Hoje não é sábado mas, no próximo sábado pascal ninguém me lê.
1. Li uma coisa engraçada escrita por Vasco Pulido Valente: na nossa administração pública, o valor de um dirigente mede-se pelo dinheiro, pelo número de funcionários e pelo espaço que domina. Nada de estranho, é visceralmente biológico. Com excepção do dinheiro, qualquer macho dirigente se mede pela dimensão da manada e pelo espaço que conquista. Agora se um dirigente se quer ver apenas como animal, é lá com ele.
2. Será também um comportamento biológico, de defesa de interesses? Há bastante tempo, colaborei intensamente com uma escola universitária e conheci muito bem o seu clima doentio de relações internas baseadas em grandes amizades e ódios de estimação. A isto, estamos todos habituados. Há dias, depois de muito tempo de falta de contacto, tive uma descrição pormenorizada da situação actual. Continua na mesma, mas mudaram os papeis dessa farsa. Grandes amigos são hoje inimigos figadais, grandes e velhos ódios rancorosos converteram-se em amizades de grande cumplicidade. Não faz mal, disse a esse ex-colega, a responsabilidade que certamente todos sentem em relação aos desafios de Bolonha vai pôr toda a gente a proceder superiormente...
3. Já tem sido mais do que discutido: a unidade de missão para a reforma do código penal propõe que vários crimes cometidos por políticos (peculato, abuso de poder, favorecimento em negócios, não estou certo se mais) possam ser punidos com a perda do mandato, em vez da prisão. Foro privado dos políticos?
Parece-me um escândalo e um atentado ao respeito colectivo pela vida democrática, respeito já muito em baixo. Mas que capacidade há em Portugal para um cidadão manifestar a sua indignação? É verdade que os blogues vão sendo importantíssimos, mas só chegam a uma magra minoria dos cidadãos. Nós temos, colectivamente, a democracia que merecemos porque, ao longo dos séculos, não soubemos criar uma sociedade civil forte. O milagre finlandês - e outros - não é de tecnologias, é essencialmente disto. Sociedade civil muito forte, grande cultura democrática interiorizada, aprendizagem da ética desde as primeiras palavras.
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