Antes do mais, gostaria de não tomarem o fim deste Bloco de Notas (BN) como sinal de cansaço, de falta de motivação para a intervenção cultural, cívica, de responsabilidade humana. Cada vez sinto mais a necessidade disto, nos tempos que correm e como compensação do pesar dos anos em maleitas e fadigas, daquele recordar soturno da lareira de Damião de Gois. Apenas creio que há outras formas melhores, mais eficazes embora talvez mais trabalhosas, de optimizar essa intervenção. A primeira coisa, que nenhum jornalista esquece, para a qual vive e projecta na sua carreira vivaça, é a audiência. A média do BN era de cerca de 200 há dois anos, é agora de 80 visitantes diários (“unique visitors”). Como vivo na terra e não na nuvens com asinhas e uma harpa, devo pensar, embora com muito respeito, sem considerar a opinião de alguns meus amigos que dizem que um leitor diário já lhes justifica o esforço da escrita. "Porra, sou lúcido".
Admitamos que cada dia de blogue me custa uma hora de trabalho. A muitos custará cinco minutos, mas eu tenho o azar de ser perfeccionista, de só me sair uma palavra à quinta revisão; ou então, mal dos meus pecados, quando o coração me sobe à boca. Se eu escrever num jornal uma crónica semanal que me ocupe cerca de 2 horas e for lida por 21.000 pessoas (porque não vou nas audiências oficiais), tenho uma taxa de impacto diária de 1500 leitores diários por hora de escrita minha. Neste blogue tenho uma taxa de 80. Claro que são 80 leitores muito estimados, mas, por isso mesmo, eles merecem que o seu apreço pela minha escrita me obrigue a tentar optimizar o seu impacto.
Também não estou disposto a deixar-me condicionar pelas regras nem sempre de bom nível da eficácia da blogosfera. Algumas são inadmissíveis e obviamente que nem penso nelas: a atitude levianamente provocatória, a piada fácil (mesmo nos blogues políticos pretensamente sérios que muitas vezes vivem do aparte tradicional, de que ao menos o Conde de Abranhos se envergonhava), a acusação rasteira sem provas, a masturbação intelectual, a piscadela de olho ao tacho, mesmo que aquele pequenino tacho, mais um fervedor, em que cozo um ovo. Vejam só o que se passa numa blogosfera particular, mas não muito fora da norma geral, os comentários a notícias dos jornais “online”.
Outras regras são sérias, por exemplo, a necessidade do “sound bite” (será que nunca mais vou ler o ignorantemente execrável "sound byte"?) corresponder à incapacidade do leitor mediano em ler mais do que um parágrafo. Em média, cada entrada de um dos nossos blogues políticos de topo contém 104 palavras (corresponde a quantos segundos de uma aula de Direito?). Outro, muito visitado, desce para os 59. Eu não consigo uma média inferior ao meu valor de 363, que me envergonha, em termos de aparência de simplificação aldrabona do discurso. O problema é meu, nunca gostei de reduzir as discussões a slogans.
Esta obrigatoriedade de leitura rápida ou na diagonal é compreensível em números. Fiz agora uma experiência. Leio no monitor 4 palavras por segundo. Tenho no meu agregador de “feeds” muitos blogues bem estimados - fora os de leitura na diagonal - que chegam a valer-me cerca de 6000 palavras diárias, ou seja, no total, 1500 segundos, 25 minutos! E eu estou reformado, mas ainda tenho de encaixar na minha manhã “online” os principais jornais estrangeiros (o Público que se lixe e DN é coitadinho) e o muito correio dos amigos.
Reparo também num aspecto particular que até nem me afecta, o dos blogues colectivos. Por um lado, alguns tendem a estreitar a colaboração, chegando-se mesmo a eu ter subscrito a assinatura de alguns por causa de um autor em particular que depois deixou por completo de escrever. Dou alguns exemplos, dos mais conhecidos, em que a lista de autores é fantasista: Causa nossa, Bicho carpinteiro, Puxapalavra. Noutros casos, passa-se o contrário, o autor é que vale por mais do que um blogue, muitas vezes com entradas rigorosamente iguais; ainda não consegui perceber a lógica de Paulo Pedroso. Finalmente, o bombardeamento de blogues com listas enormes de autores, em que todos escrevem diariamente, obviamente com o risco de ninguém ter tempo para os ler, porque ninguém lê mais do que dois ou três “posts” diários no mesmo blogue: Ladrões de bicicletas, De rerum natura, Jugular, etc.
