Os mais familiarizados com as universidades tradicionais inglesas sabem que a sua figura máxima é o chanceler. Só depois vem o vice-chanceler, a autoridade académica, para todos os efeitos equiparável ao nosso reitor. O chanceler não é membro da universidade, tem uma posição simbólica e honorífica, embora de forma alguma desprovida de poderes, e é geralmente uma personalidade de topo da vida política, social ou cultural britânica. O chanceler de Cambridge é o príncipe Filipe e o de Oxford é lord Patten, o último governador de Hong Kong e ex-comissário europeu.
A honra de se ser chanceler, bem à anglo-saxónica, não dá benefícios, muito pelo contrário, paga-se. Muito recentemente, segundo uma notícia do Guardian, lord Patten, perante crescentes dificuldades da universidade, tomou posição pública sobre aspectos políticos importantes, coisa rara, uma “bomba atómica” que um chanceler reserva, empenhando o seu prestígio, para ocasiões muito graves. Entre outras coisas, tratava-se do subfinanciamento público crescente (lá como cá) e da dificuldade de aproveitamento de estudantes de alta qualidade, por a saída do secundário estar a ser medíocre.
Outro aspecto interessante da notícia é que lord Paten escolheu para se dirigir e lançar uma campanha de recolha de fundos foi uma reunião muito concorrida de antigos alunos (“alumni”). Não temos nenhuma tradição disto, mas o estatuto de antigo aluno é muito importante nas melhores universidades americanas e inglesas. Por exemplo, estão sempre bem representados nos “boards”. Mas também, como neste caso, são sempre dos primeiros a serem abordados para contribuições financeiras.
Tudo isto merece alguma reflexão no momento em que vai entrar em aceleração a reforma da governação das nossas universidades. Em princípio, o presidente do conselho geral podia ser como um chanceler. Parece-me que, na grande maioria dos casos, não será. Em primeiro lugar, não será fácil encontrar pessoas com tal prestígio e autoridade. Em segundo lugar, encontrar uma pessoa que, para além disso, saiba exercer essa autoridade de facto, à margem do formalmente estabelecido na lei. O presidente do CG poderá ter um grande poder se souber fazer parecer que não tem poder nenhum. E o reitor tem muito a ganhar, não se expondo, se aceitar intervenções importantes mas discretas do presidente, por exemplo junto do governo ou em manifestação de opinião.
06 junho, 2008
Chanceler
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