31 agosto, 2007
Nota gastronómica (XXV)
Não há profissão que não tenha a sua gíria, muitas vezes bem iniciática. É o caso da minha, a investigação científica, também a culinária. O que é obrigatório é nunca a usar quando estamos a falar com leigos.
Há já bastante tempo, tempo demais para me conseguir lembrar de quem era ele, um chefe dos nossos modernaços publicou num jornal uma receita em que era importante usar a solipata. Tenho pena de já não me lembrar do nome, para escarrapachar aqui a sua estupidez.
Só a minha experiência, ao ver a coisa no contexto, é que me fez perceber o que era, coisa que até uso muito, na moinha colecção de utensílios (in)dispensáveis. Esclarecerei adiante este mistério. Nessa altura, eu e o meu irmão alter ego em gastronomia, discutimos o assunto, com riso. Somos diferentes, ele é um teimoso que não se deixa vencer, vai pesquisar e, nessa altura, chegou à conclusão de que solipata era termo horroroso em cozinha, porque é um dispositivo para colocar entre os dedos dos cães, para não se ferirem.
Agora, meses depois, tendo ficado sempre a trabalhar na coisa, teimoso como ele é, chegou à conclusão. Afinal, é a "tradução" que o tal chefe arranjou para "silpat" ("silicone mat for patisserie"). Confirmou-se o que eu tinha adivinhado, aquilo que uso todas as semanas, o tapete ou esteira ("mat") plástico siliconado que vai ao forno, aguentando altas temperaturas e sem deixar pegar os assados.
Mas solipata?! Grande chefe, tem uma imaginação que vai muito para além da invenção de receitas.
30 agosto, 2007
O caso Dalila Rodrigues (III)
Creio que os defensores de DR, se tiverem um mínimo de bom senso e de "como se fazem as coisas", deixarão de considerar que esta senhora faz tudo para desmerecer os apoios que tem tido. Ou também continuarão a dizer que este vergonhoso episódio é mais uma vez um sinal do seu direito à liberdade de expressão?
Missão - Toupeira
Eu explico: já há umas semanas, que ando por aqui e por ali, a escavar e a remover terra de várias fontes de informação e, admito, estou a ficar esmorecida com tudo o que por lá vejo fazer, que aqui não consigo ver.
O que vejo por lá (Forfás - Ireland's national policy and advisory board for enterprise, trade, science, technology and innovation, entidade que está justamente a efectuar uma proposta-contributo para o desenvolvimento do país tendo em consideração uma vision of Ireland in 2020 in which a well-educated and highly skilled population contributes to a competitive, innovation-driven, knowledge-based, Future Skills Needs participative and inclusive economy).
Por favor, reparem no pormenor do ano - horizonte temporal de trabalho - 2020, e atentem apenas para dois exemplos seguintes, de como eles esquematizam o que se propõem executar:
1º - 5th Report. Expert Group on Future Skills Needs. 2007. - estudo estratégico de gestão de competências. Smiples, bem pensado e, naturalmente, muito definido.
2º - Full Report - The Role of the Institutes of Technology in Enterprise Development.(2007). No caso, trata-se de um trabalho que orienta e compatibiliza as características, e expectativas de Escolas Superiores de carácter tecnológico - muito semelhantes a alguns dos nossos "Politécnicos" - com as necessidades previstas pelo mercado. Enquanto nós, por cá, iremos fazer não percebi, bem como, nem o quê de Investigação Orientada [*].
Podemos então comprovar, que não só a galinha deles tem mais enxúdias, a erva deles é mais e mais verde que a nossa, como ainda usam sistemas de trabalho mais sérios, e dispõem de dirigentes muito mais eficientes que os nossos (ou vice-versa).
Poderemos nós fazer alguma coisa?
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[*] Bom, eu não sei nada sobre esse tema, mas sei muito bem quem sabe (ou que empombou que sabe), e vou perguntar, formalmente por cartinha registada, às seguintes pessoas, a saber: Presidente da República, Deputados do PS e também dos outros partidos todos, que não questionaram este ponto no RJIES e, claro, ao MCTES.
Ao CCISP não vou perguntar, porque eu sei perfeitamente, porque é que não questionou este ponto do RJIES, e não é porque por lá se entende o que é investigação orientada no politécnico, mas depois demonstro-lhes as razões - através de um trabalhinho toupeira, que ando a engendrar, mas que está a ficar quase missão impossível de tanto tempo que ocupa; mas isto é uma outra estória...
29 agosto, 2007
Do infantário à universidade
- Não percebes? - perguntou Siminov. - O miúdo nunca vai ser aceite em nenhuma universidade decente. Então na Ivy League é que não entra de certeza.Quem é que podia ter escrito isto? Claro que Woody Allen, no seu último e recente livro, "Pura anarquia".
- Só por causa disto, Dmitri Siminov? O infantário tem assim tanto impacto na educação universitária?
- Eu não sou de citar nomes - disse Siminov -, mas, há muitos anos, um banqueiro de renome não conseguiu inscrever o filho num jardim-de-infância muito bem cotado. Parece que houve um escândalo qualquer com a capacidade do miúdo para pintar com os dedos. A verdade é que o miúdo, depois de ser rejeitado pela escola escolhida pelos pais, foi forçado a...
- A quê? Diz-me, Dmitri Siminov!
- Digamos simplesmente que quando fez cinco anos foi forçado a frequentar... uma escola pública.
- Quer dizer que não há Deus - desabafou Boris Ivanovich.
- Aos dezoito anos, os seus ex-companheiros entraram todos em Yale ou em Stanford - prosseguiu Siminov -, mas este pobre diabo, nunca tendo adquirido as credenciais necessárias num infantário... como direi... de estatuto adequado, só conseguiu ser aceite numa faculdade de barbearia.
- Condenado a aprender a aparar bigodes - chorou Boris Ivanovich, imaginando já o pobre Mischa de bata branca, tosquiando os mais abastados.
- Não tendo formação substancial em áreas como decoração de queques ou caixa de areia, o rapazinho estava totalmente impreparado para as crueldades que a vida lhe reservava - continuou Siminov. - Por fim, trabalhou em tarefas manuais, acabando finalmente a praticar furtos no local de trabalho para sustentar o seu alcoolismo. Por essa altura, era um bêbado irrecuperável. É claro que os pequenos furtos conduziram aos roubos, e terminaram no assassínio da sua senhoria, com desmembramento. Antes de ser enforcado, o rapaz atribuiu tudo ao facto de não ter conseguido entrar no infantário certo.
28 agosto, 2007
O Público, campeão da asneira
O grupo dos sete propunha a alteração dos estatutos do actual modelo monista, para um dualista, e eleição de novos órgãos sociais. (...) A guerra em torno do modelo de governação do BCP, que acabou por não ser clarificado na assembleia geral (AG) de ontem, começa com uma proposta de Paulo Teixeira Pinto para que fosse adoptado o sistema monista, actualmente em vigor - conselho de administração (CA) e conselho geral de supervisão (CGS).
(...) propõe a realização de uma AG para alterar os estatutos e assumir o modelo dualista de conselho de administração e comissão executiva, com a supervisão no revisor oficial.
Que confusão, que ignorância! É precisamente o contrário. O BCP, actualmente, tem um modelo dualista e não monista. Isto é, tem dois conselhos, um geral e de supervisão, presidido por Jardim Gonçalves, e um de administação, presidido por Paulo Teixeira Pinto. Só por este modelo dualista é que se pode estar a assistir à luta de poder entre os respectivos presidentes.
A existência apenas de um conselho de administração único, mesmo que com uma composição mista de administradores executivos, actuando individualmente ou em comissão executiva, e de administradores não executivos, define o modelo monista e não o dualista, como escrevem os jornalistas (e logo três). Mas não estão convencidos, escrevem irreflectidamente, porque logo a seguir até dizem coisa relativamente acertada, mas contraditória com os escritos precedentes:
Existem dois modelos distintos, um dualista, que assenta num Conselho de Administração Executivo, só com gestores profissionais, que reporta ao Conselho Geral e de Supervisão, e um outro monista, com um Conselho de Administração, de onde sai uma Comissão Executiva.