Por estas e por outras, já tenho escrito que a intervenção na blogosfera está no fio da navalha, uma navalha que ainda não se percebe bem para que lado vai cortar. Mas que vai cortar vai, sinto-me certo. Assim, pesa especialmente que o ter ido na onda tenha prejudicado outras intervenções importantes. Além do Bloco de Notas (e, antes, do Professorices, culpado deste meu erro, por sucesso ilusório), há muito tempo que tinha um “site” pessoal, com duas vertentes relativamente distintas. No “Reformar a educação superior”, ganhei algum merecimento e audiência pela actualidade, importância e âmbito da informação disponibilizada, para além de muitos artigos, meus e de outros. Com a falta de actualização a que o condenei nos últimos meses, perdeu impacto. Tenho muita pena e quero corrigir isto. Que mais não seja, é uma justiça elementar para muitos autores de artigos, personagens destacadas da nossa educação superior, que acharam que o “site” era digno da publicação de artigos seus.
O mesmo aconteceu com o conjunto de páginas pessoais “Inquietude permanente”. Dão acesso a muito mais do que as notas diárias de um blogue, desde textos de fundo, evocações açorianas, histórias de família, contos, até receitas de cozinha.
A mudança radical da minha intervenção deveria corresponder também a uma nova imagem gráfica, em que estou a trabalhar. Infelizmente, muitos afazeres me prejudicaram esta coincidência desejada de mudança essencial e formal. Prometo para breve uma maior frescura de imagem.
Essencialmente, o que vai mudar?
1. A intervenção ligeira bloguística vai dar lugar a uma escrita mais ponderada, sempre com a pretensão de eu poder dar um contributo autorizado que não seja só mais uma opinião entre muitas respeitáveis mas cheias de ruído internético. Não gosto nada de poluição sonora! Os textos serão mais longos, mais articulados, sem nenhuma consideração pelas regras de estilo, o certo mas perigoso KISS, “keep it simple, stupid!”. O primeiro texto, já hoje, é exemplo.
2. Os textos farão parte de um “site” por onde o leitor se pode passear facilmente, aproveitando muito mais coisas que o autor lhe pretende oferecer. Não os lerá com a pressa com que despacha diariamente os seus blogues favoritos? Paciência, é aposta minha, prefiro que meia dúzia ou até menos, num dia, leiam uma nota de actualidade e daí vão a uma evocação do Antero, a máximas dos filósofos gregos, a uma crónica de gosto de bem comer, a um vídeo ou uma música escolhidos para o dia (não é para amanhã, será para a tal reforma do “site”).
Claro que isto não é invenção minha e, até grande snobismo, é imitação de páginas de pessoas célebres. Faço-o em penitência e homenagem, em boa parte porque a leitura sem proveito de muitos blogues me tira tempo para leitura bem gratificante de páginas mais ricas como as de Timothy Garton Ash, Paul Krugman , Frank Furedi , Spengler (grande segredo, quem é?), Richard Dawkins, muitas mais cuja leitura me enriquece e não me dá sabor de tempo desperdiçado como tanto fede na nossa blogosfera.
3. No caso das notas sobre a educação superior, há uma pequena diferença. Serão incluídas num portal, mais do que num “site”. Vou tentar reanimar o RES como local de referência para informação e debate sobre a educação superior. Sabem o que é um portal? Por alto, diria que é uma página que dá acesso a uma vasta colecção de informação, de artigos, de debates, no próprio “site” ou em outros e sempre muito frequentemente actualizada. É como se fosse um jornal “online”, em que se pretende que todos os dias o leitor encontre novidades que justifiquem a sua visita.
4. Com isto, que ninguém espere “sound bites”, escritas fáceis e provocatórias. Creio que ninguém que compra um jornal lê um artigo de opinião com a ligeireza com que lê um “post” de um blogue. Até há o caso notório, competente, de um articulista semanal que à terça feira publica sempre um “post” com o tema do seu artigo de jornal, mas em linguagem de “header” jornalístico.
5. É claro que isto implica um ritmo de escrita tão lento como o das fases da lua. Como fazer chegar as minhas destilações mentais aos leitores? Com os recursos da web2 seria fácil, porque ambos os meus sítios têm páginas associadas de tipo RSS. Abrindo no inefável Internet Explorer os meus “sites”, vêem na barra do endereço URL um ícone RSS. Dá acesso a uma página com as actualizações do "site". No entanto, dizem-me que a gente do Windows só agora está a começar a descobrir isto, coisa velha para o Safari dos Mac.
Parece-me que vou ter de prevenir por “mail” do aparecimento de coisas que imodestamente considere importantes. Além disto, sugiro que façam favoritos/bookmarks do Reformar a educação superior e do Inquietude permanente, bem como do “novidades” (RSS) do primeiro e do segundo.
