03 agosto, 2007

Sócrates, o nosso Blair?

Tenho por regra, respeitando os direitos de propriedade editorial, deixar passar alguns dias antes de divulgar um artigo de jornal que não esteja acessível online. É o que se passa com um artigo notável de São José Almeida, "Já não há dons Sebastião...", no Público de 28 de Julho. As minhas discordâncias são de pormenor ou em relação a algum extremar de uma atitude de remissão absoluta do PS actual para uma posição de direita. Note-se que só falo de extremar.

Entende SJA que hoje, no PS, domina a direita do partido. Creio que isto merece alguma reflexão. Não é caso único, porque reflecte à portuguesa o que foi o blairismo e agora, em Itália, a deriva do campo da esquerda, que já nem é rosa e nem já quer ser margarida. Também podemos pensar num movimento inverso, de uma ala conservadora, como acontece na Suécia de Reinfeldt, que, querendo preservar alguma coisa do estado social emblemático, vem a encontrar-se neste novo terreno europeu pantanoso. Ressalve-se, no entanto, que entre Blair e Sócrates vão milhas - britânicas - de distância.

O que me parece mais preocupante é que, em relação ao PS português, as coisas não são tão lineares como SJA escreve. Não estou convencido de que domine hoje a direita do PS. Aliás, não quero crer que uma ala direita do PS, assumida, tenha a força que parece ter o socratismo, que me parece cruzar transversalmente diversas alas tradicionais. O que me parece mais perigoso é que gente de esquerda, de todas as alas do PS, estejam a ser cada vez mais influenciadas por um novo "determinismo histórico", em termos de que a economia, a competitividade nacional (ou a das empresas?), as regras do euro, a contenção do défice, o pavor de nos fugirem os capitais, arrasem as considerações políticas e ideológicas.

Dito isto, reproduzo algumas passagens importantes do artigo, para quem não tiver a paciência ou o tempo de o ler na íntegra. São as que se referem à direita, neste contexto assoprado pelo PS e que não me parece ter equivalente politico europeu, nos tempos actuais.

Mas se a viragem do PS à direita veio obrigar a esquerda a repensar-se, os custos sobre a direita partidária não são menores. E o papel de fantasmas políticos, de personagens sem alma, de cadáveres políticos adiados, que está a ser representado neste momento por Marques Mendes e por Paulo Portas é uma inevitabilidade histórica de dois partidos que, de repente, viram o seu espaço, o seu caminho ocupado por outro e que ficaram sem chão para andar. É a falta de guião e de diálogo para o desempenho da conquista e do exercício do poder.
(...)
… o problema do PSD continuará a ser estruturalmente o mesmo, o da crise de representação partidária da direita, cujo projecto foi engolido por José Sócrates, deixando, aliás, os agentes políticos, económicos, culturais e sociais da direita portuguesa a baterem palmas e a pedirem bis de satisfação com o Governo PS. O que nem sequer torna a resolução da representação partidária tradicional da direita assim tão urgente. Ela sente-se representada no PS de José Sócrates.

Sem comentários: