Alguma coisa está mal nesta UE, quando os seus "cidadãos" não se apercebem de vantagens na união. Catalães, bascos e galegos fazem o possível por salientarem as suas identidades nacionais, mas não pretendem abandonar a "união espanhola". Os genebrinos pagam para os cantões mais pobres mas sabem bem o que lhes é vantajoso em ser suíços. E até a jardinesca figura sabe bem até onde levar os impropérios independentistas.
É claro que há uma diferença essencial: estas e muitas outras situações são históricas, assentes numa consciência colectiva de séculos, mas não deixam de traduzir uma noção sempre actual das vantagens práticas. A meu ver, as vantagens da UE são intangíveis para o comum dos mortais, que não tem biblioteca nem sabe nada de finanças.
Uma grande construção política tem de ser ensinada aos seus indivíduos? Há certamente um fosso entre essa construção e a consciência colectiva dela. Não é altura de desacelerar o alargamento inevitável desse fosso e garantir ao projecto europeu a sua verdadeira base de sustentação, o apoio dos povos? Ou a tal pedagogia continuará a ser exercida em fuga para a frente?
Para que não fiquem dúvidas: esta pergunta é feita por alguém que se sente profundamente europeísta.
2. José Vítor Malheiros tem uma coluna semanal que não perco. Na última, "Discutir na escola", escreve:
"O documento "Organização do ano lectivo de 2006/07" (disponível no site do Ministério da Educação num irritante PDF em "bitmap" que não permite copiar o texto) sugere que as aulas de substituição sejam dadas por outro professor do mesmo grupo com base no plano de aulas do professor titular. Mas o mesmo documento admite que, na impossibilidade de fazer isso, o período de aulas seja ocupado por "actividades de enriquecimento e complemento curricular".Também me parece ser muito difícil a substituição de um professor em falta por um da mesma disciplina, a dar continuidade ao programa. Que o substituto dê uma aula da sua competência específica não me parece fazer sentido. Restam as tais "actividades de enriquecimento e complemento curricular". Estou inteiramente de acordo com JVM no que ele escreve sobre a sua importância. Só não concordo, se percebi a sua ideia, com a necessidade de formação específica para tais actividades. A meu ver, elas só exigem coisas que não se ensinam: o gosto pelo despertar da inteligência dos alunos e uma sólida formação cultural. Vamos treinar professores a saberem ler o jornal e transmitirem aos alunos o interesse de um tema de actualidade?
Ora é possível e proveitoso transformar essas aulas (em vez de aulas curriculares de segunda) em aulas de debate de primeira. A prática é comum na escola anglo-saxónica, mas é boa e pode ser explorada. É evidente que, para fazer isto de forma séria, é indispensável que todos os professores recebam alguma formação - mas essa formação seria útil na sua actividade lectiva quotidiana. Isto permitiria proporcionar aos alunos um espaço simultaneamente de livre expressão e de lúdico confronto intelectual, de prática de exposição e discussão públicas e de exercício de cidadania. Essas aulas poderiam partir da discussão organizada de um tema da actualidade e poderiam criar um espaço pedagógico enriquecedor para professores e alunos."
P. S. (13:48) - da leitura do jornal de hoje: um "responsável judiciário" declarou, a respeito do caso Gisberta - a transsexual seviciada e morta por um grupo de adolescentes - que "são miúdos, aquilo foi uma brincadeira que correu mal". Sem comentários!
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