27 dezembro, 2005

A Ota e o TGV

Interrompo esta série de entradas sobre as presidenciais para algumas notas, muito difíceis, sobre os megaprojectos Ota e TGV. Digo difíceis porque o assunto envolve aspectos técnicos de grande complexidade, que me ultrapassam, apesar de, nos últimos tempos, ter lido todos os estudos acessíveis. Apesar deste problema, o investimento é de tal montante e tão irreversível que ninguém, como cidadão, se pode manter alheio.

Começo pelo TGV. Contra muitas opiniões certamente mis abalizadas, não dou importância à linha Lisboa-Porto. Viajo frequentemente nos alfas e tenho normalmente a curiosidade de ir acompanhando as informações sobre a velocidade. Verifico que em boa parte da linha, a velocidade ultrapassa os 200 km/h. Muito menor é entre Porto e Aveiro e na aproximação a Lisboa. Com a correcção destes troços, não se conseguiria um tempo de viagem competitivo com o TGV, em termos de custos-benhefícios? Se estimar (é mero palpite) que o bilhete do TGV vai custar 1,5 vezes o do alfa, certamente que nunca viajarei no TGV para encurtar meia hora a duração do trajecto. Com o jornal ou um livro, nem dou por essa meia hora.

Admito que seja diferente a questão da linha Lisboa-Madrid. Hoje vou lá menos, mas cheguei a fazer mais de meia dúzia de viagens por ano. Uma hora no aeroporto de Lisboa, uma hora de voo, uma hora de autocarro para Colón, é quase o tempo de uma vigem de TGV. Depois, a questão da carga, de que só posso falar como amador. Julgo que uma ligação de Sines ao TGV Lisboa-Madrid é importante. Isto justifica, IMHO, o trajecto do TGV pela margem sul do Tejo (o que reforça a minha reserva em relação à linha Lisboa-Porto, com uma grande volta para além Tejo, com entrada em Lisboa pela nova ponte - mais um investimento caro).

Passo ao novo aeroporto, mas neste contexto. Novamente, não conseguindo dominar os estudos, vou falar como simples passageiro, e em notas soltas.

1. A pretensão de fazer de Lisboa um hub rival de Madrid parece-me uma fantasia. Creio que um hub ibérico só pode viver do tráfego americano (mas como rivalizar com Londres, Paris ou Frankforte?) ou do tráfego sul-americano. Aqui, temos o Brasil, mas que peso terá em relação ao movimento para a Europa de todos os países de língua castelhana, do México à Argentina?

2. Parece-me notório que, para além do governo e dos investidores, a Ota só é defendida principalmente pelo lóbi do Centro. No Norte, receia-se que esvazie Pedras Rubras. Em Lisboa, para além dos utentes habituados ao aeroporto às portas, protestam os operadores turísticos.

3. Como utilizador, a Ota parece-me uma aberração. Viajo muito para a Madeira e para os Açores. Meia hora para chegar ao aeroporto, mis uma hora no aeroporto. Agora, vou ter de acrescentar mais pelo menos meia hora para chegar à Ota, com grandes riscos de perder o avião se não contar com meia hora extra.

4. Mas também não me satisfaz a manutenção da Portela. Não falo de aspectos técnicos, mas de duas notas pessoais. Só ouço falar de expansão das pistas e parqueamentos de aviões, não da aerogare, coisa apertadíssima, com gente a acotovelar-se, meia hora para passar o controlo de bagagens. Por outro lado, confesso sentir sempre uma certa angústia a sobrevoar toda a cidade a poucas centenas de metros de altitude.

5. Por tudo isto, e também relacionando com o TGV, desejaria um novo aeroporto, mas na margem sul e muito mais próximo do que a Ota. Vou admitir que os estudos que condenam Rio Frio são correctos e que Montijo também levanta graves problemas ambientais e riscos de voo, por causa das aves. Mas do campo de tiro de Alcochete ninguém diz nada. É tabu? Para treino da nossa vestigial força aérea ou por compromissos com a Nato?

Hoje, estão disponíveis muitos estudos. Só os técnicos os conseguem ler e, mesmo assim, com a diversidade de opiniões que se tem visto. O que eu gostaria era de respostas claras, para leigo, sobre questões típicas do cidadão e do utilizador, como as que apresentei.

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