Obviamente, não dispenso hoje a net. Com algum sentido crítico e com alguns controlos de qualidade (avaliação da origem da informação, comparação com outras fontes, etc.) é nela que acabo por encontrar mais facilmente a informação que desejo, em vez de horas de procura nos meus livros e papéis. Isto fora o acesso gratuito ou muito barato a jornais estrangeiros em que estou já viciado, à leitura de grandes articulistas, à obtenção de leis que antes tinha de pedir a amigos da função pública, como fotocópias, ou até à reserva de hotéis, de voos, de compra de livros e tanto mais. Tudo isto, evidentemente, já é lapalissada.
No entanto, não há bela sem senão. Hoje dei por um caso exemplar. Ainda ontem tinha recebido um mail de uma amiga minha, culta, bem informada e socialmente muito responsável, a alertar-me e a convidar-me a protestar contra a delapidação de azulejos de Maria Keil em estações do Metro. Esta mensagem via-se que resultava de uma grande cadeia de “forwards”. Hoje, Júlia Coutinho chamou-me a atenção para o abuso que isto representava em relação a uma entrada do seu blogue “As causas da Júlia”. Como não nos conhecemos pessoalmente e nunca nos tínhamos correspondido, imagino que ela deve ter enviado isto a muitos bloguistas. O trabalho que deve ter tido. Mas recomendo que não deixem de ler o seu texto a que me refiro. É um bom exemplo de honestidade e rigor intelectual.
A blogosfera começa a saturar-me e cada vez menos leio blogues. A maioria dos blogues políticos são colecções de “sound bites” ou manifestações de indignação virtuosa, apaixonada e sem objectividade. Os culturais são pobres. Ficam alguns temáticos. Mesmo assim, começo a notar que a leitura e escrita de blogue me prejudicam em relação ao estudo e escrita mais elaborada sobre temas que me são caros e em que penso que posso contribuir com alguma reflexão. Fico também com a impressão de que isto é um exercício um pouco circular, como vejo pelos comentários. Comparando com o número de visitantes, e principalmente com a lista de visitantes regulares, parece-me claro que estou a escrever principalmente para leitores que já pensam como eu, que não têm tempo para comentários de simples concordância, do estilo que por aí se vê, “que lindo, muitos beijinhos”. Aliás, é a minha experiência como leitor de blogues que raramente faz comentários e que, se os faz em relação a coisas que me merecem reparo, ficam submersos no coro de apreciação amiguista.
Esta de comentários evoca-me um exemplo paradigmático, o dos comentários a notícias do Público “online”. São instrutivos. Na sua esmagadora maioria, são desabafos de protesto emotivo e irracional, de mal-dizer, de processos de intenção, de calúnia generalizada sobre a política, a sociedade, o país. São de um primarismo indigente, de óbvia deficiência cultural - a julgar pelos erros de português. Não sei o que o jornal ganha com isto. Minto, estou a ser ingénuo. Deve dar-lhe muitos visitantes ao “site”, coisa que os anunciantes apreciam.
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1 comentário:
Interessante como consigo rever-me nas duas faces desta moeda. Interessante e preocupante, acrescento antes que o caro JVC o faça.
A disponibilidade vai escasseando, a vontade fica por isso mesmo, quer de ler, quer de escrever, e a inutilidade do que escrevo encaixa perfeitamente na pobreza que descreve. Então, porquê criar e sustentar um blogue? Pessoalmente e como transcrevi como subtítulo do meu, “e eis que tudo era vaidade e um esforço para alcançar o vento”. Sendo verdade a meu respeito, atrevo-me a pensar que o será igualmente em relação a muitos outros autores de blogues.
O problema é que quem lá cai por acidente não tem culpa disso, pois não?
:)
Abraço corisco
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