Começa a ser altura de considerar a sério a hipótese de extinguir todos os cursos de comunicação social. Os jornais que recrutem os seus jornalistas, conforme as áreas, de entre licenciados em letras, história, economia, ciências. Quantos cursos de "bachellor" em comunicação social conhecem nos EUA? "Master" sim, mas isto já é outra coisa.
P. S. (29.8.2007) - Como dei conhecimento ontem desta entrada ao director do Público, estava à espera de alguma coisa hoje no "Público errou". Nada. Verei amanhã. Se não, quando regressar o provedor.
27 agosto, 2007
Can Too Much Safety be Hazardous? - parte 2
"In pratice, food safety decisions fall along a wide continum.
Importa aqui salientar que o mesmo autor inclui os alimentos transgénicos, no nível de maior incerteza - Tipo 5: "Emerging problems where the nature of the hazard is not yet fully understood, quantitative risk assessments are generally not feasible, and even qualitative assessments have a wide margin of error due to lack of basic scientific knowledge."
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Essa incerteza, e consequente controvérsia - quanto a mim, absolutamente indispensável - não pode nem deve servir, sem explicações realmente convincentes, como desculpa para a instituição artificial de barreiras comerciais ou da articulação do livre comércio-utilização, a nível global, regional ou local, sobretudo, quando há intervenientes que pretendem deslocalizar o sentido da decisão em sentido contrário ao de múltiplas e sucessivas apresentações de provas credíveis.
Em condições com alguma ambiguidade, como é o caso, a decisão final só pode ser de índole política e, pelo menos, ser ou parecer lógica, racional e transparente. É por isso, que penso ser essencial o respeito à Participatory Decision Process: Decisions applying the Precautionary Principle must be transparent, participatory, and informed by the best available science and other relevant information."
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Portugal, enquanto integrante da Europa, deve cumprir, escrupulosamente, os entendimentos comuns. Assim, quanto ao principio da precaucionaridade, não poderia deixar de descrever pormenorizada e CONVENIENTEMENTE não só cada um dos casos concretos de incerteza sobre o qual decide(iu) mas, tanto quanto possível, divulgar, atempada e sistematicamente, todos posicionamentos, próprios e/ou alheios, pró e/ou contra, que reúnam qualidade científica e tecnológica comprovada.
Quanto, à aplicação do Principio da Precaucionaridade, ao caso específico de alimentos geneticamente modificados, em especial, aos transgénicos, em Portugal, desde o início de cada um dos processos, deveríamos cuidar muito bem do registo e publicitação sistemáticos de informações pertinentes para que a sua omissão (que eu atribuo a simples indolência/pouco caso) não possa ser erradamente interpretada, como se estando a esconder informações inquietantes, com fins escusos, ou a protegerem-se interesses indevidos.
Algumas Curiosidades sobre milho TG utilizado em Silves:
1 - Trata-se de um insect-protected YieldGard corn, event MON 810, that produces the naturally occurring Bacillus thuringiensis (Bt) protein, Cry1Ab.
2 - De notar que o próprio Bacillus thuringinensis é utilizado, em procedimentos de protecção integrada, em agricultura BIOLÓGICA.
3 - O "YieldGard corn is protected from feeding damage by the European corn borer (ECB, Ostrinia nubilalis), the southwestern corn borer (SWCB, Diatraea grandiosella) and the pink borer (Sesamia cretica)" - estas três pragas são conhecidas, genericamente, em Portugal, por "Broca(s)" e são responsáveis em caso de infestação grave (1 lagarta por planta) por quebras de produção da ordem de 30%.
4 - Percentagem de polinização cruzada desse milho é inferior a 1% dentro de uma distância de 28 m na direcção do vento e de 10 m na direcção oposta.
5 - As plantas descendentes do MON 810 são férteis, isto é, não são suicidas.
6 - Em Portugal, pressupostamente, os milhos TG são utilizados para rações animais. Não está ainda clarificado se a proteína incluída por transgenia na planta hospedeira, é inteiramente degradada nos tratos digestivos dos animais, se bem que a proteína em si o seja.
7 - O efeito insecticida das plantas esbate-se com a idade da mesmas, com a agravante de se tornarem as preferidas da Broca, em presença simultânea com outras plantas não transgénicas da vizinhança.
8 - É obrigatório utilizar-se um sistema/esquema de refúgio - para as pragas visadas e já referidas - do qual participam plantas não transgénicas .
9 - No caso em apreço, da plantação Algarvia, teria havido vantagem para todos, a definição prévia se a região em causa seria ou não "politicamente" destinada a um reduto nacional "livre de transgénicos".
Conclusões:
i) Posto o que já disse, como é evidente, não disse nada, porque também nada sei tendo em vista não dispor de vivência própria directa neste Principio da Precaucionaridade aplicado aos transgénicos. O mesmo já não diria no caso do co-incineração ("lavei chaminés" durante mais de 3 anos da minha vida) que também mencionei no post TG, a propósito de consequências nefastas da falta de cumprimento das regras de comunicação, com os cidadãos comuns, de forma clara, participativa e definida com respeito, ética, transparência e tc. etc. ....
ii) A amplitude, ramificações e implicações do tema - Principio de Precaucionaridade - não é, porém, muito propícia tratar-se com a forma condensada própria de "posts de blogs".
iii) Gostaria que o nosso governo tivesse apresentado de forma sistemática, clara, fundamentada e provada os seus argumentos pró decisões favoráveis.
iv) Gostaria que as pessoas ditas ambientalistas tivessem ocupado o seu tempo e energia a apresentar de forma sistemática, clara, fundamentada e provada os pontos contra a decisão favorável.
v) Espero, porém, que a minha posição sobre o Principio de Precaucionaridade, que tentei expressar no meu post intitulado TG, tenha ficado agora um pouco mais clara, sobretudo, para o leitor que me pediu para clarificar o meu entendimento.
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Selecção de Bibliografia Pertinente:
- MON 810 Environmental e MON 810 Food Safety
- Graham Brookes and Peter Barfoot The benefits of adopting genetically modified, insect resistant (Bt) maize in the European Union (EU): first results from 1998-2006 plantings.
PG Economics Ltd., UK. 2006. http://www.isaaa.org/resources/publications/briefs/36/download/isaaa-brief-36-2006.pdf
- Australia
http://www.blackwell-synergy.com/doi/abs/10.1111/j.1574-6941.2006.00249.x
- Bailey J, Scott-Dupree C, Harris R, Tolman J, Harris B (2005) Contact and oral toxicity to honey bees (Apis
- Canadian Food Inspection Agency, Plant Biotechnology Office. Decision Document 97-19: Determination of the Safety of Monsanto Canada Inc.'s YieldgardTM Insect Resistant Corn (Zea mays L.) Line MON810. http://www.agbios.com/docroot/decdocs/01-290-034.pdf
- Diane E. Stanley-Horn , Galen P. Dively, Richard L. Hellmich, Heather R. Mattila, Mark K. Sears, Robyn Rose , Laura C. H. Jesse, John E. Losey, John J. Obrycki, and Les Lewis. (2001). Proc. Natl. Acad. Sci. USA Early Edition. Assessing the impact of Cry1Ab-expressing corn pollen on monarch butterfly larvae in field studies http://www.agbios.com/docroot/articles/pnas-01-261D.pdf
- Dirk Babendreier, Nicole M. Kalberer, Jörg Romeis, Peter Fluri, Evan Mulligan & Franz Bigler (2005) Influence
- European Commission Scientific Committee on Plants.. Opinion of the Scientific Committee on Plants Regarding the Genetically Modified, Insect Resistant Maize Lines Notified by the Monsanto Company (NOTIFICATION C/F/95/12/02). http://www.agbios.com/docroot/decdocs/01-290-035.pdf
- Liu B, Xu CG, Yan FM, Gong RZ (2005) The impacts of the pollen of insect-resistant transgenic cotton on
- Michael Bannert (2006) Simulation of transgenic pollen dispersal by use of different grain colour maize.
