As críticas dirigidas a esta forma de avaliação e informação são, em maioria, verdadeiras. Os rankings não explicam as causas das situações verificadas. Não têm em linha de conta os contextos sociais e geográficos das escolas. Passam ao lado de várias realidades, como sejam os números reais de alunos e de candidatos a exames. São indiferentes a certo tipo de manipulações que se podem fazer, como seja incluir ou excluir certo tipo de alunos (adultos, repetentes, trabalhadores) e de cursos (nocturnos, profissionalizantes), o que pode alterar radicalmente o lugar de uma escola. Não consideram as situações reais de vida de uma escola e de uma comunidade, como sejam as actividades económicas, as condições de exercício dos docentes (nomeadamente a estabilidade, a experiência e a residência) e as características dos equipamentos e dos edifícios. Tudo isso é verdade. Mas nada disso retira definitivamente valor a estas classificações. Se não se lhes pedir demasiado e se não se considerar que são a última palavra da avaliação, são elementos de conhecimento insubstituíveis.Destaco um parágrafo, também sem necessidade de comentários, porque estou em inteiro acordo:
(…)
Há outras críticas bem mais risíveis e que quase não merecem ser consideradas. Por exemplo, aquelas que referem as vaidades e os traumas criados em consequência da publicação. As escolas bem classificadas ficariam arrogantes, enquanto as do fundo da tabela ficariam deprimidas e sem energia para recuperar. Também há os que dizem que a educação é um processo social delicado e sério de mais para que se façam classificações ou se provoque a concorrência. Acrescentam que a competição é negativa e prejudicial à boa pedagogia.
(…)
Aquando da publicação dos rankings, a grande excitação que aflige jornalistas e leitores diz respeito à comparação entre escolas públicas e privadas. Estas últimas ganham quase sempre, o que provoca imediatamente umas reflexões vencedoras dos respectivos defensores e umas azedas réplicas dos seus adversários. Também neste domínio os rankings não são de grande utilidade. Na verdade, a posição relativa das públicas e das privadas está falseada à partida. O recrutamento de docentes e de alunos dos dois tipos de escolas é desigual desde a origem. Natural será que os resultados traduzam essa desigualdade fundamental. Ora, os rankings são indiferentes a essa desigualdade. De qualquer modo, convém notar que, no conjunto, as diferenças de médias entre todas as públicas e todas as privadas não traduzem uma vantagem esmagadora: são mínimas.
Mas o que é verdadeiramente interessante na publicação destas classificações são outras informações menos "picantes", mas bem mais reveladoras do estado da nossa educação. As médias nacionais dos exames das cerca de 600 escolas secundárias são certidões de fiasco e de desastre insubstituíveis. Com efeito, a média nacional das duas provas de Matemática, em todas escolas, é de 6,8 para uma prova e de 8,1 para outra. Quer dizer: 90 por cento das escolas exibem notas inferiores a 10, isto é, chumbam! Em Química, a média situa-se entre 7,3 e 8,8. Em Português, entre 9,5 e 11,8. Em Física, entre 8,5 e 8,7. Em Biologia, 11. Em História, entre 8,4 e 9,4.Ainda outra judiciosa observação:
Outra observação importante é a das diferenças entre as classificações internas atribuídas pelos professores aos seus alunos (um misto de testes e de avaliação contínua) e as conseguidas nos exames nacionais. Com raras excepções, as notas internas são sempre muito mais elevadas do que as dos exames. Em média de escola e por disciplina, as diferenças chegam a atingir 5 e 6 pontos numa escala de 20. Há mesmo casos em que a diferença pode chegar aos 10 valores. Por outras palavras, alunos que obtêm notas dos seus professores de 10 a 14 ficam-se, nos exames nacionais, pelos 5 a 9!Os números são indiscutíveis, mas não as causas. O que está mal, a avaliação contínua ou a avaliação final pelos exames nacionais, ou ambas? Não estou em condições de a discutir, mas estou certo de que é matéria que merece estudo sério. Estão em jogo o futuro de muitos jovens, a qualidade do acesso à educação superior, a garantia de qualificação dos nossos quadros aproveitando potencialidades reais e não formais.
Finalmente, passagem para a educação superior. Com uma cultura de avaliação já consolidada, critica os rankings, porque a avaliação é essencialmente qualitativa. Isto é possível em relação a umas dúzias de instituições, mas é-o em relação a centenas ou milhares de escolas? No entanto, há um aspecto da avaliação em que a educação superior está em atraso, em relação ao novo ECD: a avaliação individual dos professores.
1 comentário:
Sobre esta discussão, gostava de chamar a atenção para o facto de estarmos a falar de dois subsistemas com capacidades muito diferentes. Num universo total de mais de 170 mil provas realizadas anualmente, o sistema público "serve" mais de 150 mil provas enquanto que o sistema privado "serve" pouco mais do que 20 mil.
Facilmente se constata que é irrealista qualquer comparação dos dois subsistemas em termos da satisfação das necessidades de formação ao nível secundário.
Sob este prisma, vale a pena referir que o aluno nº 1000 colocado no ensino público está numa escola com melhor ranking do que o aluno nº 1000 colocado no ensino privado. Aliás, uma análise mais detalhada demonstra que a partir do aluno 800 de cada subsistema, as escolas públicas estão sistematicamente mais bem classificadas no ranking global
É sempre importante realçar que os rankings são uma peça útil de informação pois permitem comparar o comparável. No entanto, é importante evitar a sobrevalorização e, em particular, a má utilização desta ferramenta.
Sérgio Nunes
PS: Caro JVC, creio que é uma limitação, obrigar os utilizadores a fazerem um registo prévio junto do Blogger para poderem comentar aqui.
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