Ainda ninguém me convenceu de que o acordo ortográfico vai ser uma desgraça e a nossa submissão ao país que “ainda vai ser um império colonial”. Também ainda ninguém me convenceu de que o acordo ortográfico é essencial para a afirmação da nossa língua. Eu passei anos de vida profissional a escrever diferentemente o inglês para revistas americanas e para revistas inglesas e não são assim tão poucas as diferenças. Será por isto que o inglês é língua hoje tão irrelevante?…
O que mais estranho por bizarro é o argumento do respeito pela etimologia. Se assim fosse, nunca estaríamos a escrever como hoje, depois da reforma de 1911. Nem os italianos teriam cometido o “crime” do abandono do h, por exemplo, em “uomo”. A ortografia é simples convenção e como tal deve ser prática. Claro que pode haver os países tradicionalistas que mantêm ortografias seculares, complicadíssimas, como os de língua inglesa. Mas repare-se que não são estúpidas as suas criancinhas, não precisam de acentos para saber acentuar as palavras. No campo oposto, uma língua como o russo para a qual só muito tarde foi criado o alfabeto cirílico. Quem aprende as regras básicas sabe interpretar qualquer texto, porque a relação letra-som é quase inequívoca. Por isto, tem bastante mais letras do que o nosso alfabeto, para identificar ditongos ou sons como o nosso "nh".
Hoje, ainda por cima, as peculiaridades ortográficas têm significado tecnológico, e tempo é dinheiro, até a teclar no computador. Não seria bem mais barato apenas um tipo de teclado? Em português, passaria a fazer corresponder cada som apenas a uma letra. Abro excepção para ão, õe, nh, lh, rr entre vogais e para o n anasalante. Também, por algum sinal de respeito para com a tradição, para o s final do plural, senão ficava todo o texto cheio de j.
Aqui vai um exemplo de uma reforma ortográfica radical.
“Xamo-me João, sou asoriano, coisa importante para estas istorias, tenho sesenta anos saudozos das orijens e presizo de ejcrever. Acordo tarde e mal dormido, com o gato Peugas a cosar-se-me nas pernas. Comeso por pensar e no cafe e na sigarrilha ce me faltam dejde a vejpera, leio o jornal, cuantas vezes para meu dejgojto e vejo o correio eletronico. Faso planos para o dia, coizas bem ordenadas, do arrumar o ejcritorio ao tratar de um dejleixado asunto bancario, do corte de cabelo ao preparar uma aula. Vão falhar as boas intensões, ja sei, porce persebo ce presizo de ejcrever. “
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Olhe professor, por mim, o acordo pode ou nao entrar, ate pk eu vou continuar a escrever como sempre escrevi desde a primaria... e dando os habituais erros ortograficos.
Enviar um comentário