31 outubro, 2007

Revisão do Desporto de Reis 1

Resolvi recapitular e pormenorizar o meu pensamento, comentários e metáforas e ainda acrescentar alguns pormenores adicionais ao meu "post" de 27/10/2007 intitulado: "Desporto de reis", porque alguns dos meus caros e raros leitores expressaram-me dúvidas.

Tudo para mim começou, quando li na página do MCTES, o seguinte anúncio: "Lisbon Research and Policy Workshops: as instituições de ensino superior politécnico no contexto europeu. 15 - 16 Outubro 2007"; com o desenvolvimento que encontram aqui, e um texto de base que se intitula "Revisiting polytechnic and vocational education?...Looking at the complex nature of diversified higher education systems and their relation with new challenges in science, technology and social change " este. Pela leitura deste ´ltimo documento depreende-se que no referido Workshop, supostamente, se reflectiriam as seguintes questões:

1) What implications at a national level of a binary system between universities and polytechnics?
2) Are the identities, tasks and challenges defined differently for universities and polytechnics? 3) How to identify labour market needs and how to provide the necessary skills, qualifications and technical know-how?
4) Are non-university tertiary education institutions more regionally specific institutions and consequently in a better capacity to detect the needs of local industry and promote local and regional clusters of innovation?
5) Overall, one may question if we can rely in polytechnic and vocational education to enlarge the knowledge base and train the labour force, while the university system focus on research and the diffusion of new knowledge?
6) What is the role of the polytechnics in promoting social opportunities?
7) How to ensure that polytechnics are not viewed as a second choice for those who do not get into a university of for those with less economic means?
8) Are polytechnics prepared to meet these strategic challenges?
9) Are polytechnics equipped to undertake strategic planning exercises, to assess internal strengths and weaknesses, to define their mission, market niche and medium-term development objectives along with plans to achieve them?

Comentário:
Considero extraordinário, que menos de um mês depois da Lei 52/2007 - a tal do Regime jurídico das instituições de ensino superior (RJIES) - ter entrado em vigor e de 2 meses depois da mesma ter sido aprovada, pelos Deputados do PS, sem que os deputados de todos os outros partidos tivessem feito essas mesmas perguntas na Assembleia da República - apesar das profusas sessões de esclarecimento e de discussão pública - alguém ainda venha a expressar, por escrito, num documento, com acesso internacional, como assuntos de reflexão do Workshop, dúvidas desta natureza, e com a cara mais lavada deste mundo?
Mais estranho é ainda a reflexão sobre as táticas que se pretendem seguir:
"Design and implementation of joint degree programmes (mainly first Bologna cycle);
Student exchange and implementation of joint international projects for students, involving local companies in different countries/regions;
Faculty exchange for joint curriculum development (mainly “short” and first Bologna cycles, including post-secondary education) and the design of teaching and learning methodologies;
Planning and implementation of joint projects with local companies and other social and economic actors in different countries/regions, in a way to allow the integration of faculty and students in joint and international applied research activities with local relevance; "

Honestamente, espero que o Senhor Secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, tivesse esclarecido logo os convidados presentes no Workshop, de vários aspectos:
1 - respostas prontas a todas a perguntas anteriormente mencionadas, e ainda que
2 - no contexto europeu, são as pequenas e médias empresas o motor da economia, que mobiliza 57% do volume de negócios: "Small and medium-sized enterprises – in principle firms with fewer than 250 employees, with annual turnover of less than €50 million, and independent of larger enterprises – make up the backbone of the European economy. Across the EU, there are around 23 million SMEs; that is 99% of all enterprises. And SMEs account for about 75 million jobs. And in some key industries, such as textiles, construction and furniture-making, they account for as much as 80% of all jobs". Situação esta que, definitivamente, parece favorecer a opção por formações politécnicas, digo eu, pelo menos.
3 - Que muitas das tácticas enunciadas já foram testadas e implementadas em algumas instituições politécnicas, há meia dúzia de anos.

Caso o Senhor Secretário de Estado, antes do início dos trabalhos, não tenha tido o cuidado de esclarecer os convidados presentes sobre estes três pontos, francamente, não sei exactamente o que pense, mas o que quer que possa pensar diante das questões que se pretendiam debater e as tácticas a implementar, e a inoportunidade de o fazer, não pode resultar nada abonatório para ninguém, mas muito menos para os nossos decisores políticos da Ciência Tecnologia e Ensino Superior.

Matéria e energia negras

Fico muito feliz quando me posso ORGULHAR de pessoas ou de instituições de ensino superior, cá da terra.
Hoje, 31.10.2007, um artigo de Teresa Firmino do Público - "Como se torna famoso um artigo de física feito em Portugal" - relata-nos o impacte internacional alcançado por Maria da Conceição Bento, portuguesa, Orfeu Bertolami, brasileiro, e Anjan Sen, indiano (este, à época, um pós-doc), enquanto pessoas ligadas ao Instituto Superior Técnico em 2002. Sendo o seu trabalho controverso ou não, assumiram publicamente conclusões e opiniões científicas, que disponibilizaram ao juízo da comunidade internacional da física teórica, e os seus pares, favorávelmente ou não, têm reagido com vivo interesse.

