28 janeiro, 2006

Os dislates do rescaldo

Nos últimos dias, tenho lido coisas espantosas, como comentário aos resultados das eleições presidenciais. Não fosse o humor fino (muito pouco correspondido nos comentários) de Luís Aguiar-Conraria em "A destreza das dúvidas", ficaria confrangido. O pior exemplo é o incrível escrito de José Medeiros Ferreira, no "Bicho carpinteiro". Lamento pessoalmente, por ser um velho amigo. "Merece" transcrição:
"Muitos foram os que declararam que dormiriam bem com qualquer PR que fosse eleito. A declaração soporífera foi a mais das vezes feita por gente de esquerda a apresentar o seu atestado de sabedoria democrática.
Contados os votos, e numa interpretação selvagem, só os setecentos mil em Mário Soares parecem sólidos em termos de defesa do regime democrático representativo. Do mais de um milhão que cifrou Manuel Alegre, por muito cívicos que sejam, ninguém saberá quantos se apresentariam para soerguer o sistema de partidos.Os populistas que levaram Cavaco Silva aos ombros, desde que este escondesse os apoios do PSD e do CDS-PP, também não morrem de amores por aparelhos partidários e gostariam de ver o PR eleito ao leme. Embora Jerónimo de Sousa tenha andado de Constituição na mão, ninguém em consciência acha que se deve pedir aos comunistas que sejam convictos defensores dos regimes pluralistas, representativos e ocidentais, ou meramente europeus. Descontados esses quatrocentos mil votos, resta-nos os trezentos mil de Francisco Louçã cuja estadia no pórtico do sistema não permite um sono prolongado ao relento.
Agora já podem ir para a cama."
Mal vai uma democracia cuja defesa só assenta em setecentos mil votos. Como eleitor de Manuel Alegre, sinto-me ofendido por esta minha exclusão da defesa sólida da democracia. O que me vale é conhecer, desde os nossos tempos de liceu, o gosto de JMF pela "boutade". Ou estará a falar a sério?

Sem comentários: