Numa das nossas universidades em crise financeira, está a decorrer um processo de nomeação definitiva de um professor auxiliar. Parece-me evidente que é crítico que, no processo de negociação do contrato de saneamento financeiro, a universidade dê provas do maior rigor, não obstante, mesmo até muito recentemente, ter mostrado um certo laxismo nesta matéria.
Segundo me dizem, o caso nem merece dúvidas, por uma simples leitura do currículo. É assim que se procede em toda a parte evoluída, em que um avaliador sabe muito bem o que e como avaliar, sem peias burocráticas. Entre nós, não. Já estive em júris em que se gastaram horas a discutir critérios, grelhas, coeficientes, sei lá que mais.
Neste caso, aparece um critério estranho, que na prática até nem adiantou nada: pertencer ou não a um centro reconhecido pela FCT. Os malefícios dos centros já chegaram à avaliação curricular. O que adianta pertencer a um centro? Eles são avaliados pela produção global, sem tradução na avaliação individual. Um professor pode pertencer a um centro e não fazer nada e outro - conheço muitos - ter um bom currículo, por exemplo com base em projectos apresentados pelo seu departamento e não por um centro.
Há ainda outra perversidade neste critério. Os membros dos centros perpetuam-se no poder de decidir quem é ou não membro. Tudo funciona como um clube exclusivista, porque convém aos membros, para efeitos de avaliação e financiamento plurianual, que se mantenha um nível geral de qualidade. No entanto, os membros mais activos dos centros, muitas vezes pouco interessados nas questões institucionais da universidade (leia-se, por exemplo, os problemas do departamento), podem votar facilmente a contratação de um professor medíocre mas depois recusar a sua inclusão no centro. É por isto que os departamentos têm duas classes, a primeira de membros dos centros, que investigam, e a segunda, dos excluídos, que acabam por só se interessarem pelo ensino (e que ensino, por parte de quem não faz investigação?).
Assim, nada justifica o tal critério de inclusão num centro. E, como já tenho escrito e reescrito, nada justifica hoje centros paralelos à orgânica universitária. A menos que se tenha saudades do feudalismo, coisa que alguns até defenderam que nunca existiu em Portugal.
18 junho, 2008
Os malefícios dos centros
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
1 comentário:
Caríssimo Professor João Vasconcelos:
Vim dar nas costas do seu blog, náutica da Internet. Surpreendi-me com a riqueza de imagens e conceitos e acabei citando-o num post do meu sítio.
Voltarei ao seu Bloco de Notas com mais tempos para ler todas. Até porque precisamos ser solidários aos epicuristas escorpiônicos, não é mesmo?
Grande abraço,
Enviar um comentário