Não entendo nada de física teórica, mas alegra-me muitíssimo o reconhecimento e o sucesso de esforços nacionais, por isso, tiro o meu chapéu aos autores e à instituição.

Escolas públicas e privadas

1. Na sua crónica de 29.10 no Público, Helena Matos discute a escola pública, a sua má qualidade (?), a massificação. Começa por afirmar que "ministros, deputados, autarcas, assessores, artistas, professores [...] a maior parte deles frequentou o ensino público, mas optou pelo ensino privado na hora de inscrever os seus filhos e netos na escola". HM incorre num erro grave de rigor intelectual. Se isto fosse um palpite solto, era mais uma boca e não faria grande mal. A questão é que o essencial da crónica, baseado na ideia de que os responsáveis descuram a escola pública, parte deste juízo. Que dados tem HM para afirmar tal coisa?

2. Ainda sobre a escola, escreve Vital Moreira a sua habitual coluna das terças. A propósito dos "rankings", a epígrafe é lapidar: "as escolas mais bem classificadas seguramente ficariam longe dos primeiros lugares se tivessem os alunos das piores". Talvez isto se venha a passar com a Planalto se o Opus Dei der prioridade de filiação na "ordem" a imigrantes, moradores de bairros da lata, quase analfabetos, que chegam a casa sem capacidade para sequer quererem saber o que se passou na escola, pais de miúdos que nunca andaram no pré-escolar.

30 outubro, 2007

Guerra (IV)

Lembrei-me agora de que, fora uns exercícios de tiro ao alvo, só disparei uma vez, em Angola, a minha Valter 9 mm. Vivia numa avenida importante de Luanda, estava a tentar uma sesta, ouvi grande alarido e vi um grupo de dezenas de brancos a espancar três ou quatro pretos, já de rastos no chão. Peguei na pistola, vim à rua, atirei um tiro para o ar e foi só ver aqueles corajosos a fugir a sete pés. Não acreditam? Garanto. E julgam que foi no calor de 1961? Não, foi já na "calma" de 1972.

Guerra (III)

A minha noite de terça feira já está comprometida, durante algumas semanas, com o "Guerra", na RTP1. A memória dos portugueses vai ser outra, depois disto. E não é ficção, Apocalypse now, Platoon, Caçador, Jardins de pedra, Nascido para matar, Nascido em 4 de Julho. Aqui, em Portiugal , são imagens nuas, cruas e duras. Repito, obrigado, Joaquim Furtado.

Heráldica


Num destes dias, vi no Público uma ilustração, não identificada, das armas reais portuguesas primitivas. Já uma vez tinha lido alguma coisa sobre isto escrita por um especialista, D. Luís de Lancastre e Távora. É fácil ver que não tem nada a ver com a fantasiosa bandeira da cruz azul nem com toda a ganga lendária de quinas de chagas derCristo e besantes de dinheiros da traição de Judas. Já agora, sobre estes mitos, vale sempre a pena ler o que Herculano escreveu sobre a batalha de Ourique.

Uma vez, mas agora não consigo ir buscar, vi as armas do Eça e creio que eram coisa semelhante. Incluem também o que julgo chamar-se "cordão de S. Francisco", embora já tenha lido que não é o termo heráldico correcto. Não me ocorre agora qual é.

Não sou heraldista mas sou curioso por tudo o que cheire a história. Alguém me arranja informação sobre estas "estranhas" armas afonsinas (se é que já se usavam armas heráldicas no tempo de D. Afonso Henriques)?

Nota gastronómica (XXXV)

Ossobuco

É coisa de que gosto muito, principalmente esperando pelo momento final, o de saborear o tutano. Normalmente, faço-o seguindo a receita do excelente livro de cozinha italiana de Giuliano Bugialli. É um pouco complicada e, há dias, tirando do frigorífico duas belas postas, vi que não tinha tudo para seguir a receita. Adaptei e aqui vai.
Para quatro pessoas. 4 postas de chambão com osso e tutano, farinha, 4 c. sopa de manteiga, 2 c. sopa de azeite virgem (não extra!), 3 c. sopa de concentrado de tomate, 1 dl de caldo de carne, 2 dl de vinho tinto. 1 cenoura grande, 4 dentes de alho, ½ pimento verde, ½ pepino, 2 talos de aipo, 1 cebola. 1 folha de louro, um raminho de salsa e 1 de tomilho, sal, pimenta preta, 3 cravinhos.

