26 maio, 2008

Chumbos

Há pouco, tempo, esboçou-se uma polémica sobre os “chumbos”, motivada por um artigo no Público (14.5.2008) em que o autor questionava sobre se “chumbar é retrógrado?”, defendendo que não: “Entendamo-nos: a missão da escola é ensinar a todos os alunos que a demandam aquilo que está previsto. Mas a sua responsabilidade também é certificar, para utilização da sociedade, o conhecimento que os jovens aí adquirem. Dizer que o possuem sem o terem é uma fraude. Ora o discurso demagógico e pouco claro da ministra, a este propósito, parece fazer a apologia dessa fraude. O problema de gestão educacional com que nos confrontamos é o de saber como fazer para que cresça o número dos que realmente aprendem o que é suposto aprender e não abolir os chumbos, por serem retrógrados. Muito do que politicamente este Governo tem decidido não se orientou para a maior e melhor aprendizagem dos alunos.”

Em resposta, Rui Pena Pires, no blogue Canhoto, defende que, sendo o ensino obrigatório e havendo que optimizar o uso dos recursos, mais vale gastá-los na recuperação pedagógica do que no financiamento das repetências.

Tendo a concordar com esta opinião, mas até certos limites. O meu filho mais novo teve uma colega na então escola primária que já tinha 15 anos. Há alguma recuperação possível? E quais são os efeitos de fazer conviver crianças de idade normal na sua escolaridade com outras muito mais velhas, potencialmente dominadoras e transmissoras de comportamentos e atitudes que podem justificar o seu atraso?

Isto vem a propósito da educação superior. Julgo importante que não se globalize esta discussão dos chumbos. Segundo RPP, em relação à educação superior, "a escola deve substituir o chumbo pela selecção à entrada e por formas de acompanhamento, nomeadamente tutorial, incrementando as possibilidades de sucesso dos seus alunos em vez de delapidar recursos com percursos de insucesso".

Mas porque é que se há-de sequer considerar a possibilidade de percursos de insucesso? A educação superior não é obrigatória e gratuita, serve para formar elites, traduz-se em vantagens privadas muito consideráveis. Neste caso, parece-me ser de exigir o maior rigor quanto ao aproveitamento escolar. É verdade que há o conceito de estudante elegível, mas com efeitos só no financiamento porque as instituições (medo dos estudantes?) são muito benignas quanto a prescrições. Como provocação, digo que só permitiria, condescendendo com factores imponderáveis, a conclusão de um curso em apenas mais um ano do que a duração normal.

Nota - A propósito de notícias recentes sobre o julgamento de um caso de praxe burgessa, é de lembrar que a praxe, com a valorização do “veterano”, deriva da mesma cultura de irresponsabilidade, de cabulice, de desprezo pelo esforço nacional, de todos os contribuintes, para a educação superior de alguns.

1 comentário:

Jaime Carvalho e Silva disse...

"Tendo a concordar com esta opinião, mas até certos limites. O meu filho mais novo teve uma colega na então escola primária que já tinha 15 anos. Há alguma recuperação possível?"
Esta argumentação é falaciosa. Num sistema sem repetências todos os alunos de cada turma terão a mesma idade (com flutuações mínimas). A esmagadoria maioria dos países ocidentais investe na recuperação com formas diversas. Nós (quase) só chumbamos e dizemos aos alunos para ouvirem de novo tudo, da mesma maneira, desde o princípio do ano, com colegas que não conhece. Claro que nessas circunstâncias será de esperar nova reprovação até se chegar ao abandono escolar.