Lembram-se do velho professor americano a viver em Roma, personificado por Burt Lancaster no “Conversation Piece” de Visconti? Ou mesmo do mesmo como Príncipe Salina? Distanciamento, algum desgosto pela degenerescência do que nos foi caro, sentido de que a vulgarização nos remete para um buraco íntimo de preservação da qualidade. Elitismo intragável, admito.
Isto vem mesmo a despropósito sobre a actual questão do estatuto dos Açores. Fui autonomista, nos alvores açorianos da minha descoberta política. Fui autonomista com muitos amigos dos tempos difíceis, sendo sempre justo salientar Melo Antunes e Borges Coutinho. Nessa altura, os filhotes de Mota Amaral usavam babete e hoje não se lembram de que ele, por essa época, era deputado e escrevia a favor das multinacionais americanas dominarem a pecuária açoriana. Por tudo isto, sinto-me hoje um pouco como essas personagens viscontianas.
Por isto, creio ter autoridade para me escandalizar com alguns excessos do estatuto de autonomia dos Açores e, por isto, quem diria, concordar com Cavaco Silva. O que mais me choca é a disposição aberrante segundo a qual a Assembleia da República não pode legislar sobre a autonomia a não ser sobre propostas da Assembleia Legislativa Regional. Não consigo perceber como é que tal disposição, só possível num estado federal (e nem sei se mesmo neste caso, na realidade) não é declarada liminarmente como inconstitucional.
Sou autonomista, nem de longe sou federalista ou independentista. Como costumo dizer, sou muito açoriano porque sou muito português e sou muito português porque sou muito açoriano.
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