04 março, 2006

Pensadores, precisam-se

Este apontamento é sobre os fazedores de opinião. Mais especificamente, quero discutir a diferença entre pensadores ("thinkers") e fazedores de opinião ou, como é mais vulgar entre nós, colunistas ou comentadores. Um pensador reflecte nos seus escritos uma grande sabedoria vivida e uma larga concepção do mundo, do homem e das sociedades. Nem sempre, ou até raramente, é um filósofo, a menos que chamemos de filosofia "espontânea" a toda a sabedoria que ultrapassa e integra os conhecimentos sectoriais. Os seus escritos têm dimensão de "universalidade" e fazem-nos pensar para além da nossa esfera espacial e temporal do quotidiano. Com eles, sentimos que, virtualmente, estamos a viajar para além das nossas fronteiras.

Obviamente que não me refiro aos muitos autores de livros de pensamento transversal e global. Cinjo-me aos que verdadeiramente fazem opinião porque estão presentes nos media, com muito mais leitores, e particularmente aos que aparecem nos nossos jornais. O primeiro exemplo que me vem à ideia é Lord Dahrendorf. Numa geração posterior, Timothy Garton Ash. De certa forma, também Kofi Annan e Gorbatchov, embora numa esfera mais política. Muitos mais, embora nem todos das minhas simpatias: Frank Furedi, Fukuyama, o "Spengler" do Asian Times (em registo humorístico), etc. Em Portugal, curiosamente, só vejo hoje, nestas condições, um político, mas com bastante superficialidade: Mário Soares. Outro caso conhecido, com maior profundidade de visão, é o de José Gil, mas limitado por uma reflexão limitada a Portugal e pelo risco de generalização abusiva de que os grandes pensadores se devem defender.

Em situação diametralmente oposta, temos a maioria dos nossos colunistas locais. Abro excepções, que ficam ao critério de cada um. Dos restantes e muitos, alguns são inteligentes, escrevem bem, até são saudavelmente provocadores. Mas não me ensinam a ser mais sabedor, que é a minha pedra de toque (e, com isto, a ser melhor professor). Raramente saem do comentário à situação diária e conjuntural da nossa realidade portuguesa. Quando abordam problemas internacionais é, geralmente, para uma transposição para Portugal. Pior ainda, têm geralmente uma abordagem classicamente politica, quando não transparentemente partidária.

"Pensadores" portugueses, precisam-se! Parodiando expressões na moda, "é a sabedoria, stupid" ou "há a cultura, para além do défice".

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