Esta obrigatoriedade de leitura rápida ou na diagonal é compreensível em números. Fiz agora uma experiência. Leio no monitor 4 palavras por segundo. Tenho no meu agregador de “feeds” muitos blogues bem estimados - fora os de leitura na diagonal - que chegam a valer-me cerca de 6000 palavras diárias, ou seja, no total, 1500 segundos, 25 minutos! E eu estou reformado, mas ainda tenho de encaixar na minha manhã “online” os principais jornais estrangeiros (o Público que se lixe e DN é coitadinho) e o muito correio dos amigos.
Reparo também num aspecto particular que até nem me afecta, o dos blogues colectivos. Por um lado, alguns tendem a estreitar a colaboração, chegando-se mesmo a eu ter subscrito a assinatura de alguns por causa de um autor em particular que depois deixou por completo de escrever. Dou alguns exemplos, dos mais conhecidos, em que a lista de autores é fantasista: Causa nossa, Bicho carpinteiro, Puxapalavra. Noutros casos, passa-se o contrário, o autor é que vale por mais do que um blogue, muitas vezes com entradas rigorosamente iguais; ainda não consegui perceber a lógica de Paulo Pedroso. Finalmente, o bombardeamento de blogues com listas enormes de autores, em que todos escrevem diariamente, obviamente com o risco de ninguém ter tempo para os ler, porque ninguém lê mais do que dois ou três “posts” diários no mesmo blogue: Ladrões de bicicletas, De rerum natura, Jugular, etc.
Por estas e por outras, já tenho escrito que a intervenção na blogosfera está no fio da navalha, uma navalha que ainda não se percebe bem para que lado vai cortar. Mas que vai cortar vai, sinto-me certo. Assim, pesa especialmente que o ter ido na onda tenha prejudicado outras intervenções importantes. Além do Bloco de Notas (e, antes, do Professorices, culpado deste meu erro, por sucesso ilusório), há muito tempo que tinha um “site” pessoal, com duas vertentes relativamente distintas. No “Reformar a educação superior”, ganhei algum merecimento e audiência pela actualidade, importância e âmbito da informação disponibilizada, para além de muitos artigos, meus e de outros. Com a falta de actualização a que o condenei nos últimos meses, perdeu impacto. Tenho muita pena e quero corrigir isto. Que mais não seja, é uma justiça elementar para muitos autores de artigos, personagens destacadas da nossa educação superior, que acharam que o “site” era digno da publicação de artigos seus.
O mesmo aconteceu com o conjunto de páginas pessoais “Inquietude permanente”. Dão acesso a muito mais do que as notas diárias de um blogue, desde textos de fundo, evocações açorianas, histórias de família, contos, até receitas de cozinha.
A mudança radical da minha intervenção deveria corresponder também a uma nova imagem gráfica, em que estou a trabalhar. Infelizmente, muitos afazeres me prejudicaram esta coincidência desejada de mudança essencial e formal. Prometo para breve uma maior frescura de imagem.
Essencialmente, o que vai mudar?
1. A intervenção ligeira bloguística vai dar lugar a uma escrita mais ponderada, sempre com a pretensão de eu poder dar um contributo autorizado que não seja só mais uma opinião entre muitas respeitáveis mas cheias de ruído internético. Não gosto nada de poluição sonora! Os textos serão mais longos, mais articulados, sem nenhuma consideração pelas regras de estilo, o certo mas perigoso KISS, “keep it simple, stupid!”. O primeiro texto, já hoje, é exemplo.
2. Os textos farão parte de um “site” por onde o leitor se pode passear facilmente, aproveitando muito mais coisas que o autor lhe pretende oferecer. Não os lerá com a pressa com que despacha diariamente os seus blogues favoritos? Paciência, é aposta minha, prefiro que meia dúzia ou até menos, num dia, leiam uma nota de actualidade e daí vão a uma evocação do Antero, a máximas dos filósofos gregos, a uma crónica de gosto de bem comer, a um vídeo ou uma música escolhidos para o dia (não é para amanhã, será para a tal reforma do “site”).
Claro que isto não é invenção minha e, até grande snobismo, é imitação de páginas de pessoas célebres. Faço-o em penitência e homenagem, em boa parte porque a leitura sem proveito de muitos blogues me tira tempo para leitura bem gratificante de páginas mais ricas como as de Timothy Garton Ash, Paul Krugman , Frank Furedi , Spengler (grande segredo, quem é?), Richard Dawkins, muitas mais cuja leitura me enriquece e não me dá sabor de tempo desperdiçado como tanto fede na nossa blogosfera.
3. No caso das notas sobre a educação superior, há uma pequena diferença. Serão incluídas num portal, mais do que num “site”. Vou tentar reanimar o RES como local de referência para informação e debate sobre a educação superior. Sabem o que é um portal? Por alto, diria que é uma página que dá acesso a uma vasta colecção de informação, de artigos, de debates, no próprio “site” ou em outros e sempre muito frequentemente actualizada. É como se fosse um jornal “online”, em que se pretende que todos os dias o leitor encontre novidades que justifiquem a sua visita.