Passar a carne por farinha. Aquecer bem as gorduras e fritar a carne, dos dois lados, 5 minutos no total. Baixar o lume e juntar o concentrado de tomate diluído no caldo, quase até secar. Molhar com o vinho e ferver até quase caramelizado. Não saia de junto do fogão, é o ponto crítico! Acrescentar todos os legumes, picados em brunesa, com um pouco de água, retirando o alho ao fim de 3 minutos. Baixar o lume ao mínimo, temperar e deixar cozer até a carne estar bem tenra (cerca de 30 minutos), acrescentado de vez em quando um golo de água, para não queimar o molho.

Acompanhei com tagliatelle, cozida “al dente”, bem passada por água e reaquecida em manteiga.

29 outubro, 2007

Low cost

Segundo uma notícia recente, depois dos voos low cost, agora os hotéis low cost. "Os hotéis são instalados em edifícios recuperados, nos centros urbanos, e terão entre 50 a 60 quartos com 13 a 15 metros quadrados e casa de banho individual. A limpeza dos quartos, muda de lençóis e toalhas de banho, e o acesso a televisão são considerados "extras" nesta filosofia de negócio e, por isso, terão custos adicionais. O preço por noite é de 35 a 40 euros, semelhante às tarifas praticadas pelas unidades hoteleiras low cost que o easyGroup tem em Londres, Basileia e Budapeste."

Pergunta essencial: também dá direito a papel higiénico? E porque não ir mais longe nesta onda de low cost? Já temos o Lidl e os restaurantes de fast food. Mas há muito mais possibilidades. Barbeiros low cost, de corte à tigela. Transportes urbanos low cost, em caixa de camião. Café low cost, feito com a borra do anterior. Escola low cost, em que a criança leva a sua cadeirinha. Cão low cost, perneta e zarolho. Humor low cost, do Herman José. Cervejaria low cost, com direito a mosca na cerveja. Amigo low cost para discutir futebol.

27 outubro, 2007

Desporto de Reis

Salvo erro, por volta do dia 15 de Outubro de 2007, vi anunciado no menu, nas notícias ou destaques, da página do Ministério da Ciência Tecnologia e Ensino Superior, a realização de um Workshop no ambito da Presidência Europeia, salvo erro, dedicado aos politécnicos - Lisbon Research & Policy Workshop: Revisiting polytechnic and vocational education?
Podem crer, nesse dia, fiquei em comoção até às lágrimas - isto seria uma honra para o subsistema, fora a perspectiva, mesmo que remota, de esclarecimentos. Claro que, a minha eminente choradeira não passou de um meio soluço, quando vi a lista de participantes - estavam efectivamente representadas instituições politécnicas de 5 ou 6 países e também Portugal. Só que, Portugal estava representado, não por uma instituição politécnica, e sim por um centro de investigação - CIPES - Centro de Investigação de Políticas do Ensino Superior - e, inevitavelmente, uma comedida apresentação em "powerpoint".

Perguntam-me os meus caros e raros leitores se "acho" mal essa representação?
Claro que não, de forma nenhuma- até porque, do que me recordo do trabalho mencionado, faltava-lhe, a meu ver, só a alma - era uma modesta compilação estatística e mais uma meia dúzia das pequenas, de verdades de La Palisse.

Ontem lembrei-me do desconforto que senti nesse dia e que se prolongou por mais de uma semana, porque alguém me perguntou, à queima roupa, que comentários faria à investigação no (subsistema) politécnico, e eu emudeci!
Mais de 24 horas depois teria respondido:
"A Investigação num politécnico português, é como querer participar no Grand National, só com umas quantas pilecas lazarentas, coxas e anãs, "jokeys peso-deveras pesados", e com os donos de quase todos os Haras tão "excessivamente distraídos" que não conseguem enxergar as diferenças de requisitos necessários."

26 outubro, 2007

Nota gastronómica (XXXIV)

Bacalhaus há muitos!

Hoje vai só notícia de ter posto no meu sítio uma oferta que me fizeram, de 100 receitas de bacalhau. Não são as célebres 1001, mas são uma recolha muito simpática de um amigo (obrigado, Raul), para enriquecimento do meu património culinário. À primeira vista, umas são muito boas, outras banais. Aos poucos, hei-de as ir comentando. E faço uma promessa. Tentarei sugerir as que podem ir, mais economicamente, com um bacalhau norueguês “à moderna” e as que exigem um bom bacalhau de cura amarela.

Nota à margem - Segundo notícia recente, os chefes de cozinha portugueses pretendem a criação de uma ordem, para disciplinar a profissão. Está tudo doido neste país!

25 outubro, 2007

Nova constituição?