- Sanvido O, Stark M, Romeis J , Bigler F (2006) Ecological impacts of genetically modified crops.
- Velkov VV,
- Frédérique Angevin (2003) Gene flow in maize. INRA, Eco-innov unit, F-78850 Thiverval-Grignon.
A resposta a Vital Moreira
Fiquei provocado pela brevidade bloguística da resposta de Vital, "discordo do modelo monista, prefiro o dualista". Esta afirmação tem dúzias de interpretações possíveis. Estas coisas não se podem tratar como "sound bites" (não estou a dizer que VM o faça, apenas a justificar as minhas várias páginas). Mesmo um fim de semana inteiro de trabalho sobre este assunto é para quem já digeriu muito jantar com esta ementa. Mas que seja uma semana, é tempo demais para um ministro ter estudado um pouco a "corporate governance", antes de legislar?
Com isto, fica em dívida a promessa de comentário aos empréstimos. Desculpem lá o atraso, que o fim de semana não deu para tudo.
26 agosto, 2007
Jornalistas incultos (II)
E continua. A Pública de hoje traz um artigo sobre a nova moda de excursões de degustação gastronómica nos bairros étnicos novaiorquinos. Assina Joann Klimkiewicz, do The Harford Courant, mas o tradutor caseiro não é identificado, talvez seja o jovem jornalista de serviço. Culturalmente, é um alarve e é um enorme plátano. Adjectivo estranho? Já explico.
É que, "são excursões de duas horas para provar plátanos fritos, pickles, peixe seco e mozarella". Ora aqui vai ser uma excelente oportunidade de negócios na minha ilha, com as suas muitas estradas flanqueadas por plátanos. Só não sei muito bem o que se come. Presumo que não o tronco, mas talvez os raminhos ainda tenros ou as folhas. Talvez também os frutos, que até parecem castanhas.
O homem não sabe espanhol (ou castelhano, se preferirem). Também não sabe que não se comem árvores. Mas nunca terá ido pelo menos a Badajoz e visto que lhe servem plátano no restaurante? É mesmo banana!
Este menino é tão inteligente, dizia a família
Louçã, segundo o último Expresso, afirmou, a propósito do acordo na CML, que "o que está em causa é saber se o BE deve estar proibido de fazer acordos com o PS. Se o não tivéssemos feito, por exemplo, no referendo do aborto, o país teria perdido".
Qual foi esse acordo sobre o aborto, que nunca dei por ele? Fizeram campanha conjunta, entraram com dinheiros em comum para a campanha, não houve cartazes distintos do PS e do BE? Ou limitaram-se ambos, mas separadamente, a apelar no mesmo sentido de voto? Em que é que o BE foi diferente do PCP, neste caso?
Fico a saber, se é que já não sabia, que o Louçã inteligente tem também uma característica muito vulgar nos nossos "inteligentes", o de pensarem que todos os outros são estúpidos. Desculpem lá, mas é coisa que não tolero, "não gosto, chateia-me, pá".
Nota - Fiz as contas aos comentários acerca do patético "post"de Miguel Portas em que ele se desculpa com a sua inexperiência da blogosfera. Descontando os seus próprios comentários, são 29 a apoiá-lo, 11 a criticá-lo. É claro que estes números não são significativos, mas apetece dizer que, neste país de brandos costumes, a tontice rende e "não se bate no ceguinho", mesmo que o Salazar tivesse sido cego. Sabem que isto justificou um duelo entre Antero e Ramalho, depois grandes amigos, a propósito de Castilho?
"Can Too Much Safety be Hazardous?" - parte 1
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Devo prevenir, previamente, que estou a falar para os meus caros e raros leitores, na qualidade de uma perfeita diletante mas que - perante toda e qualquer situação controversa - procura formar a opinião, com base em consulta de diferentes fontes de informação - de preferência, muito contraditórias entre si, sob condição de serem ou, pelo menos, parecerem ser lógicas e bem fundamentadas - até assumir um posicionamento, estritamente, individual sobre o assunto. Concluído esse penoso processo - que, por vezes, me leva anos e anos a construir - ai, ai sou tão lenta... - não abdico de defender o que penso, em qualquer instância, a qualquer custo, nem que seja perante condenações extremes da Santa Inquisição, ou esteja mesmo já a assar numa fogueira...
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O título desta abordagem temática, que ocupará mais do que um post, foi emprestado de um artigo «Can Too Much Safety be Hazardous? A Critical Look at the 'Precautionary Principle' ».
Vou apenas tentar esclarecer os meus caros e raros leitores, sobre o que penso deste principio, falando-lhes um pouco sobre o que é, porquê, e porque me parece importante a sua consideração, sempre que somos obrigados a decidir sob condições de incerteza.
Anos chave do Principio da Precaucionaridade (adaptado de "A Brief History of the Precautionary Principle")
1. - 1984 - "precautionary approach" para redução da poluição no Mar do Norte.;
2. - 1987 - Ozone Layer Protocol - "precautionary measures" para controlo, a nível global, de emissões que pressupostamente afectavam a camada de ozono estratosférico.;
3. -1990 - Declaração de Bergen sobre o Desenvolvimento Sustentável e a Conferência Mundial sobre o Clima, cujas conclusões incluem a seguinte frase: "Where there are threats of serious or irreversible damage, lack of full scientific certainty should not be used as a reason for postponing measures to prevent environmental degradation;"
4. - 1992 - Cimeira da Terra (Rio de Janeiro) Principle
5. - 1994 - Maastricht Treaty of 1994, (Art. 130r.2) principio do poluidor pagador.
6.-1995 - Porque o Precautionary Principle was "gaining increasing support as part of the international law of the environment" serviu de fundamento às deliberações do Tribunal Internacional de Justiça, sobre os testes nucleares de França
De lá para cá, este conceito de precaucionaridade ganhou importância e vem constituindo-se como imprescindível em todo e qualquer processos de tomada de decisão, sob condições de incerteza.
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Edward Groth III, da Consumers Union of U.S., Inc. publicou. em 2000, um interessantíssimo artigo sobre a aplicabilidade prática do Principio da Precaucionaridade na Segurança Alimentar: Science, Precaution and Food Safety: How Can We Do Better? do qual, extraí:
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"...Sometimes, research can confirm a hazard - i.e., demonstrate that the decision was sound. But it is also important to have realistic expectations for what research can achieve. In many cases, precautionary action is needed because there are questions science can't answer-not just because we don't have all the data we need, but because science currently has no valid methods for getting the needed data. In other cases, we may have the tools we need to measure harm, but precautionary action will prevent our knowing how much harm would have occurred if we had not acted. In still other cases, it is feasible to collect data, but society would be much better off simply replacing a risk-generating activity with a safer way to meet the same technical or economic need.
Before deciding that research must be pursued to get more precise estimates of risks of using an inherently risky food substance, governments should be permitted to do a comparative cost/risk analysis. If there are lower-risk and lower-cost alternatives, research to refine risk assessments for a substance rejected on precautionary grounds is a bad investment.
For either reason-the inability of science to eliminate uncertainties, or the economic irrationality of research to make a risky choice more acceptable when there are obviously better alternatives-it can be bad policy to require research as a condition of precautionary decisions .
.....
In pratice, food safety decisions fall along a wide continum. At one end are easiest, most straightfowar decisions, where we have all scientific data we need and there is alittle controversy about the soundness of decisions. At the other end are the most difficult food safety questions."
These are issues on which the science is so incomplete and subject to legitimate debate among experts that government decisions, no matter how much effort went into them, can be challenged as unsupported by the evidence, while observers with no interest in the outcome cannot tell who is right. Between these two extremes lie many different types of decisions, each with their own degrees and types of uncertainties."
