Ao longo da semana, lendo o Público, sou confrontado com diversos colunistas. Um dos mais prezados é São José Almeida. Conheci-a há muitos anos, quando era uma jovem jornalista de serviço às reuniões politicas. Entrevistou-me várias vezes como porta-voz do MDP e lembro-me da sua acutilância e visível simpatia por tudo o que fosse novidade em relação à nossa esquerda esclerosada.
Li hoje com muito agrado a sua crónica do Público, "2005". Fala das presidenciais e, embora não explícita, a sua tese parece-me ser a de que o mais relevante é conhecermos a "visão de Portugal" de cada candidato. Inteiramente de acordo.
Tenho desta campanha que é um pouco uma conversa de surdos e em sítios aparentemente não intersectantes. Num canto, discutem-se já cansativamente os poderes presidenciais, que parecem reduzidos ao magistério da palavra e da influência. Noutro espaço, como se não tivesse nada a ver com este, a afirmação de propostas concretas: a Ota e o TGV, o risco da privatização da água, a segurança social, a privatização ou não do serviço nacional de saúde. Ainda noutro, as interferências directas na acção governamental, como a ideia cavaquiana de um secretário de estado para acompanhamento dos investimentos estrangeiros. Lugar geométrico comum, o vazio do que mais importa e a que São José Almeida alude, são as declarações balofas. Isto deixa grande margem para a decisão eleitoral fútil: melhor sorriso, gravata mais à moda, mis telegenia.
Vou partir de um pressuposto que não parece merecer mais discussão: o principal poder do PR é o da influência. Então, isto depender da sua convicção, firmeza, capacidade de persuasão, mas tudo isto é adjectivo. Substantivo é o que tem de estar por detrás, como visão de Portugal no mundo. Claro que isto não é um programa politico, é a visão político-cultural que queremos conhecer quando o PR discute com o primeiro ministro ou com outros dirigentes mundiais: qual é a sua visão da ordem mundial? da globalização? do papel de Portugal no "mundo plano"? das relações UE-lusofonia? da antevisão do novo mundo BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China)? da imensidão das perspectivas das ciências da vida? e, mais proximamente, dos nossos grandes problemas actuais, a integração dos imigrantes, a pobreza, a inclusão na educação, as ameaças ao estado social, a desertificação de metade do território nacional, a destruição do património cultural e ambiental, sei lá que mais?
O PR tem muitas palavras a dizer. Mas quero saber com que filosofia e visão política. Por isto, aqui ficam estas questões.
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