A primeira grande tirada do novo presidente do PSD não espanta, é coisa recorrente em políticos que julgam ter grande sucesso com a reclamação de uma nova constituição. Sem isto, Portugal é ingovernável. Simplesmente, nunca ouvi explicarem-me porquê e portanto o que é necessário mudar. Não deixa de ser relevante que há muita gente de direita, neoliberal, conservadora, que diz que não temos nenhum problema constitucional. Alguns voltaram agora a dizê-lo, a propósito das declarações de Luís Filipe Menezes.

Paradoxalmente, até vou dar uma ajudazinha a LFM e apontar para uma disposição constitucional que, a meu ver, precisava de ser revista, mas não por eu seguir a lógica menezina, muito pelo contrário. Trata-se da alínea (e) do nº 2 do artº 74º, que obriga o Estado a “estabelecer progressivamente a gratuitidade de todos os graus de ensino”. Não tenho qualquer dúvida em relação aos graus que, em cada momento, a lei defina como ensino obrigatório. Não é manifestamente o caso do ensino superior. Pior, esta disposição é perversa e tem, a meu ver, consequências sociais que são opostas às intenções piedosas dos constituintes.

Como se sabe, esta disposição não impede a existência de propinas nem mesmo a sua actualização, mas o “progressivamente” impede claramente o seu agravamento para além de uma simples correcção do seu valor nominal, não do valor real. Relembro o que escrevi, em artigo recente a propósito dos empréstimos aos estudantes da educação superior ("O financiamento da educação superior - O modelo dos empréstimos"). Não creio que o valor das propinas seja o factor mais adverso à inclusividade da educação superior, quando comparado com custos de subsistência, de deslocação do meio familiar, até o "custo da oportunidade da educação" (a falta do contributo salarial para a economia familiar).

É neste sentido que o actual sistema de financiamento me parece socialmente injusto. Estão a beneficiar de propinas relativamente baixas muitos e muitos estudantes que já foram beneficiados, por aquelas razões, na facilidade de acesso à educação superior. Por outro lado, com custos crescentes da educação superior (e Bolonha é muito cara, se for a sério!), o Estado não poderá financiar adequadamente um sistema eficaz de apoio social (refiro-me principalmente ao sistema de empréstimos, mas à inglesa, não este simulacro agora anunciado em Portugal) continuando a financiar ao nível actual as instituições. Logo, estas terão de ir buscar o financiamento a um aumento considerável das propinas.

Não cabe nesta nota discutir em pormenor a tese que defendi no referido artigo, mas repito, no essencial. O encargo público, de todos os contribuintes, não aumentaria. O que mudaria era a redistribuição. Um bom sistema de empréstimos alargaria consideravelmente a possibilidade de acesso aos estudantes de menores posses; ao mesmo tempo, o aumento das propinas faria pagar justamente pelos mais favorecidos o benefício privado que tiram de um curso superior; e, “last but not the least”, seria um factor de procura competitiva de financiamento pelas instituições e, portanto, um desafio a acréscimos de qualidade.

Quando chegar a altura de uma revisão constitucional, voltarei a lembrar isto. Até lá, paciência.

24 outubro, 2007

Mais um blogue

Como o tempo não dá para tudo, vejo-me muitas vezes obrigado a fazer sair da minha lista de leituras diárias um blogue quando é indispensável fazer entrar outro. Embora este "ainda tenha tabaco no umbigo", como se diz na minha terra, não posso perder o "Livre circulação", de João Orvalho, meu caro companheiro de muitas lides. Por isto é que adivinho que a sua promessa de "sobre tudo e mais alguma coisa", que espero ver cumprida (também incluirá gastronomia?...), fique sempre um pouco refém da educação superior.

23 outubro, 2007

Contrapúblico (III)

O provedor do Público, Rui Araújo, está farto de me conhecer. Ontem, como tão frequentemente, enviei-lhe uma mensagem (claro que sobre o tal S. Janeiro de quem sou tão devoto) e fiquei surpreendido com a resposta, endereçada a um Exmo. Senhor e a pedir-me o nome e endereço. Só depois é que percebi que, por qualquer erro meu, a mensagem não tinha seguido como é meu hábito. Respondi-lhe: "é o chato do costume...". Claro que foi brincadeira. RA é sempre de grande cordialidade para mim, como também para todos os que se lhe dirigem. A sua página dominical é um exemplo de grande dignidade profissional e deontológica. Não queria era estar-lhe na pele. Não tenho vocação para provedor de coisa nenhuma, receber queixas e não ter poder efectivo.

Na última crónica, termina escrevendo: "única conclusão possível: é a credibilidade do jornal que está em causa. E isso não é coisa pouca..." Vou mais longe e sugiro ao pessoal do Público que se cuide. Começo a pensar que é também a sobrevivência do jornal que está em causa. Pai e filho Azevedos não brincam em serviço.