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Para o recurso ao principio da Precaucionaridade, é conveniente perante a situação-problema organizarmos, previamente, forma de respondermos às seguintes perguntas, organizadas numa checklist:
Precautionary Checklist
1. What do we care about.
2. What are we trying to accomplish?
a. Who shares this goal?
b. Do the goals reflect what we care about?
3. What choices do we have?
a. What is feasible and likely to move us toward the goal?
b. How do choices compare and rank?
c. How do we find even better solutions?
d. How do we adopt better solutions?
4. What is the bigger picture?
a. What are the “upstream” problems? What are the downstream repercussions? What is the broader context?
b. What are the earlier solutions? The most elegant? Is there a systemic solution that could create multiple benefits? Where can we intervene in the system to set in motion the best solutions?
5. Do we know enough to act? Do we know so little we must act with caution?
a. How would we know if harm was occurring or about to occur?
b. What do we know about harmful effects?
c. Where does our knowledge come from?
d. How can we predict from what we know already?
e. Do we know enough to act?
f. Do we know so little that we must act with caution?
g. Are we getting all the information we need from those who have it? Is testing thorough? Is monitoring adequate? How will we learn?
6. Who is responsible?
a. Are those responsible accountable?
b. Is government acting responsibly as public trustee?
c. Who has the burden of proof- those who harm or those who are harmed?
d. How can we distribute power, costs, benefits, and responsibilities more justly?
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Referências do tema/post:
- THE PRECAUTIONARY PRINCIPLE IN ACTION
- Applying the Precautionary Approach to Living Modified Organisms December 11-15, 2001. Montpellier, France.. Katherine Barrett. A Workshop Presented by SEHN at the Intergovernmental Committee For the Cartegena Protocol on Biosafety.
- Precautionary Principle.
- Consensus Document on Safety Information on Transgenic Plants Expressing Bacillus thuringiensis - Derived Insect Control Protein. OECD Environment, Health and Safety Publications Series on Harmonisation of Regulatory Oversight in Biotechnology. Julho, 2007.
- Science, Precaution and Food Safety: How Can We Do Better?” A Discussion Paper for the
25 agosto, 2007
O Eduardinho
P. S. (uns minutos depois) - Para ser honesto, devo confessar que a tristeza de ver partir gente da minha geração também tem um pouco a ver com a ideia de que eu possa ser o seguinte. É que eu fui feito por tudo o que era avós no gosto pela vida. Há um pouco mais de um ano, morreu a minha mãe, aos 89. Era fervorosamente religiosa, mas não deixava de dizer "quero ir estar com Deus, mas há tempo para tudo".
Jornalistas incultos
Já nos habituaram a tudo: ignorância, erros factuais, incapacidade de criticar as fontes, pontapés na gramática, até erros ortográficos crassos. Também outra coisa muitas vezes manifesta, uma espantosa incultura.Vem isto a propósito de uma efeméride assinada por J. A. C., que desconheço, no Público, sobre o aniversário dos "yellow cabs" nova-iorquinos.
O homem é "erudito", como hoje são muitos, à custa do Google e da Wikipedia, à falta de uma razoável biblioteca e de muita leitura. A croniqueta traz toda a história e refere os principais filmes em que os táxis apareceram com destaque. O mal é que o jornalista nunca ouviu falar de um filme célebre, "Taxi driver", de Scorcese, onde eu conheci Robert de Niro creio que pela primeira vez. "Are you looking at me?"
P. S. (27.8.2007) - Reparo agora que enganei na deixa. É "are you talkin' to me?"
Patrão fora...
24 agosto, 2007
Férias?
Agora, vem o sistema de empréstimos. Claro que também tenho muito a dizer, até por já há muito tempo ter escrito e reescrito sobre isto. Mais uma vez, vou ter de discutir com o meu amigo Vital, porque, ao contrário do que ele defende, não estou convencido de que o sistema de empréstimos possa justificar um aumento das propinas (claro que falo só em termos muito gerais; na prática não me parece de excluir, mas tem de ser bem discutido).
Lá vai o fim de semana de férias. O que vale é que nunca sei bem o que são ou não férias, na minha reforma e que, ao fim de semana, ninguém me apanha na praia.
Nota gastronómica (XXIV)
O "fedorento" José Diogo Quintela dedica uma sua crónica dominical no Público ao bom critério de escolha de um restaurante. Goza com aquele velho princípio piroso português-de-fato-de-treino-roxo-em-passeio-dominical-no-shopping de que bom restaurante é o de bela comida caseira, a merecer arroto final ou, pelo menos, umas pancadinhas na pança a confortar. Só por isto ainda valer é que consigo explicar que um banalíssimo restaurante meu vizinho esteja sempre a abarrotar. Ainda por cima, é um triste paradoxo. Se o critério é o da comida caseira e as pessoas deliram com restaurantes que a fazem apenas medianamente, a conclusão é de que já não se sabe fazer em casa boa comida caseira.
Como prezo a minha cozinha de amador exigente, há muitos anos que digo que, em regra, só vou a um restaurante de onde saia a pensar que não teria conseguido inventar ou fazer melhor em casa. Dizer isto hoje já é banal, porque, felizmente, estabeleceu-se já uma nova cultura gastronómica, exigente, a querer a maior qualidade de uma cozinha inovadora, de chefe. Infelizmente, isto só se consegue, a alto nível, em restaurantes que não estão ao alcance da bolsa do cidadão comum (no mínimo, 60-75 euros, ou então não vale a pena a experiência, se comer só o prato mais baratinho e só com água).
No entanto, começo a encontrar com frequência alguns restaurantes mais acessíveis (digamos que à volta de 25 €, em média, sem vinho) que, não sendo o Eleven ou o Valle Flor, estão a milhas dos tais restaurante caseiros (ou churrasqueiras, pior ainda) e muitas vezes conseguem surpreender pela originalidade e modernidade das receitas, pela confecção e até pelo profissionalismo do serviço. Creio que é um desafio aos restauradores, estas experiências de preço médio mas com boa relação qualidade-preço. Não me parece arriscado, porque já tenho ido a alguns a abarrotar. Se eu quisesse abrir um restaurante, é por aí que eu ia.
Como é, Vital? (II)
P.S. (13:04) - Pensando bem, creio que este tema levantado pelo Vital, modelo monista ou dualista, me vai dar muito que escrever. Por isto, para limpar antecipadamente o terrreno, faço novo desafio ao Vital. O que é o órgão de supervisão (externa) que defende? Apenas um órgão de garantia da "accountability" da universidade ou também com poderes de decisão estratégica?
23 agosto, 2007
Só falta uma brisazinha para o arranque [*]
É que já não falta nadinha ao progressivo Ensino Superior Português, nas próximas décadas, porque, via o Jornal Público, já temos de uma penada:
1.Promulgado novo regime jurídico do Ensino Superior;
2. Aprovada criação da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior;
3. Governo aprova crédito para estudantes do superior e afasta aumento de propinas.
Porque será que esta feliz ocorrência de hoje, me faz lembrar uma cena pessoal doméstica, de outra data de há, mais ou menos, 50 anos atrás: Um meu familiar, então com três anos de idade, ou nem tanto, em transe de birra - sentado desgostozíssimo no pátio de uma casita, aonde passávamos as férias de verão - chorava, desalmadamente, e gritava, soluçando, convulsivo e ranhoso: "Mãããeee, tenho pópós,... tractor,... (a)vião... t(r)iciclo, ...tambo(r),...patins, ...berlindes... e bicicleta de rodinhas ... Tenho tudo! Só não tenho amigos para brincar..."
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[*] Pois, eu ando há uns dez dias bem medidos, a avaliar a brisazinha necessária ao subsistema politécnico público. Meus caros e raros leitores, tenham lá um bocadinho de paciência, tão logo que eu tenha a brisa pronta, peço-lhes a vossa opinião. Está prometido.
Como é, Vital?
