Alguns comentadores e blogues têm desvalorizado o episódio de Sócrates a fumar no avião, como coisa menor relativamente a grandes problemas do país. Não estou de acordo, não penso que seja coisa menor um primeiro ministro não conhecer uma lei aprovada há relativamente pouco tempo pelo seu governo, uma lei muito mediática e que causou grande discussão.
Mas não é disto que quero falar, antes de um aspecto que ainda não vi comentar, a grande aposta política de Sócrates no meio deste caso. Vai deixar de fumar. Pode parecer coisa também sem importância, mas ou muito me engano ou ainda vamos ouvir falar disto.
Toda a gente sabe como é difícil deixar de fumar. É preciso muita determinação e força de vontade e é relativamente alta a percentagem dos que não conseguem ou voltam mais ou menos rapidamente ao vício. Como ex-fumador, ainda hoje vejo como tenho por vezes uma saudade quase irresistível da minha cigarrilha, ano e meio depois de ter deixado de fumar. No entanto, passei por muitas viagens longas, congressos, reuniões de dia inteiro, em que não podia fumar e aguentava. Ora quem não aguenta uma viagem à Venezuela e se expõe sabendo que não é propriamente o Zé da esquina desconhecido, vai conseguir facilmente deixar de fumar?
Não conhecemos todos casos mais ou menos caricatos dos que, tendo anunciado deixarem de fumar, acabam depois por se esconder em qualquer canto, ou ir dar uma voltinha, para não serem apanhados na quebra da intenção? Imagine-se um primeiro ministro, comprometido por essa sua declaração, ser apanhado a fazer uma figura dessas, a mostrar que afinal não tem a força de vontade que tanto cultivou como imagem de marca. Coitado, muito vai sofrer o engenheiro, mais do que para tirar o curso. Mas fica a aprender um velho ditado: as galinhas só cacarejam depois de pôr o ovo.
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2 comentários:
Quando José Sócrates afirmou que ia deixar de fumar pensei imediatamente que este era o aspecto central da sua declaração. O primeiro-ministro sempre manteve a sua vida pessoal ao abrigo das atenções mediáticas. Pela primeira vez confundiu os dois planos. No plano político foi uma declaração desastrosa. Espero bem que não se repita. Não gostaria de ver o sistema político português a copiar o que existe a um nível insuportável na política americana.
"Não gostaria de ver o sistema político português a copiar o que existe a um nível insuportável na política americana."
Que vivam os que pecam. Sobretudo quando o fazem atrás duma cortina. O vício solitário é tão bom. Como é gostoso ter um dever e não o cumprir.
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