Nota - Leia-se hoje o muito bom artigo de José Vítor Malheiros sobre o caso Watson e veja-se a quem ele é claramente dirigido. As tricas domésticas às vezes são divertidas. Claro que isto é só piada, porque imagino como deve ser difícil a JVM ter tido essa coragem. "Chapeau", meu caro amigo.

Sócrates e os sindicatos

1. De uma forma geral, creio que a política laboral deste governo tem sido positiva, com uma perspectiva reformista e de adequação às exigências económicas do desenvolvimento (e sem desenvolvimento, não há salários para ninguém). No entanto, ninguém pode ignorar a grandeza da manifestação de há dias. A CGTP fala em 200.000 e a PSP não contesta muito este número.

O que é que está em causa? Aparentemente, não a diminuição do poder de compra, mas principalmente a flexissegurança. Compreendo muito bem os receios de milhares e milhares de pessoas, principalmente daquelas que se vão aproximando de uma idade em que já não há qualquer flexibilidade possível e em que a segurança, principalmente a da reforma, começa a ser duvidosa.

Se eu fosse escandinavo, provavelmente alinharia. O problema é que não vejo em Portugal a mentalidade empresarial escandinava.

2. Outra questão é a da reacção sindical da função pública (julgo que, hoje, o mais forte sector sindical) em relação à reforma das carreiras e do vínculo. A lei principal acabou de ser aprovada. Só conheço a proposta de lei, não a versão final. Em geral, concordo. Não vejo perda significativa de regalias justas, só de mordomias sem sentido e injustas em relação a todos os outros trabalhadores. Principalmente, ao que leio, mantém-se a segurança contra os despedimentos, muito maior do que na privada.

Que os sindicatos protestem, não admira, mas há limites. A gritaria é contra a "evidente" inconstitucionalidade da lei. Fui ver. Ou muito me engano ou a função pública só é tratada num único artigo, o 269º. Curiosamente, só fala de deveres dos funcionários públicos, não de direitos. Cada vez mais me convenço de que o direito é como na botica, pode-se aviar tudo o que se quer.

22 outubro, 2007

Rir ou chorar?

O Público conseguiu hoje atingir o máximo do delírio, da incompetência, da incultura. Numa notícia sobre uma deslocação de Bento XVI a Nápoles, a cidade do "milagre" do sangue de "San Gennaro", escreve-se que
"O chefe da Igreja Católica almoçou com os dignitários participantes antes de se recolher, em oração, junto das relíquias de São Janeiro, patrono da cidade [JVC, itálico meu]."
Pobre São Januário, que mal fizeste para merecer isto?

21 outubro, 2007

Com pés de barro (II)

Volto às declarações de James Watson, a propósito de um editorial de hoje de José Manuel Fernandes, no Público. JMF tem alguma responsabilidade. Embora não tenha terminado o curso, foi estudante de biologia. A sua tese de hoje é que não se deve calar Watson, que as suas declarações escandalosas merecem reflexão, que a ciência exige uma atitude interrogativa permanente. Não é verdade absoluta, tem de ser entendida nos seus termos. A ciência interroga-se permanentemente mas no plano estrito da ciência. A ciência questiona a ciência, não a irracionalidade e a fraude mental. Para dar um exemplo muito em voga, a ciência só se nega se estiver aberta à discussão do criacionismo. Concorda, JMF?

E ninguém está a fazer calar Jim Watson. O que aconteceu, e para mim sem margem para crítica, foi que algumas instituições inglesas da máxima reputação anularam as conferências que ele ia proferir. Se o Público convidasse para uma conferência com destaque o maior jornalista do mundo e ele, na véspera, dissesse que liberdade de imprensa só houve no nazismo, o Público mantinha a conferência? Aliás, fica-se na dúvida se não terá sido o próprio Watson a decidir regressar a penates.

Aproveito para acrescentar que se podia falar de muitas outras coisas disparatadas em que Watson é useiro e vezeiro: que a beleza feminina é governada por genes e por isso deve ser melhorada, que deve ser identificado o gene da homossexualidade, para as mães que querem ter netos não se arriscarem a filhos com esse gene, etc.

Tudo isto é vigarice científica ou, para ser mais benevolente, sinal de senilidade. Começando pelo caso mais em evidência, o da inteligência dos pretos, ninguém sabe qual ou quais os genes que comandam a pigmentação da pele. Muito menos que relação têm com outros genes, centenas, que se segregaram com a evolução no ambiente especial de África e naquela população humana. É impossível, cientificamente, estabelecer alguma correlação entre a pigmentação e seja qual for outra marca genética (a não ser, condescendo, o cabelo encarapinhado mas mesmo isto não vale para muitos indianos muito escuros e de cabelo bem liso). JMF vem com um exemplo óbvio, o do atletismo, mas falha. O que têm a ver os genes “responsáveis” pela contracção muscular ultraefiente dos velocistas negros americanos ou jamaicanos com os genes, também de negros quenianos ou etíopes, “responsáveis” pelas suas proezas na resistência das corridas de fundo, coisas bem opostas?

