Há quase 30 anos atrás visitei a Grã-Bretanha, em especial a sua capital, Londres. Um dos locais que me levaram a conhecer foi o conhecido
Speakers' Corner, um bastião da liberdade de expressão de uma das mais velhas democracias do mundo. Nos dias de hoje com o aparecimento da Internet, em particular com o advento dos blogues, é difícil perceber a importância que o Speakers' Corner outrora desempenhou.
Uns dos aspectos que me chamou mais a minha atenção eram as provocações que alguns dos ouvintes faziam aos oradores. Aproximavam-se da pequena multidão que rodeava um palestrante, em poucos minutos apercebiam-se da sua linha de argumentação e disparavam duas ou três perguntas embaraçosas, divertindo-se a ver como ele se desenvencilhava. Ao fim de pouco tempo desapareciam e iam escolher outra vítima das suas incursões.
Fui deambulando pelo local ouvindo várias intervenções, umas mais interessantes do que outras, e acabei por me deter a ouvir um velho orador a defender as virtudes do anarquismo. A sua voz não era exaltada, ao contrário de outras que tinha escutado, nem o seu discurso tinha nenhuma tonalidade profética. Ao fim de algum tempo vejo aproximar-se uma pessoa que, vim a descobrir depois, era um dos provocadores de serviço. Interrompendo a prelecção perguntou-lhe em tom um pouco agressivo:
‒ É corruptível por dinheiro?
O velho anarquista cofiou as suas longas barbas brancas, levantando os olhos em busca de inspiração. Sabendo da aversão dos anarquistas pelo dinheiro olhei para o orador à espera da sua resposta. Depois de alguns segundos ele respondeu tranquilamente:
‒ Por dinheiro julgo que não. Mas talvez fosse por uma boa refeição…
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