Manuel Alegre (MA), tendo iniciado a série de debates com Cavaco, esgotou, nesta fase, o combate pelo centro (isto sem considerar tudo a que a campanha ainda vai ser). Creio que MA percebeu muito bem que estas eleições, ao contrário do que parece, não vão ser de polarização esquerda-direita e, nesse debate, esteve muito bem a dirigir-se ao outro grande grupo, o centro, a que eu prefiro chamar o pântano, de acordo com a velha sabedoria politica francesa (o "marais"), ou o "centrão", à brasileira.
Desde as eleições presidenciais de 1996, Sampaio-Cavaco, nunca mais tivemos ideia segura sobre o que é a sempre alegada maioria de esquerda em Portugal. Por exemplo, querer extrapolar os resultados de maioria absoluta do PS nas últimas legislativas é um erro, porque essa maioria comporta muito do pântano, movendo-se sempre conjunturalmente, naquele caso por rejeição do inefável Santana Lopes. Mesmo em 1996, Cavaco não fixou o pântano, que se lembrava dele como primeiro ministro. Essa mesma volatilidade se passará agora, mas, lamentavelmente para mim, creio que será Cavaco a conquistar as águas lodosas.
A minha expectativa de "wishful thinking" está numa segunda volta. MA e a sua equipa não precisam de conselhos, mas não resisto. A postura correcta que MA mostrou no debate com Cavaco não me parece a fundamental, na primeira volta, embora a deva manter. Deve ficar para a segunda. Agora, o objectivo, difícil (cuidado com o entusiasmo com as sondagens!) é o da passagem à segunda volta. Para isto, tenho o palpite de que o pântano contará pouco e que o combate é claramente à esquerda.
A meu ver, para além de uma fracção do eleitorado PS, cujo peso desconheço, julgo que MA vai ter de captar muitos milhares de eleitores na minha situação, de todas as idades (atenção, o discurso tem de ser variado e adaptado a essas gerações): esquerda independente, incapacidade de se reverem nos projectos actuais, desgosto com a vida politica dominada pela partidocracia medíocre, grande exigência de ética republicana, abertura mental às grandes mudanças que desafiam a cristalização ideológica, importância dos temas transversais (ambiente, minorias, diferença sexual, etc.). Neste sentido, aguardo com muita expectativa os debates de MA com Jerónimo de Sousa e, hoje, com Francisco Louçã.
Mis difícil vai ser o debate com Soares. Adivinho-o como um jogo de futebol em que um bom árbitro teria de mostrar meia dúzia de cartões vermelhos (espero que não a MA). É claro que será decisivo, porque é a disputa pelo eleitorado do PS. Como não o conheço bem, não vou dar palpites.
Finalmente, uma provocação. Parece-me uma posição de fragilidade a candidatura contra os aparelhos e a manutenção da sua situação de membro de um aparelho. Acho que MA devia ter suspendido toda a actividade politica partidária. Mas vou mais longe. Com esta lógica de candidatura, não devia MA declarar que a sua candidatura é uma rotura clara com a lógica politica em que esteve inserido até agora e que, por isto, sejam quais forem os resultados e as consequências, não regressa a ela?
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