4. Com isto, que ninguém espere “sound bites”, escritas fáceis e provocatórias. Creio que ninguém que compra um jornal lê um artigo de opinião com a ligeireza com que lê um “post” de um blogue. Até há o caso notório, competente, de um articulista semanal que à terça feira publica sempre um “post” com o tema do seu artigo de jornal, mas em linguagem de “header” jornalístico.
5. É claro que isto implica um ritmo de escrita tão lento como o das fases da lua. Como fazer chegar as minhas destilações mentais aos leitores? Com os recursos da web2 seria fácil, porque ambos os meus sítios têm páginas associadas de tipo RSS. Abrindo no inefável Internet Explorer os meus “sites”, vêem na barra do endereço URL um ícone RSS. Dá acesso a uma página com as actualizações do "site". No entanto, dizem-me que a gente do Windows só agora está a começar a descobrir isto, coisa velha para o Safari dos Mac.
Parece-me que vou ter de prevenir por “mail” do aparecimento de coisas que imodestamente considere importantes. Além disto, sugiro que façam favoritos/bookmarks do Reformar a educação superior e do Inquietude permanente, bem como do “novidades” (RSS) do primeiro e do segundo.
P. S. - Há outra coisa a afirmar-se na net, as revistas online. É outra coisa, com grande impacto, mais uma vez coisa séria sem nada a ver com a ligeireza dos blogues. Vou convencer alguns amigos da esquerda que verdadeiramente falta. Será um dia destes.
5 comentários:
Compreendo e respeito o ponto de vista. Apenas espero que as novas modalidades de intervenção sejam igualmente eficazes.
Em todo o caso, acho que entre Pessoa (que não publicou o que escreveu) e o Bild zeitung avidamente seguido por milhões de leitores, há uma infinidade de variantes.
Grande abraço
CP
Admitindo que a questão que não percebe é a que deriva de eu escrever no Banco Corrido, integralmente, os posts que publico no Canhoto ou no Outubro, o meu critério é o de reproduzir no blogue individual o que escrevo nos blogues colectivos, identificando essa origem com a etiqueta referente ao blogue colectivo onde o post aparece.
A ideia é a de que os blogues colectivos em que escrevo são políticos e nacionais e o meu individual nasceu para ser generalista. Sei, contudo, que tenho andado demasiado centrado na política, mas é conjuntural, acho.
Agradeço o comentário de Paulo Pedroso. Não era crítica da minha parte, era mesmo curiosidade. Fiquei esclarecido.
Fecha o BLOCO de NOTAS “apenas” porque a média de leitores diários é de 80 pessoas? Acha pouco?
Já reparou que os blogues muito visitados, salvo as devidas excepções, não passam de uma espécie de tablóide da blogosfera? Refiro-me, obviamente, aos blogues que não entram na categoria de puro lixo; destes, e são milhares, não reza a história (pelo menos para mim)
Nas intenções do que pretende mudar, ponto 1, escreve: “A intervenção ligeira bloguística vai dar lugar a uma escrita mais ponderada”.
Conheço blogues cuja escrita nem sempre é ligeira, mas ponderada, documentada, de leitura cativante; o que li do Dr. Vasconcelos Costa não creio se afaste deste conceito.
No ponto 4 afirma que ninguém compra um jornal e lê um artigo de opinião com ligeireza.
Depende de quem o escreve, não lhe parece? Certamente que um Paul Krugman ou Timothy Garton Ash, etc. captam um maior interesse.
Devo confessar que leio com uma certa impaciência os publicistas que escrevem, citando continuamente as grandes “assinaturas” anglo-americanas: grande pecha de alguns colaboradores do Público. Às vezes pergunto-me se eles não têm opiniões próprias, necessitando do arrimo de quem disse isto e aquilo.
Está bem seguro de que quem compra um jornal (penso nas pessoas com uma certa instrução) lê regularmente as crónicas, os artigos de opinião nele publicados?
Queira perdoar-me e extensão deste comentário.
Os melhores cumprimentos
Alda M. Maia
Gostei do comentário de Alda Maia. Ou muito me engano ou temos muita convergência na nossa apreciação da blogosfera.
Aproveito para informar que, hoje, este blogue teve 102 leitores, é verdade que mais do que os tais 80 habituais (sinal do interesse da minha despedida?) e o meu sítio pessoal, onde escrevi o último texto, aqui publicitado, teve 185, quando andava há uns tempos por 84. Ainda é cedo para tirar conclusões, mas por agora não estou desanimado com estes números
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