"Cada disciplina do básico e secundário deveria ser "monitorizada" por uma instituição universitária, devidamente contratada pelo ministério para esse efeito, com um termo de responsabilidade de cinco a dez anos (renováveis), a fim de poder assegurar estabilidade e capacidade para reformar tranquilamente e corrigir erros. A escolha da instituição (faculdade, instituto, centro, departamento) deveria ser feita após anúncio e concurso públicos. Os candidatos seriam instituições, não indivíduos, mesmo sabendo que é importante que uma instituição tenha um dirigente competente e prestigiado. Uma faculdade de ciências, por exemplo, teria a responsabilidade de acompanhar a disciplina de Física ao longo dos 12 anos de escolaridade. Um instituto ocupar-se-ia de todo o ensino da Matemática do 1.º ao 12.º ano.A ideia é certamente muito bem intencionada e, à primeira vista, não parece absurda. No entanto, tenho fortes dúvidas, como investigador e professor universitário. Que se corrigiriam erros científicos frequentes, que se estabeleceria uma distinção acertada entre o essencial do corpo de conhecimentos e a informação perecível, que se proporiam adequadas aproximações à experimentação, concordo.
Entre os termos de referência, teríamos, por exemplo, a determinação da extensão dos programas, a avaliação dos manuais, a definição do grau de complexidade em cada ano de escolaridade, a progressão disciplinar ao longo do percurso do aluno e eventualmente a elaboração de provas nacionais. Competiria também a essa instituição notar os resultados das avaliações internas e dos exames, advertir escolas, analisar o êxito e o insucesso, fazer recomendações para a formação de professores, elaborar normas e regras pedagógicas. Tudo no quadro de uma disciplina e não no âmbito de ambiciosas e inúteis reformas globais e integradas do sistema. "
Já o seu segundo parágrafo me parece pecar por alguma arrogância universitária. A educação básica e secundária é muito diferente da superior, dirige-se a crianças e jovens em fase de construção da aprendizagem geral, tem condicionantes pedagógicas de natureza etária muito específicas. Se me pedissem para participar nesse trabalho proposto por António Barreto, responderia honestamente que não sou capaz.
Os departamentos universitários científicos não dispõem de pessoas com esta formação pedagógica. Em contrapartida, aos de ciências da educação falta a componente científica disciplinar. Concordando com António Barreto na sua preocupação de uma eficaz monitorização, sugeria outras entidades que, muitas vezes, conjugam ambas as competências: as sociedades científicas, nomeadamente aquelas que não se restringem a investigadores científicos. Ainda por cima, em muitos casos, têm dado contributo público à critica dos desmandos programáticos.
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