E o que são os genes da inteligência? O que é, biologicamente (porque genética só vale no terreno estrito da biologia), a inteligência isolada do campo socio-cultural e educacional? Quantos genes estão envolvidos na inteligência? Presumo que muitos mais do que na hipertensão, na diabetes ou na dislipidémia, e nem nestes casos temos a menor ideia. Para mim, a nível de rigor intelectual, entenda-se!, as ideias de Watson estão ao nível da genética alemã do nazismo.

Desde há muito que Watson dá sinais de um evidente desequilíbrio entre a sua qualidade científica e a sua qualidade de carácter. Começou logo pelo seu célebre livro de divulgação do seu trabalho, “A dupla hélice” (“The double helix”). Esteve para se chamar “Honest Jim”. Teria sido bom, porque, aparte o trocadilho dos significados de “honest”, ter-nos-ia interrogado sobre se, de facto, Watson é “honest”, no sentido literal da palavra. Já há trinta anos, o livro deu grande polémica. O seu ego exuberante até seria aceitável, se não misturasse uma apreciação totalmente injusta em relação a colegas importantes no seu trabalho, com destaque para o próprio Crick. Pior, e já a mostrar a qualidade moral de Watson, são as repetidas apreciações execravelmente machistas em relação a Rosalind Franklin, sem cujo trabalho experimental o trabalho teórico de Crick e Watson não teria sido possível.

Já agora, embora com alguma relutância, transmito uma impressão pessoal, ainda que superficial. Conheci os dois, Watson e Crick, separadamente, em anos diferentes, em ambos os casos com alguma demora de conversa, de várias horas. Não pensem que é gabarolice. No meu tempo de vida científica, e hoje muito mais, conhecem-se nobéis por toda a parte, não significa nada, já não é como nos velhos tempos em que entrava para o currículo. Watson não me impressionou especialmente, não retive da conversa nada que hoje possa recordar. Crick sim, que inteligência acutilante, que nível intelectual! E também que cordialidade e estímulo para com um jovem cientista anónimo. “That´s Cambridge, stupid”.

Nota final - Aconselho a leitura deste artigo devastador e, já agora, a votação nas hipóteses apresentadas. Eu vou com os comentadores que perguntam porque é que não é válida a hipótese (c).

20 outubro, 2007

Guerra (II)

Só agora me ocorreu uma coisa estranha no primeiro episódio do documentário de Joaquim Furtado. Aparentemente, o início da guerra colonial é marcado pelo 15 de Março, o ataque da UPA aos fazendeiros e funcionáriuos coloniais no norte de Angola. E o 4 de Fevereiro anterior, com o ataque à cadeia de Luanda?

19 outubro, 2007

Inesquecível


"Até à eternidade" ("From here to eternity", 1953, Fred Zinnemann). Os do meu tempo lembram-se da célebre cena da praia entre o sargento Warden (Burt Lancaster) e a mulher do capitão, Karen Holmes (Deborah Kerr)? Morreu ontem. "Farewell, Deborah!"

(Foto do Público)

Com pés de barro

Para qualquer biólogo, como eu, Jim Watson é um mito. Com Francis Crick, em 1953, descobriu a estrutura do DNA e com isto abriram o caminho à maior revolução de sempre da biologia. Simplesmente, nem sempre a qualidade humana acompanha a científica e Watson já tem dado bastantes sinais disto. Lastimável foi o mais recente, afirmando que, “como toda a gente sabe”, os negros são menos inteligentes do que os brancos.

Não deixa de ser irónico que isto tenha sido afirmado por Watson. Foi ele o grande responsável pelo projecto do genoma humano, que veio pôr em causa a validade científica do conceito tradicional de raças humanas.

18 outubro, 2007

Picuinha?


Esta nota pode parecer picuinha e até deselegante, atendendo às circunstâncias. Mas não teria sido mais correcto que este anúncio, no jornal de hoje, tivesse sido publicado por Aníbal Cavaco Silva e sem o escudo nacional?

Contrapúblico (II)

Acerca do Tratado Reformador: "Abole a cláusula de Ioannina". A jornalista Maria João Guimarães, do Público, parece desconhecer que o verbo abolir só se conjuga nas formas em que se mantém a vogal temática i (abolimos, aboli, abolirei, etc.).

Problemas teológicos

Anda lá por cima um astronauta malaio. A sua história divertiu-me, mas também me mostrou como as religiões têm poder de adaptação. Ele tem de orar cinco vezes ao dia, mas em órbita cada um dos nossos dias são muitos dias e o homem não teria tempo para outra coisa. Também virado para Meca, coisa impossível lá na estação. E prostrado, difícil na ausência da gravidade. Pior ainda, abluções, a gastar uma das coisas mais preciosas em órbita, a água.

