14 janeiro, 2009

Finis laus deo

E com a última entrada me vou. Vou bem, com um dos meus padroeiros. Ah, mas não é verdade. "Et mon panache?" Não me posso ir como quem sai sorrateiro pela esquerda baixa, como as regras primárias vicentinas impunham à minha querida prima Manuela, tão pequenina que era obrigatoriamente o Joane do TEUC, depois de anunciar sem pudor que tinha morrido de caga merdeira, samicas de caganeira, enquanto eu a esperava nos bastidores para combinarmos a minha tarefa semanal de lhe garantir a boleia para o Porto, para os nossos namoros. Açorianices, sempre, não era só ela, também o Nestor como inesquecível Job no Breve Sumário.

Devo explicação, então andei aqui a cativar leitura de gente respeitável para agora as aboiar à misera das ervinhas do esquecimento, da bosta da gueixa no cerrado? Que mais não fora nunca eu pudera haver-me com a zanga do Marcelo e o seu possível castigo de falta de umas cervejolas a apontar à barra do Gomes Freire. Ou deixar de ter as piscadelas de olho do CP a partilhar comigo o gozo requintado com  os bem instalados de alguma esquerda que parece que sai mas entalando sempre o pé na porta para que ela não se feche. Ou com aquele ab frat de apoio às minhas escritas que me podem parecer patetas e senis mas que ele, exemplo maior do rigor intelectual, herança paterna, acha que são muitas vezes "mesmo na mouche!". Ou com aqueles, como o Jorge, que muito escreveram, com tanta ou maior frontalidade como eu, mas que legitimamente se cansaram e, no entanto, me continuaram a ler. 

Vou ter de escrever relambório, esmifrar-me em desculpas, que ninguém que se preze aceita dizer apenas "adeus, até ao meu regresso do nunca, muitas propriedades para o próximo ano e obrigado ao Movimento Nacional Feminino". Que se bliquem mas não têm nada a ver com eu preferir usar melhor o meu tempo, com comezainas, bebedices, ordinarices de conversa de tasca, ouvir padres e freiras em confissão, do que escrever em blogues como se fosse pago à peça para ter sinecura socrática ou, ao invés, justificar autoridade para andar ao colo com a financeira feiona. 

Para despedida, amanhã ou depois, aporradando-me fingidamente com couces de mão no peito e ferindo-me com o chicote de seda suave da minha hipocrisia, ao mesmo tempo que me rio de tudo e de todos com o arroto que nunca aprendi a dar e que, por isto, substituo por um grande peido, vou escrever a despedida agora anunciada. Isto é coisa estúpida mas deliciosamente pérfida, anunciar natais importantes, como se esse anúncio não significasse exactamente que tudo é gozo, que nada tem importância. Minto, que uma coisa importante na vida é saber bem qual é a diferença entre Casanova e D. Juan, entre Quixote e Sancho Pança, entre Cyrano e D'Artagnan, entre Woody Alen e Herman José, entre entrar pela porta principal ou pela porta das traseiras.

Para faruel,vou escrever amanhã ou depois coisas muito brunidas, como os cadáveres maquilhados que regressavam à minha terra para descanso de lides derridas nas terras calafonas. Vou escrever coisas muito honestas de justificação, rastejantes de humildade beniditina, coisa tétrica disfarçada de humilde a que só se perdoa o magnífico canto gregoriano em hora de laudes - que matinas só para bebés a berrarem pelo biberão -, coisas tão brilhantemente elaboradas que hão-de ficar nos manuais dos escribas de intervenções mintiroses dos ministros. Fica para amanhã ou depois, não deixem de comprar o bilhete, nos próximos dias, para esta sessão de despedida dos hábitos das matinês de três filmes do Marítimo, agora interrompidas porque se fundiu a lâmpada e não há dinheiro para o pitrol nem o pai do Pedro está disponível para lá ir resolver o problema, com a sua sabedoria do nimas.

Desculpem a demora, fui pôr a gravata para o anúncio solene. O mais importante que vou escrever amanhã ou depois não é que o Bloco de Notas se fanou, paz à sua alma, "raio animado dessa luz celeste / à qual a morte as almas restitui" (e esta, hein?!!!), não vou escrever ao Jorge Amaral a pedir-lhe uma encomendação das almas quando ele encabeçar, daqui a poucos meses, o rancho dos romeiros da Lagoa. Vou é dizer "THE SHOW MUST GO ON!" e explicar como e onde.

P. S. - Relendo, lá dou por coisa vergonhosa neste escrito, é certo que escanzeladamente escondida, mas não tanto que não fede (as vogais estão certas!) logo aos meus críticos que muitas vezes me acusam de uma tendência coprolálica mal cheirosa. Mas há grande mal em falar de peidos? Afinal, depois do prazer carnal aos 20, do prazer estomacal aos 40, qual é o genuíno prazer aos 60? ;-) E razão tem o meu povo sãmicaelense, que não gosta de finuras de se passar, se finar, falecer, outras delinquices de cultura tísica, prefere antes dizer, "Éme, Manel, o Jacinte lá deu o peido mestre". Ou, se quer ser mais conveniente na presença de sinharas, adoça a expressão e diz que o Jacinte lá foi dar de comer às couves pela raiz.

2 comentários:

António Granado disse...

Sou contra. Tenho dito.

GMaciel disse...

"Vou é dizer "THE SHOW MUST GO ON!" e explicar como e onde."

Cá espero pelas novas.

abraço corisco