Entre muito mais, veio à baila a autonomia universitária. Alinho mais pelo Vital:
Mas esse diploma não implica nenhuma restrição da autonomia universitária; pelo contrário, aumenta-a. Reforça-se a autonomia das instituições, desde logo quando se abre a possibilidade de opção por um regime de fundação de direito privado, muito mais flexível em termos de gestão, mas também quando se aponta para o fim do regime de numerus clausus, quando se garante em termos absolutos a autonomia disciplinar, quando se clarifica a autonomia de gestão patrimonial, financeira e de pessoal.
O que sofre uma grande reformulação é, sim, o modelo de "democracia universitária" até agora vigente, aliás sem paralelo em lado nenhum, especialmente no que respeita ao peso dos estudantes nos órgãos de governo (que é reduzida) e dos funcionários (que praticamente desaparece), sendo em contrapartida reforçado o papel dos professores. Mas também aqui estas mudanças vêm ao encontro de opiniões que defendo há muitos anos, e que de resto são hoje compartilhadas pela generalidade dos especialistas, à esquerda e à direita.
Importa mais uma vez assinalar que esta "racionalização" do autogoverno do ensino superior não implica nenhuma ingerência governamental nas instituições, que continuarão a ser governadas exclusivamente por membros eleitos ou cooptados (no que respeita aos elementos externos do "conselho superior"). [Que lapso, Vital, para um redactor da lei - é conselho geral, não conselho superior].
Talvez a principal motivação desta nota seja este parágrafo de Vital Moreira.
No que respeita à suposta defesa da restrição à autonomia universitária, a acusação que me é feita só pode relacionar-se com a defesa que fiz do regime jurídico do ensino superior recentemente aprovado (concordância em geral, importa sublinhar, pois discordo de algumas soluções, incluindo quanto ao sistema de governo).
Não me surpreende, porque creio conhecer bem as posições do Vital. No entanto, ele aparece hoje como construtor da lei. Era bom que clarificasse isto, em que é que discorda do modelo de governação. Estou certo de que muitos dos meus leitores gostariam de saber.
22 agosto, 2007
Um político pode ser ingénuo?
“Cheguei há mês e meio ao mundo dos blogs. Pessoa amiga avisou-me: neste universo ganha-se em tempo de reacção, o que se perde em serenidade de reflexão. Tem toda a razão. A pulsão para comentar o imediato imediatamente é muito forte e o risco aumenta exponencialmente quando quem comenta ocupa funções de representação de terceiros, como é o caso.”
Patético! Far-me-ia rir se não fosse antes caso para chorar, tratando-se de um destacado dirigente político e eurodeputado. É essa pulsão irresponsável que também o domina na actividade parlamentar? Sim, falo de irresponsabilidade, enquanto que o MP fala de risco. A tendência que temos para adoçar as coisas!
Não é irresponsabilidade usar um instrumento (a blogosfera) que não se domina minimamente? E quem é que garante a MP que é obrigatório um tempo de reacção curto? Mesmo que o seja em alguns casos, há uma regra de ouro: escrever um rascunho, deixar passar umas horas, reler, reflectir, reescrever e depois enviar. Não há nada mais irreversivelmente devastador do que o botão “send”.
Não quero crer que este trabalho elementar de reflexão e de rigor não seja o que MP faz antes de uma intervenção no Parlamento Europeu. Se não, os seus eleitores que pensem bem.
Escreveu também MP:
“Quero destacar o texto do meu amigo Paulo Varela Gomes, de quem costumo concordar e discordar com o vigor que ele sempre coloca nos argumentos. Mandam as regras que um político não exiba “estados de alma”. Eu prefiro outra, bem mais importante, para que o texto do Paulo chama a atenção - sem alma, sem nervo e, principalmente, sem um sentido agudo da injustiça e dos dois pesos e duas medidas que nos governam, um político não serve rigorosamente para mais nada, senão para manter as coisas como estão. Obrigado, portanto.”
É boa prova de que, de facto, MP não conhece a blogosfera. Umas das características deste público é um bom nível intelectual e um grande sentido crítico. Esta tirada demagógica roubou mais uma data de leitores ao Sem Muros, eu incluído.
Em grande parte, o texto anterior é a reprodução de comentários que deixei no blogue de Miguel Portas. Retomo, para lhe dar maior ênfase, uma questão importante, a da ideia do necessário imediatismo de um blogue. Em alguns casos, funciona, mas com base em grandes qualidades pessoais. Estando visceralmente em desacordo com Pacheco Pereira, reconheço-lhe esta qualidade. Outros, muito inteligentemente, como Vital Moreira, publicam umas notas curtas, a levantar bem os problemas mas sem se comprometerem muito e sem abrir portas ao risco da asneira repentista. Infelizmente, a maioria dos blogues políticos é intragável, com entradas à pressão, irreflectidas, muitas vezes a terem depois de serem engolidas com língua de palmo.
Eu não me vou dando mal com a minha lista acumulada de textos, que me vão saindo com gestão cuidada - não digo que certa - dos momentos, da diversidade de temas, do estado de maior calma de quem me lê sobre qualquer assunto. Quantas vezes começo as minhas entradas por "há já algum tempo, escreveu X..."? Muitos dos blogues de que mais gosto também publicam frequentemente textos um pouco "intemporais". Claro que não estou livre do pecado. Neste caso em foco, já escrevi alguns textos sobre os transgénicos. Mas não é coisa que me agrade e dá-me imenso trabalho, porque, como disse, acreditem que isso me obriga a reescritas e reescritas, em tempo curto. E o tempo é bem precioso que eu gosto de saborear com qualidade, sem que seja ele a mandar em mim. Vantagens da reforma.
21 agosto, 2007
TG
Só lhes venho falar de TGs porque faz hoje, precisamente, uma semana que ando um bocado envergonhada com o que, honestamente, penso serem as tristíssimas figuras públicas, actualmente, já com repercussões internacionais, de alguns dos meus compatriotas.
A questão a que me refiro, subscrevendo e parafraseando JVC, deste blog, é mesmo muito grave e, a meu ver, tudo se resume a duas nossas já consagradas atitudes deploráveis: muita gente com pouco que fazer e desprovida de know-how para defender, à séria, as suas pretensas causas, e pouca gente que teria muito que fazer e muitas causas a defender, mas que pouco ou nada faz, nem deixa fazer.
Incluo no primeiro grupo (A) as desabonatórias exibições das Associações Ambientalistas Verde Eufêmia e Almargem e, para mal dos meus pecados, no segundo grupo junto, em exequo, o B) Ministério da Agricultura Desenvolvimento Rural e Pescas (MADRP) e C) a GNR.
A) Quanto às Associações Ambientalistas, além da minha mais absoluta e radical reprovação dos seus processos e métodos, nesta e noutras, demasiadas, intervenções semelhantes (ex: co-incineração) não tecerei comentários, para os fazer precisaria, previamente, discorrer pelo menos uns dois ou três compêndios temáticos, e não estou nem com tempo nem com disposição para isso - quem sabe, um dia...
B) Quanto ao MADRP, vejamos, apesar das INFELIZMENTE, reduzidíssimas actividades produtivas neste nosso país, na área dos transgénicos, deveria:
1 - garantir e fazer cumprir a Directiva Europeia n.º 2001/18/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 12 de Março, e a Legislação Nacional, a saber: Decreto-Lei n.º 72/2003, de 10 de Abril, Decreto-Lei n.º 164/2004, de 3 de Julho, Decreto-Lei n.º 168/2004, de 7 de Julho, o Decreto-Lei n.º 160/2005, de 21 de Setembro, a Portaria n.º 904/2006, de 4 de Setembro,
2 - Respeitar o Principio da Precaucionaridade nos seus elementos chave: "Anticipatory Action: There is a duty to take anticipatory action to prevent harm. Government, business, and community groups, as well as the general public, share this responsibility. Right to Know: The community has a right to know complete and accurate information on potential human health and environmental impacts associated with the selection of products, services, operations or plans. The burden to supply this information lies with the proponent, not with the general public. Alternatives Assessment: An obligation exists to examine a full range of alternatives and select the alternative with the least potential impact on human health and the environment, including the alternative of doing nothing. Full Cost Accounting: When evaluating potential alternatives, there is a duty to consider all the reasonably foreseeable costs, including raw materials, manufacturing, transportation, use, cleanup, eventual disposal, and health costs even if such costs are not reflected in the initial price. Short-and long-term benefits and time thresholds should be considered when making decisions. Participatory Decision Process: Decisions applying the Precautionary Principle must be transparent, participatory, and informed by the best available science and other relevant information."
