Esta campanha tem sido muito pautada pela contradição entre as expectativas de acção presidencial e a ideia da limitação dos poderes presidenciais. Falando agora no que julgo ser o trio principal, as diferenças são notórias. Soares, evocando uma antiga ideia do seu magistério de influência, nunca provado, nacional e internacionalmente, refugia-se no discurso do discurso. O apelo à afectividade tem limites! Alegre fica a meio termo. Respeita os poderes constitucionais mas numa visão substantiva da Constituição. Adiro, embora com receio de consequências politicas práticas indesejáveis.
Cavaco é um caso flagrante de gato escondido de rabo de fora. Fala com aparente conhecimento dos poderes constitucionais do PR, mas tropeça todo o tempo no que provavelmente deseja, continuação noutro cargo da sua experiência de primeiro ministro. A última asneira, sobre um secretário de estado a acompanhar as empresas estrangeiras, é sublime. Nem se trata de interferência com o poder legislativo, em geral, é uma intromissão no privilégio mais exclusivo do governo, o da sua organização interna. Até gora, eram os seus apoiantes a defenderem uma deriva presidencialista, agora é ele próprio.
Mas dou agora a palavra ao Zé Povinho. A questão do nosso regime de presidencialismo dual tem sido muito discutida por constitucionalistas. Quantos os lêem? Não será que, na crise politica e num sentimento generalizado de orfandade política e cívica, o povo quer um D. Sebastião aureolado de "misticismo político" (a memória é curta e a imagem do péssimo primeiro ministro Cavaco já se foi)? Com uma relativa excepção de Manuel Alegre, ainda não vi os outros candidatos agirem em função deste redencionismo que, provavelmente vai decidir muitos votos. E creio que esses votantes não se preocupam nada com o sistema constitucional de poderes.
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