o efeito desses passarecos, alguns bem nutridos, na segurança aérea. Diz-me um amigo ligado à aviação que até nem se pode sobrevalorizar o perigo, porque dificilmente um avião cairá por chupar uma ave. O problema é outro. Os danos no motor e os custos económicos são tais que, se o risco fosse avultado, poderia fazer com que muitas companhias nem quisessem vir a Portugal.

Com isto, vou ao essencial, a que se refere a figura. Um dos mais prestigiados ornitólogos portugueses garante-me que é total aldrabice. Ninguém sabe ao certo como é que as aves passam do estuário do Tejo para o do Sado, mas certamente que nunca num corredor tão certinho como aquele, que passa mesmo por Rio Frio mas que, à escala de uma dezena de quilómetros, um milímetro para uma ave, poupa Faias e Poceirão. Haja seriedade!

4 comentários:

Anónimo disse...

Há um assunto que aborda neste seu post, de que discordo frontalmente. Não se prende com escolhas de local para o aeroporto (sobre o que teria algumas observações a fazer), mas com a expressão exacta "Não é que me preocupem tanto os efeitos do movimento aéreo no bem-estar de uns milhares de passarecos". Entendo o seu tom irónico ou jocoso e discordo frontalmente da forma como encara esta situação. Os problemas ecológicos, apesar de parecerem problemas com avezinhas, bichinhos ou até insectos, na realidade são problemas do Homem. Não é com o bem estar das aves que os ecologistas se preocupam, mas com as condições ambientais onde esses pássaros vivem. A morte ou desaparecimento dos tais pássaros/bichos é apenas um sintoma/elemento visível da degradação do ambiente que faz mal aos homens. É por razões indirectas que a eles se referem.

Quero com isto dizer que não estão em causa os ninhos das garças, mas o sistema global onde as garças fazem o ninho e nós vivemos.

Anónimo disse...

«Outra mancha salta logo à vista, no mapa, um quadrilátero limitado pelo Tejo, a oeste, pelo IC11, a norte, e pelas estradas que ligam Benavente, Samora Correia, Porto Alto e Vila Franca»

Não estou a ver muito bem onde é a IC11, mas creio que este espaço é de lezíria pura. Aliás, uma grande parte pertencente à própria Companhia das Lezírias do Tejo. Está quase todo dentro da "Rede Natura 2000»? Ou estou enganado?

Outra coisa que me parece importante realçar nestas "novas propostas" da margem sul, nomeadamente no caso Poceirão e Faia, é a proximidade dos empreendimentos da Portucal (a dos sobreiros do Nobre Guedes) e de Sto Estêvão, não sabendo eu se não haverá por ali mais interesses do BES (algo que os jornalistas deveriam investigar, porque a eles compete fazê-lo). Às vezes estas coisas feitas de forma graciosa (como o estudo do eng. Viegas), podem ter muitos estímulos menos desinteressados. Digo eu.

JVC disse...

Em relação ao primeiro comentário do henrique, dou a mão à palmatória. A redacção foi infeliz. Preetndo foi chamar a atenção pra que um certo fundamentalismo ecológico deve ser moderado por um sentido da ecologia humana que integra o desenvolvimento sustentado e o bem estar pessol e social.

GMaciel disse...

Pelo que sei, e não será tão pouco quanto isso nem tanto quanto alguém mais "qualificado", a margem sul é a melhor opção: pelos custos, bem menores, pelas vias de acesso já feitas e até, ao contrário do que se pretende afirmar, pelo impacto ambiental, menor do que na Ota.
O que subjaz à escolha desta última, há muito é cochichado nos bastidores da política de cartilha, só não o percebe quem gosta ou quer ser enganado.
Quanto ao perigo de colisão com as aves, por essa via teriam de destruir o aeroporto de Faro, nenhum outro causou tão grande e nefasto impacto ambiental e tem igual perigo nesse aspecto - principalmente por ser uma zona que acolhe aves em perigo de extinção.
Resumindo e como diz, muito bem, aliás: deixem-se de tretas e haja seriedade.