Quando o MADRP desata a pular a esmo as fases e etapas que lhe competem, sobretudo as fases de conveniente divulgação pública, está a chamar por sérias complicações posteriores. Não adianta nada agora vir dizer que o agricultor em causa cumpriu a lei.
O que seria preciso era TODOS sabermos que este Senhor agricultor cumpria a lei dos TG, e que o Estado cumpriria também a parte que lhe cabe, isto é, lhe asseguraria em contrapartida TODOS os direitos.
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- O perigo REAL que Portugal enfrenta, actualmente, é o nosso firme propósito de querermos, à viva força, e até sob protecção da inércia da segurança pública e governamental, permanecer atrasados, ignorantes e dependentes.
-"Spanish growers have led the adoption of GMO in Europe - resulting in annual reductions of pesticide applications of up to
Terrorismo ecologista (III)
2. Uma das coisas que mais costuma surpreender os meus alunos de biologia molecular é que parece haver uma aberração na dimensão total dos códigos genéticos. O maior é o humano, mas só se esquecermos o caso especial do trigo e do milho, mais ricos geneticamente do que o homem. Só porque, desde há milhares de anos, o homem cultiva cereais com o dobro do número inicial de cromossomas. A biotecnologia não é coisa moderna! Com isto, ninguém hoje é capaz de dizer o que era o milho primitivo.
3. Há riscos? Claro que sim, mas controlados. Não posso esgotar a lista, mas vou dar alguns exemplos. Obviamente que, ao comermos cereais transgénicos ou carne de animais alimentados com eles, não estamos a incorporar no nosso genoma o gene estranho. Não estranhem eu começar por isto, é porque já li este disparate. O que estamos a ingerir é a proteína estranha. Isto poderia ser significativo no caso do cereal, mas este serve maioritariamente é para rações. No caso da carne, a dose é negligível. Toxicidade não há, em testes muito mais exigentes do que os utilizados para numerosos produtos da nossa vida corrente (as meninas verdeufémias não usam cosméticos?). Fica, não negligivelmente, a possibilidade de alergias, mas estas são por natureza individuais e não testáveis com facilidade. Claro que há outros problemas; não me acusem de ignorância, é que tenho de me cingir ao espaço de um “post”. De qualquer forma, nem tem importância, porque a maioria destes activistas é iletrada e cientificamente ignorante (excepto na sua certeza de que os cientistas, por natureza, são uns malfeitores e génios horrorosamente frankensteinianos).
4. Diverte-me ver os seus cartazes de milho tóxico e milho doente. Lembra-me a velha criada preta do “Bem vindo, Mr. Chance” que dizia que ele só tinha papas de milho na cabeça. Há por aí gente que, infelizmente, parece ter é papas de milho doente ou de milho tóxico. Os seus patronos políticos e ideológicos, que não têm papas nenhumas na cabeça, não percebem isto, ou são desonestos política e intelectualmente?
5. Caso especial é o do potencial risco para a biodiversidade. Estas culturas não vão dominar as outras? Estes activistas tão bem informados desconhecem que, cada vez mais, os cereais transgénicos serão estéreis, não haverá pólen fértil a esvoaçar pelos campos. A cada sementeira, obrigatoriamente novas sementes. Mesmo assim, por precaução, é obrigatório actualmente manter uma distância de segurança entre culturas normais e culturas transgénicas.
6. Dizem que ainda não está provado que não haja riscos. Cientificamente, isto é uma estupidez. Não pode haver demonstração absoluta, apenas a aceitação de uma certa probabilidade significativa. Hoje, nos EUA, 90% da soja cultivada, um principal ingrediente das rações, é transgénica. Onde é que há alguma suspeita de risco? Insisto: a discussão sobre os transgénicos é irracional, ideológica e política, e principalmente dominante na Europa porque os alemães ainda não souberam digerir os seus pecados históricos.
7. E há risco zero, em alguma coisa da nossa vida? Só metendo-me num buraco para não ser atropelado, não naufragar num cruzeiro, não me ir num acidente de avião, deixar-me morrer com um AVC por não tomar anti-hipertensivos, que têm efeitos secundários não negligíveis. Mesmo assim, o buraco teria de ser à prova de raio e de terramoto. E, já agora, à prova do risco mais absoluto que há, o de morrer, seja quando e como.
8. Finalmente, uma pequena nota suscitada por um artigo de Vasco Graça Moura (Público, 21.8.2007) em que ele afirma que a invocação de Eufémia indica logo quem está por detrás disto. Se está a pensar no PCP, creio que se engana. Sobre isto, veja-se a argumentação sólida de Tiago Barbosa Ribeiro, no Contratempos. Também não digo que seja o BE mas, se não é, muito puxão de orelhas vai levar Miguel Portas.
À margem. Um amigo criticou o título destas notas, por exagerado. Prefere ecovandalismo. O que é preciso para que seja terrorismo, que haja mortos? Creio que a diferença é outra. Vandalismo é selvajaria gratuita, sem motivação que não seja pura e simples patologia psíquica e social. Terrorismo é o mesmo acto praticado como meio consciente de afirmação ideológica ou política. Neste sentido, mesmo que o acto tenha sido “soft”, para mim é terrorismo.
Terrorismo ecologista (II)
Passou-se o mesmo com a energia nuclear. É certo que houve Chernobyl e que há o problema do armazenamento dos resíduos. Mas a segurança de uma central nuclear é inferior à de uma central térmica? E qual é a mais poluidora, a que mais contribui para o efeito de estufa? No entanto, a atitude política em relação ao nuclear parece-me marcada, fundamentalmente, é pelo sentido de pecado de Hiroshima e Nagazaqui.
Isto fez-me lembrar esta gravura que vi pela primeira vez no livro da OMS comemorativo da erradicação da varíola, doença que matou milhões e milhões de homens, ao longo da história, erradicação que se ficou a dever, exclusivamente, à vacina antivariólica. Seis anos depois de Jenner a ter inventado, já havia uma sociedade antivacinação que, em 1802, publicou este cartaz, com vacas a sair de testas e narizes (a vacina era preparada com varíola bovina, daí o nome de vacina) e com uma alusão bíblica ao bezerro de ouro. O bicho humano dificilmente muda.
20 agosto, 2007
À cautela, apertem os cintos
Mesmo que a nossa ENDS não descole do "ground zero", será muito útil, como iremos testemunhar, mantermos os cintos bem apertados....
Terrorismo ecologista
O que se passou em Silves não é uma acção legítima de protesto, m uito menos uma daquelas que, no quadro lega, os ambientalistas souberam frequentemente inventar, com graça e, daí, impacto mediático. Tratou-se da destruição de um hectare de propriedade de um agricultor, talvez seriamente prejudicado economicamente. tratou-se de vandalismo. Tratou-se de crime, para todos os efeitos. Tratou-se, vou mais longe, de uma espécie de terrorismo.
Isto suscita-me duas notas marginais. Em primeiro lugar, a questão dos transgénicos. Sinto-me autorizado a discutir, não só pela minha experiência científica mas, mais precisamente, porque foi assunto que muito tive de estudar, como membro de uma comissão oficial. Conheço muito bem toda a lista de imaginados ou potenciais riscos, em geral com probabilidade negligível. Nunca qualquer das variedades patenteadas me suscitou preocupações em relação a esses riscos.