Mas os imãs não brincam e, muito a sério, preencheram estas lacunas nos ensinamentos de Maomé. As abluções podem ser feitas com toalhetes, mas não menos do que três. O dia é definido em função de um fuso horário, presume-se que o de Meca. As posturas corporais serão simbolizadas por movimentos das pálpebras. Outras coisas deliciosas mais, neste Corão hi-tech. E, para isto, segundo diz o jornal, estiveram reunidos 150 cientistas e teólogos muçulmanos!

17 outubro, 2007

Canibalismo social

Como nos disse, J. Cadima Ribeiro, do Blog Universidade Alternativa "Há causas que são de todos", penso que ele não se importa que inclua nestes "todos", mesmo aqueles mais radicais.
A respeito deste subgrupo, em que me insiro com muita honra, ontem, adormeci com a reverberação da designação canibalismo social, que, para mim - tem um significado mais amplo que o simples tráfico de órgãos - é tão somente um estágio de (in)cultura social que permite, por exemplo, que quase 80% da população portuguesa ignorasse que os outros 20% (~2 000 000 de almas) é Pobre, estou em choque!
E o que é a pobreza?
O meu conceito de pobreza aproxima-se da seguinte definição:
"Relative measure within a society, being the state of having income and/or wealth so low as to be unable to maintain what is considered a minimum Standard of Living".
Se for válida esta definição, como podemos falar de direitos humanos e "acharmos" que somos civilizados?
O problema é muito sério e então não se resolve com ONGs, "bancos alimentares", "rendimentos mínimos garantidos", caridades diversas de ocasião e demais "etcs" vários, precisamos, urgentemente, de resolver dois únicos problemas - a incivilidade e o deficit de auto respeito: 4 de nós vivem, sossegadamente, à conta da ausência de condições de vida de um de nós.

Levantemo-nos


Contra a pobreza e a fome.

16 outubro, 2007

A guerra não escolhe

Acabei de ver o primeiro episódio da série “Guerra”. Devia esperar, reflectir, amadurecer a escrita, mas não resisto. Há alturas em que não se pode travar a alma. Parabéns, RTP, parabéns, Joaquim Furtado. Já não era sem tempo. Exorcismo, catarse, informação, cada um verá estes documentários à sua maneira, mas certamente sem a frieza de olhar de revés para telelixo, entre cocacola e pastilha elástica.

Só algumas notas soltas.

1. As declarações do então governador geral, Silva Tavares, são patéticas. O excelso Salazar não fazia a mínima ideia do que era Angola, embalado no seu sonho imperial. 1500 soldados, organizados em termos de guerra clássica contra a “Rússia”, concentrados nos grandes centros urbanos. Nos Dembos, para onde a informação militar já chamava a atenção, nem um soldado. Por isto, naqueles dias, a declaração oficial foi “Deus vos proteja”. Como na Índia, em que a pátria e o império exigiam a morte gloriosa daqueles infelizes militares para lá desterrados.

2. Surpresa, a imagem de Holden Roberto. Aparece como um homem sensível, que atrasa dois dias (de 15 para 17 de Março de 1961) o anúncio do levantamento da UPA, impressionado com os excessos que não conseguiu controlar. Hipocrisia? Não sei, mas dou sempre o benefício da dúvida.

3. Também a confirmação, ainda a guerra ia no começo, de que não se pode vencer uma guerra de guerrilha. Veja-se aquela coisa elementar dita por Holden Roberto: “escolhemos Março, época das chuvas. Os camiões portugueses atolavam-se na lama, nós chegávamos perto e disparávamos o que podíamos, retirávamo-nos a pé, debaixo da chuva, só nos molhava”.

4. O papel dramático dos bailundos, os pobres contratados do café, quase vestígios da escravatura. Entre os dois fogos, odiados por uns e outros, morreram também. É difícil num conflito não tomar partido claro.

5. Alguns pormenores de política internacional que não conhecia: o apoio tunisino, tendo sido tropas tunisinas de capacete azul da ONU que levaram as primeiras armas para Angola. Também o papel de Franz Fannon. E o das missões protestantes, este sim, já conhecia (amigo Timótio, catequista protestante na Quissala, provavelmente já estás com o teu Deus).

6. Finalmente, o aparecimento na TV de uma figura impressionante, um guerrilheiro de 1961, José Mateus Lelo, desertor do exército português. Sabedoria de velho africano, imagino-o bem como o meu velho amigo rei do povo do Quissacala, na beira do meu pai rio Zaire. A ele fico a dever o título exemplar desta nota: “a guerra não escolhe”.

