11 dezembro, 2007

Aos poetas tudo se perdoa

Como muitos da minha geração e depois, sou um fã incondicional de Chico Buarque. Não só do músico e do cantor, também do escritor. Budapeste é dos romances mais imaginativos e bem escritos que tenho lido ultimamente. isto não quer dizer que não lhe possa fazer uma ou outra crítica.

Numa das versões que tenho do "Fado tropical", logo a seguir a cantar "esta terra ainda vai cumprir seu ideal/vai ainda se tornar num imenso Portugal", ele interrompe para uma coisa falada:

"Sabe, no fundo eu sou um sentimental,
Todos nós herdámos no sangue lusitano
Uma boa dosagem de lirismo.
Mesmo quando minhas mãos estão ocupadas
Em torturar, esganar, trucidar,
Meu coração fecha os olhos
E sinceramente chora"

Chico, torturadores de sensibilidade ternurenta? Admito a liberdade poética, mas esta é demais, para quem viveu o regime dos coronéis brasileiros (ou da PIDE portuguesa).

2 comentários:

Anónimo disse...

O Chico talvez pense que a grande massa brasileira não são coroneis, nem a grande maioria dos portugueses, não são pides.

E que se fosse à força de pides, o brasil provavelmente não existiria, tal conforme é.

Luís Aguiar-Conraria disse...

Chico le esses versos, de facto, mas nao sao dele. Sao de um escritor portugues. Nao tenho a certeza de qual, mas e' provavel que seja o Jose Regio.