Em contrapartida, as vantagens são enormes. Neste caso do milho, trata-se principalmente da introdução de um gene insecticida, portanto com um objectivo principalmente económico. Mas este objectivo não é crucial, por exemplo, nos países subdesenvolvidos da cultura do milho? E alguém irá contra uma banana transgénica que vacine contra a cólera ou os rotavírus milhões de crianças africanas que hoje morrem de diarreias infantis (não estou a fantasiar, está na forja)? Ver no jornal de ontem a fotografia de um cartaz em Silves a dizer “Fora milho doente no Algarve” ou ler que os organizadores diziam estar a lutar contra “um foco de milho tóxico” é para mim a prova de que esta gente, na sua irracionalidade e ignorância, é tão respeitável como qualquer outro fundamentalista fanático.
Maior responsabilidade tem o eurodeputado Miguel Portas, também dirigente do Bloco de Esquerda. Não me digno discutir o que escreveu no seu blogue Sem Muros. Estes manos Portas têm mesmo de ser crianças espevitadas e traquinas durante toda a vida?
Finalmente, a inadmissível atitude da GNR, incapaz de defender, ao menos, a propriedade de um cidadão. Sem comentários.
Jónico, dórico, coríntio e ferroviário
Dos mitos urbanos da minha infância, havia a história do pedreiro que deu asas à imaginação e arredondou um capitel com volutas de combóio.
A coisa aconteceu nas obras de restauro do Convento da Madre de Deus, em Xabregas, Lisboa. As obras iniciaram-se por volta de 1870, tendo um ano depois sido inaugurada a estação de Santa Apolónia. Ainda havia ecos da célebre viagem de inauguração da linha de caminho-de-ferro que ligava Lisboa ao Carregado. A zona oriental de Lisboa tinha uma economia ribeirinha que sofreu um forte impulso pelas obras públicas e pela inauguração da nova ferrovia, que 1870 já chegava a Santarém.
Em vez dos clássicos motivos de um neo-manuelino ou da estatuária sagrada, o tal pedreiro resolveu mostrar o que de novo e importante havia na cidade. O capitel pode ser visto no Museu Nacional do Azulejo. Está num dos claustros que liga o convento à igreja e terá que ser procurado, pois não há qualquer indicação da sua existência.19 agosto, 2007
Nota gastronómica (XXIII)
Quem tem uma boa herança de qualidade gastronómica e culinária nunca se atrapalha. Nem é preciso invocar o célebre "desenrascanço" de Pierre Fraisse com o seu lavagante à americana. Quando eu era miúdo, começámos a ir passar férias para uma quinta em que havia umas ervas esquisitas. Dizia o caseiro, meu inesquecível Sr. Manuel, que a Sra. Conceição, sua mulher, tinha ouvido dizer à sua mãe que aquilo se chamava beldroega e que dava uma sopa muito boa.
Portento culinário e inventivo que era a minha avó, sempre curiosa, logo ficou interessada mas não sabia como fazer a sopa. Sabendo que a erva tinha bom aroma, lembrou-se de adaptar o que ela bem conhecia, a sua tradicional sopa de funcho. E aqui fica a sopa de beldroegas como ainda hoje a faço em casa, sabendo-me bem à da casa de S. Rita, na Fajã de Baixo (que pena, hoje quase em ruínas).
1 ramo grande de beldroegas, 4 batatas, 1 cebola, 2 dentes de alho, 1 chispe, 150 g de toucinho, 150 g de linguiça (no continente, um chouriço alentejano), 200 g de feijão branco demolhado, sal, pimenta preta, pimenta da Jamaica (ou cravinho).
Cozer em água sem sal, só a cobrir, o chispe previamente esfregado com sal durante 2 horas, o toucinho e a linguiça. Aproveitar o caldo. Cozer o feijão com a cebola e o alho esmagado, com água a cobrir. Juntar as batatas. Quando as batatas estiverem cozidas, esmagá-las no caldo, mas sem esmagar o feijão. Juntar as beldroegas, acrescentar o caldo das carnes e deixar cozer. Corrigir os temperos. Claro que as carnes não vão para o lixo, mas fica o desafio aos leitores sobre o seu aproveitamento.
E, com isto, parodiando dito célebre, acho que nunca escrevi que "na cozinha nada se cria, nada se perde, tudo se transforma".
18 agosto, 2007
Countdown: 8...7...6....
O texto, com alguns parágrafos com os quais até concordo, a meu ver, não está, no entanto, em condições de ser repensado, deveria era ser pensado de raiz.
Até agora, esta Lei foi apenas uma sequência federativa de falhanços, mas pode ser que ainda haja lá, em Belém, uma réstia de iões pensantes saudáveis....
17 agosto, 2007
Os vencimentos dos políticos
Também é vulgar comparar-se com o sector privado, mas são mundos à parte. No entanto, há uma aproximação que me parece fazer mais sentido, a do sector público empresarial. A nossa despesa com os políticos (só os membros dos órgãos de soberania, com exclusão dos dirigentes da função pública) é de 0,28% das despesas de pessoal da administração pública. Fui ver as contas de 2006 da Caixa Geral de Depósitos. A despesa com os órgãos sociais representou 0,52% dos custos de pessoal, praticamente o dobro.
Afinal o que queremos? Que os órgãos políticos funcionem com a eficiência da CGD (e nem falo do BCP ou do BCI) ou que esta funcione à maneira política?
16 agosto, 2007
Nota gastronómica (XXII)
Hoje, Joachim Koerper (do Eleven) surpreende-me. Uma receita para o leitor comum do jornal que exige assadura em forno a vapor! Já não há bom senso? Eu até imito minimamente o forno a vapor, mas quantos leitores o conseguem?
Um exemplo notável
Com estes recursos, o governo açoriano deu importância à ciência e tecnologia, não só ao betão. Criou uma direcção regional, que inicialmente até estava na dependência do presidente do governo regional. Entre outros domínios de acção, destacou-se o das tecnologias da informação, de tal forma que os Açores eram recentemente a segunda região portuguesa em taxas de implantação e utilização das TI.
Ao lado da direcção regional, funciona um fundo regional da ciência e tecnologia, uma mini-FCT regional, com papel de relevo no apoio a projectos regionais. É este fundo que agora abre concurso de bolsas para 24 doutorados. Para uma região de 250.000 habitantes, é de assinalar. Mais ainda se considerarmos que o principal acolhedor será a Universidade dos Açores. Estes novos doutorados representarão 14% dos actuais professores e investigadores da universidade.
Chapeau!
14 agosto, 2007
Estará o futuro no prego?
O autor fala-nos da "concessão de empréstimos para estudo (incluindo financiamento de propinas e custos de subsistência) cuja amortização depende do rendimento que o titular do empréstimo vem a auferir ao longo da sua vida activa".
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Já tinha ouvido, muito ao de leve e ao longe, discorrer sobre esta ideia - e, deixando de lado, as filosofias do texto da Constituição Portuguesa, até porque, nos dias de hoje, não parecem estar a resultar muito bem em muitas frentes do seu cumprimento - pode tratar-se até de uma alternativa equitativa e incentivadora de francas melhorias no ensino superior, nomeadamente, no que se refere ao sucesso escolar. Nunca valorizamos, como por vezes merecem, as coisas que são baratinhas.
Torna-se de facto injusto a nível nacional, que uma clara minoria da população portuguesa (menos que 250 000 cidadãos) pague, desde que não isenta, um valor sempre inferior a 25% dos custos reais da sua formação inicial de nível superior (que se situam, em média, por aluno e ano em 4,403 Euros na Universidade e 3,383 Euros nos Politécnicos, e não incluem a Acção Social Escolar) [1].
Mais à frente, no seu depoimento, o autor esclarece: A vantagem deste sistema é evidente: a amortização depende directamente da capacidade de pagamento do titular e é determinada não pelo ponto de partida (se nasceu numa família rica ou pobre), mas pelo ponto de chegada (se vem a auferir rendimento suficiente para pagar o empréstimo ou não). Desta forma, consegue-se transferir parte significativa dos custos do sistema para os seus beneficiários efectivos, sem estabelecer cedências em matéria de equidade.
.....
