Com atraso, li durante estas férias o último romance de Pepetela, “Predadores”. Foi uma leitura com sentimentos contraditórios. Por um lado, evidentemente o prazer da leitura de um livro muito bem escrito, com trama romanesca que nos obriga a passar de tempo para tempo com dificuldade em interromper a leitura ao fim de um capítulo, com o interesse de se ler imediatamente o que vem a seguir.
Por outro lado, para quem viveu transitoriamente em Angola e para quem se entusiasmou sempre pela saga da liberdade, é uma leitura bem amarga. Não vou contar em pormenor o que é a história, dizer só que, como o nome indica, é a crónica do apodrecimento dos ideais e do carácter e, logo, a crónica da bem conhecida corrupção. É um livro de grande coragem, para quem vive em Angola e desempenha um cargo público.
Essa amargura foi dupla porque, conhecendo muito bem Pepetela, fui sempre imaginando o que ele deve ter sofrido ao escrever o livro. Não foi certamente para assistir a esta Angola e lá viver que Pepetela foi guerrilheiro (a nossa direita florescente dirá que foi terrorista).
Nota final. Como se compreende no fim do livro, o poder mudou de interlocutores. Os predadores angolanos estão em queda, hoje são principalmente os estrangeiros. Isto fez-me lembrar a recente visita de Sócrates a Angola, com um avião cheio de empresários.
26 agosto, 2006
20 agosto, 2006
Geração dos sessenta?
Escrevi hoje um “mail” a uma lista de amigos:
Ela fez-se no sonho da festa de Abril. Sacrifícios, perigos, prisões, clandestinidade, coisas que o preclaro VPV nunca soube o que foram, valeram tudo na festa de Abril e sempre foram assumidos com essa meta.
Cometeram-se erros? Certamente, mas “a festa foi bonita, pá”.
Hoje, eu leitor de muitos blogues, acho que a democracia deve permitir a escrita de blogues assumidamente fascistas. O que não aceito é o reaccionarismo encapotado de mentores disfarçados de “democratas”, educadores do povo. Assumam-se como conservadores reaccionários que são.
De Vasco Pulido Valente, hoje, no Público:Podia ficar por aqui, mas não é possível. Um dos meus defeitos é ser um pouco masoquista e, por exemplo, ainda ler VPV. Não o conhecendo pessoalmente (e não o desejando), não sei como o classificar. Alzheimer precoce? Diletantidsmo? Uma coisa é certa. Apetece-me vomitar esse escrito em nome da minha geração de/dos sessenta.
"Mas não deixou de aparecer uma geração, a "geração de 60", a minha, que entre a "crise académica" de 62, de boa memória, e a "festa de Abril", de má memória, fez de Portugal um país diferente."
Como é que alguém pode invocar a memória da geração de 60 ao mesmo tempo que rejeita a memória de Abril?
Ela fez-se no sonho da festa de Abril. Sacrifícios, perigos, prisões, clandestinidade, coisas que o preclaro VPV nunca soube o que foram, valeram tudo na festa de Abril e sempre foram assumidos com essa meta.
Cometeram-se erros? Certamente, mas “a festa foi bonita, pá”.
Hoje, eu leitor de muitos blogues, acho que a democracia deve permitir a escrita de blogues assumidamente fascistas. O que não aceito é o reaccionarismo encapotado de mentores disfarçados de “democratas”, educadores do povo. Assumam-se como conservadores reaccionários que são.
19 agosto, 2006
Férias em S. Miguel
Vou frequentemente à minha ilha, mas em viagens que deixam sabor amargo, com tempo apenas para uma breve volta por Ponta Delgada. Desta vez foi diferente, duas semanas de reencontro com gentes, cores, sabores, perfumes, memórias. E com a companhia querida de quem sempre se sentiu tão micaelense como eu.
Nesta primeira nota, vou falar do que talvez achem estranho, as estradas. Não há turista que não venha maravilhado com os três panoramas emblemáticos, as lagoas das Sete Cidades, Fogo e Furnas. Ficar por aí é uma pena. S. Miguel é também as suas estradas, com vistas imperdíveis para fora e para dentro. Para fora, a cada curva, um panorama magnífico, sempre diferente na aparente uniformidade da paisagem micaelense. Para dentro, porque em cada curva da estrada também a beleza da própria estrada.
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