12 agosto, 2007

Os museus de província

Em nota no Público, há alguns dias, Vasco Pulido Valente, com apoio do director, num editorial, deprecia os pequenos museus regionais. Parece-me que isto tem alguma coisa a ver com o caso Dalila Rodrigues, o que é parvoíce. O MNAA merece discussão a um nível que não pode prejudicar o nível de discussão da generalidade dos pequenos museus, a não ser no grau de dedicação dos seus responsáveis, em que muitos directores obscuros não se devem sentir diminuídos.

Se bem me lembro, a nota referia-se a um museu que nunca visitei, o Museu Etnográfico e Arqueológico Dr. Joaquim Manso, na Nazaré. O que eu espero é que esse museu seja para muitos jovens da Nazaré o que foi para mim o Museu Municipal Carlos Machado (MMCM), de Ponta Delgada.

É provavelmente o meu primeiro sinal de alforria intelectual. Criança ainda pela mão do pai, era ele que me guiava, até que me libertei e parti à exploração do museu, em tardes de domingo que sabiam a curtas, e mesmo assim sala a sala. Da curiosidade das raízes, na secção de etnografia, ao orgulho de ver as esculturas de um tio, até ao interesse mórbido por várias monstruosidades biológicas ou pelas relíquias esqueléticas de uma santa. Sem esquecer o Chico, macaco malandro que se masturbava para as sopeiras enquanto os magalas as apalpavam.

Se não fosse isto, eu não seria hoje o visitante compulsivo de museus que sou, conhecendo muitos pequenos museus de província por toda a Europa e Américas, muitas vezes bem interessantes. Que mais não seja, transmitindo-me sempre a ideia de que, por detrás, está alguém com enorme paixão por aquele museu. Por isto, ainda hoje não vou a S. Miguel, com algum tempo, que não vá ao meu museu. Um dia destes, escrevo sobre ele. Para já, visitem o seu sítio da net, muito bem feito. E, não podia esquecer, a referência a Nestor Sousa, grande director que foi do museu, embora muitos o conheçam melhor por ter sido o mais pungente e comovedor Job do "Breve Sumário da História de Deus" (TEUC).

Nota final – VPV e JMF já visitaram o Castro Guimarães, o museu do Funchal, o Malhoa, o de Lamego, para nem falar do Alberto Sampaio? Já se comoveram com a singeleza tão bonita dos museus de Sines, de Monsaraz, da sinagoga de Tomar? Há muitas Dalilas por este país, sem a mesma cobertura mediática.

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