E o artigo é rematado por: Num sistema deste tipo o Estado retém uma capacidade de controlo e influência importante. São-lhe confiados os papéis de co-financiador nos termos acima mencionados; facilitador da implementação do sistema de empréstimos referido; promotor activo de equidade pelo favorecimento das classes sócio-económicas mais baixas; e regulador da qualidade da prestação dos serviços lectivos, acreditando instituições, monitorizando a sua performance, e impondo a publicação dessa informação para uso dos candidatos a aluno.
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Não quero parafrasear Karl Marx, quando diz "não sou Marxista" mas, se estiver a ver bem a questão, sou claramente a favor da ideia ... não sou?
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[1] Tertiary Education in Portugal Background Report prepared to support the international
Nota gastronómica (XXI)
Ingredientes (in)dispensáveis
Volto aos utensílios (in)dispensáveis. Desta vez é a minha "daubière". Não tenho tradução. É um pote cerâmico que tanto pode ir ao lume como ao forno, mas que tem uma característica essencial, um rebordo largo entre a caçarola e a tampa, que se pode vedar com uma cola tradicional de farinha e água, o grude. Esta minha tem a vantagem adicional de uma cavidade na tampa, para controlo da cozedura, mantendo-se a cavidade da tampa sempre com água.
"Daube", na cozinha tradicional francesa, é um estufado, no forno ou ao lume, muito lento e demorado, a temperatura relativamente baixa e com o recipiente vedado, como disse. Obrigatoriamente, vinho e ervas. Clássicas são a "daube" bearnesa, a provençal e a borgonhesa. Esta, como toda a gente sabe, é um estufado de carne em vinho tinto, com cebola, cenouras, cogumelos (modernice) e batatas. E é sobre a cozinha em vinho tinto que vou dizer alguma coisa.
Nas carnes, temos bons exemplos na cozinha portuguesa, assados, não "daubes", de que vou referir a alcatra terceirense (que, nas casas ricas, se faz com vinho branco, tradicionalmente o verdelho de mesa dos Biscoitos) e a chanfana bairradina, relacionando-as com dois emblemas franceses, o tal "boeuf bourguignon" e o "coq au vin". Vejam só, boi e galo. Experimentem fazer um "coq au vin" com frango e vão ver. É que o vinho tinto obriga a cozinhado lento – "no se puede hacer mas lento" - e, portanto, a carne que não se desfaça entretanto. E alguém já experimentou fazer uma chanfana de cabrito?
Isto deixa-me alguns problemas com uma coisa de que gosto muito, o frango na púcara, à moda de Albobaça. Pelo que disse, faço-o sempre com um vinho branco leve mas bem vincado de sabor, para que, no fim de um assado forçosamente breve, não haja gosto a vinho fresco. Não vou dizer qual o vinho, apenas que o meu favorito não fica muito longe de Alcobaça, que já foi um célebre vinho de mesa e que hoje está esquecido. Alguém adivinha?
P. S. (11:15) - Chamaram-me a atenção para um pormenor da daube provençal que eu desconhecia. Manda a tradição que a dauvière seja lavada sem esfregar demais, como o alguidar de alcatra terceirense. Vai ficando alguma patina de daube para daube. Nem o mestre Escoffier indica esta recomendação, mas, com a minha experiência da alcatra, vou por ela.
13 agosto, 2007
A pérfida Cloé
Um dia uma víbora mordeu num pé
A pérfida Cloé.
Perguntarão: Que sucedeu
à pérfida Cloé ? Morreu ?
Isso morreu ela...
Mal sentiu a mordidela.
Não teve febre, nem ardor, nem nada.
- A bicha é que morreu envenenada!
12 agosto, 2007
Os museus de província
Se bem me lembro, a nota referia-se a um museu que nunca visitei, o Museu Etnográfico e Arqueológico Dr. Joaquim Manso, na Nazaré. O que eu espero é que esse museu seja para muitos jovens da Nazaré o que foi para mim o Museu Municipal Carlos Machado (MMCM), de Ponta Delgada.
É provavelmente o meu primeiro sinal de alforria intelectual. Criança ainda pela mão do pai, era ele que me guiava, até que me libertei e parti à exploração do museu, em tardes de domingo que sabiam a curtas, e mesmo assim sala a sala. Da curiosidade das raízes, na secção de etnografia, ao orgulho de ver as esculturas de um tio, até ao interesse mórbido por várias monstruosidades biológicas ou pelas relíquias esqueléticas de uma santa. Sem esquecer o Chico, macaco malandro que se masturbava para as sopeiras enquanto os magalas as apalpavam.
Se não fosse isto, eu não seria hoje o visitante compulsivo de museus que sou, conhecendo muitos pequenos museus de província por toda a Europa e Américas, muitas vezes bem interessantes. Que mais não seja, transmitindo-me sempre a ideia de que, por detrás, está alguém com enorme paixão por aquele museu. Por isto, ainda hoje não vou a S. Miguel, com algum tempo, que não vá ao meu museu. Um dia destes, escrevo sobre ele. Para já, visitem o seu sítio da net, muito bem feito. E, não podia esquecer, a referência a Nestor Sousa, grande director que foi do museu, embora muitos o conheçam melhor por ter sido o mais pungente e comovedor Job do "Breve Sumário da História de Deus" (TEUC).
Nota final – VPV e JMF já visitaram o Castro Guimarães, o museu do Funchal, o Malhoa, o de Lamego, para nem falar do Alberto Sampaio? Já se comoveram com a singeleza tão bonita dos museus de Sines, de Monsaraz, da sinagoga de Tomar? Há muitas Dalilas por este país, sem a mesma cobertura mediática.
11 agosto, 2007
Trocando em miúdos a anterior economia do fósforo
Ao contrário de mim, ele não põe dedinhos sobre feridas, faz mesmo uma radiografia de extirpação radical das asneiras (eu chamo-lhe crime de atentado à ingenuidade) que aprovámos, e fundamenta o raciocínio que usou.
ESTE ALEXANDRE É MESMO O MÁXIMO, VERDADEIRA RARIDADE, EM PORTUGAL.
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Extracto de 1º comentário de Alexandre Sousa
FRASCATI MANUAL:
A definição básica de I&D presente na edição actual do FM é:
“Research and experimental development (R&D) comprise creative work undertaken on a systematic basis in order to increase the stock of knowledge, including knowledge of man, culture and society, and the use of this stock of knowledge to devise new applications." (OECD, 2002, Pg. 63) O manual define três camadas de actividade para o I&D, cada uma com horizontes diferidos no tempo no que se refere à sua exploração potencial: - investigação básica, - investigação aplicada - desenvolvimento experimental. Além disso a investigação básica está subdividida em investigação básica pura e investigação básica orientada. "Basic research is experimental or theoretical work undertaken primarily to acquire new knowledge of the underlying foundations of phenomena and observable facts, without any particular application or use in view." (OECD, 2002, Par. 240)
"Oriented basic research may be distinguished from pure basic research as follows: Pure basic research is carried out for the advancement of knowledge, without seeking long-term economic or social benefits or making any effort to apply the results to practical problems or to transfer the results to sectors responsible for their application. Oriented basic research is carried out with the expectation that it will produce a broad base of knowledge likely to form the basis of the solution to recognised or expected, current or future problems or possibilities." (OECD, 2002, Par. 243).
"Applied research is also original investigation undertaken in order to acquire new knowledge. It is, however, directed primarily towards a specific practical aim or objective." (OECD, 2002, Par. 245)
"Experimental development is systematic work, drawing on knowledge gained from research and practical experience, that is directed to producing new materials, products and devices; to installing new processes, systems and services; or to improving substantially those already produced or installed." (OECD, 2002, Par. 249)
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Extracto de 2º comentário de Alexandre Sousa
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Mais, ainda vou voltar à carga, apesar de como sabemos, mesmo que o Presidente da República não promulgue a lei e ela volte à Assembleia da República, já só precisa de ser aprovada por maioria simples, para o Presidente a ter que promulgar.