1. No sábado passado alegrei-me com o sol no meu jardim, mas não com o Sol. Comprei-o, por natural curiosidade, mas creio que pela primeira e pela última vez. Não gosto muito do Expresso, que vou comprando pior hábito masoquista, mas muito menos desta sua versão “light”. Tudo é ligeiro e para leitores pouco exigentes, das notícias às análises e às crónicas. Reparem que é o único jornal que se quer digno deste nome que praticamente não tem artigos de opinião. O equivalente ao Actual do Expresso é passado no Sol para o caderno principal, mas tudo num registo ligeiro. A meu ver, o Sol está para o Expresso como o Correio da Manhã está para o Público.
Talvez a minha apreciação tenha logo ficado condicionado pela incrível entrevista de Filomena Mónica, na segunda página. Uma historiadora que disserta sobre as prováveis aventuras amorosas de Mário Soares e sobre o corpinho bem feito de Sócrates desmerece tudo o que possa ter de qualidade académica. E olhem que eu não sou puritano.
Para o provar, confesso que a minha perversidade sessentona me levou a ir ler logo a crónica de sexo da senhora com nome patenteado. Qual sexo, nem pitada de erotismo. Desiludam-se os que acreditam na sua promessa de ir escrever sobre posições, no jornal de hoje, que não vou comprar.
2. Decididamente, Manuel Alegre não sabe o que fazer com o milhão de votos que teve, incluindo o meu. Se calhar, foi coisa que nunca o preocupou. Displicentemente, declarou que “ainda não decidiu se vai intervir ou optar por ficar calado na próxima reunião magna do partido, marcada para Évora: ‘Depende da avaliação que eu fizer na altura e do meu estado de alma’.”
E a expectativa dos que confiaram nele não passa à frente dos seus estados de alma?
Segundo notícia do Público, Manuel Alegre, “insurgindo-se contra ‘a lógica aparelhística, que continua ser muito intensa dentro do PS’, e sublinhando que uma coisa são ‘as batalhas dentro dos aparelhos e outra são as batalhas na opinião pública’, Alegre recusa falar sobre a necessidade de o partido aproveitar o congresso para discutir a matriz ideológica do PS, com alguns dirigentes reclamam, mas mostra-se convencido de que se a questão da Segurança Social for levada à discussão, então o congresso poderá servir para alguma coisa.”
Creio que a maioria dos votantes em Manuel Alegre sempre pensou que, depois, ele ia voltar ao seu partido de há muitos anos. Não só era legítimo como um dever, porque, não tendo ele outro terreno de intervenção (o MIC é um flop utópico), é no partido que ele pode lutar pelas bandeiras que lhe deram o milhão. Este milhão arrisca-se bem a ver-se defraudado.
P. S. 25.9.2006 – Isto merece acrescento a esta nota, uma passagem de um artigo do inefável Mário Pinto, no Público de hoje:
“Ora, a guerra já aí está, e precisamente como "guerra santa" (não comparável às cruzadas, que não foram uma "guerra santa", nem uma guerra de conquista, mas sim uma guerra de reconquista, como foi aqui na Península a "reconquista cristã").”
De facto, há católicos (estou de fora) a quem o apelo papal para um diálogo pessoal entre a razão e a fé não consegue chegar. As cruzadas não foram guerra de conquista mas sim de reconquista. Havia na Palestina, à data da conquista muçulmana, uns muitos milhares de cristãos que tiveram de se refugiar na França e na Alemanha. Saudosos da pátria, reuniram um exército, para grande desagrado dos seus reis europeus e lá foram restaurar (?) o reino de Jerusalém... A um professor de direito exige-se um pouco mais de cultura histórica.
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1 comentário:
João,logo após as eleições predidenciais, procurei analisar o legado tributário da campanha de Alegre. Nós, amparos daquela, cruzámo-nos, amiúde, com alusões escarninhas ao "milhão de votos", protagonizadas por diversos colunistas. Constança Cunha e Sá destaca-se, claramente, pela persistência na obliquidade.
Não considero o "milhão de votos" propriedade de Manuel Alegre. Mais. Considero despicienda a discussão acerca do futuro político de Manuel Alegre. O resultado alcançado, conjuntural, deve nutrir o espírito cívico, hoje lasso, tornando-o as primícias de um caminho. Alegre apresentou-se como o rosto de uma mensagem, mas não deve ser transformado seu refém, nem em seu açambarcador.
A redução da vida política a uma pessoa é uma tendência portuguesa que se aproxima do atavismo. Como apologista precoce da candidatura de Alegre, assumo, sem pudores, que não necessito de Alegre para porfiar pelos valores há um ano enunciados. A cidadania robustece-se com o labor pessoal. Sozinho no seu "quadrado", ou acompanhado.
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