Literacia ou proficiência? - parte 4 - CONTRIBUTO ESPECIAL

O texto que se segue (azul escuro) é da autoria de Alexandre de Sousa do Blog Co-Labor, e resulta num precioso farol de milha, para quem se interesse por construções curriculares planeadas - com base em perfis profissionais necessários e no desenvolvimento de competências - tão úteis no projecto de todas as formações tecnológicas.
.

Para uma realização (técnica) da gestão de competências

Para que se possa fazer uma gestão de competências por via da educação/formação interessa ter noções do conhecimento e representação (mais ou menos formalizada) desse mundo cada vez mais real. Com recurso ao proverbial senso comum parece aceitável que as competências sejam objecto de trabalho de desenvolvimento e que este, seja constituído por um conjunto de actividades complexas, que percorrem linhas várias que se cruzam e entrecruzam à volta de aquisições, transferências
, aprendizagens de aptidões, habilidades e conhecimentos.

O que são competências?

Competências são descrições gerais do comportamento ou acções necessárias para realizar com êxito dentro de um determinado contexto [trabalhar] (tarefas, grupo de trabalho, função, etc.).

Embora o debate sobre competências não seja nada de novo, o que é novo é a sua aplicação em toda a função ‘recursos humanos’, de modo a dinamizar quer o emprego, quer o desempenho empresarial e perceber os resultados que sejam relevantes para a organização de estratégias empresariais e para a concepção de uma visão «em termos» por parte das instituições que têm a seu cargo, também, lidar com a empregabilidade.

Os actuais e futuros «Empregados» aprendem, desenvolvem e aperfeiçoam muitas das suas competências ao longo das suas carreiras; pelo que começa a fazer sentido pensar nos serviços que possam estar estão disponíveis para ajudar o «Empregável» a avaliar as competências relacionadas com um desempenho efectivo no seu emprego.

Porque usamos as competências?

Quando aplicado correctamente, a implementação de um programa de competências dentro de qualquer tipo de organização gera os meios necessários para:

■ Transferir a visão e os objectivos da organização para o comportamento esperado do «empregado»;

■ Implementar um tipo de recrutamento (selecção e métodos de avaliação), o mais eficaz e juridicamente defensável;

■ Reduzir custos e taxas de absentismo/rotatividade;

■ Identificar áreas de desenvolvimento para o «empregado» que estejam directamente relacionadas com resultados pretendidos e objectivos organizacionais;

■ Preparar o «Target» educação/formação em Euros, nas áreas que previsivelmente trarão mais retorno sobre o investimento;

■ Definir critérios mais eficazes (e válidos) para desenvolver e avaliar o desempenho;

■ Identificar o fosso entre actuais e futuros requisitos (aptidões, habilidades, conhecimentos,…);

■ E se houver projectos para reduzir é necessário: assegurar a manutenção das competências essenciais para a sustentabilidade da organização.

Porque precisamos de competências se já temos descrições dos «empregos»?

Em contraste com uma descrição do posto de trabalho, enunciando normalmente as tarefas ou funções e responsabilidades para um determinado papel, um conjunto de competências (ou 'perfil' da competência) enumera as aptidões/habilidades necessárias para realizar as tarefas ou funções.
A maior parte das vezes, as descrições do emprego não estão formuladas de uma forma que permita que o desempenho de um «empregado» possa ser efectivamente medido. As competências por outro lado, devem ser descritas em termos tais que possam ser observadas, medidas e avaliadas face a critérios que são padronizados e requerem a realização do trabalho de forma eficaz.

Perspectivas à vista

Aparentemente, é consensual a constatação de que existem cada vez mais exigências em matéria de adequação das intervenções educativas/formativas apontadas por grandes organizações que correspondem a volumes de emprego consideráveis e que aconselham vivamente o recurso a novas formas de pensar as acções que tem por objecto o desenvolvimento de competências.

Deixou de ser pura retórica afirmar que são precisas respostas concretas a necessidades específicas expressas pelos públicos-alvo o que veio a elevar o nível de responsabilização das entidades que prestam serviços de educação/formação, uma vez que lhes é pedido sem complexos, que participem na elaboração de catálogos dos modelos de competências (ontologias) e preparação/ajustamento dos perfis quer das profissões/empregos, quer dos postos de trabalho.

O conceito base que preside à exploração de metodologias de apoio ao desenvolvimento destas práticas é o da ‘Oportunidade de Aprendizagem’, uma representação abstracta de qualquer forma de actividade (repetível) capaz de contribuir para o desenvolvimento de uma competência. Associados a este conceito podem e devem ser identificados subconceitos como o da Entidade da Instrução a que pertencem a clássica presença do aluno, os objectos de aprendizagem ou os programas de aprendizagem. Esta entidade assumidamente, tem objectivos de aprendizagem bem definidos, pelo que deve ser obrigatório estabelecer um relacionamento fortíssimo entre o ‘target’ competência e a definição dos objectivos de aprendizagem.

Mas como é que sabemos que a Oportunidade de Aprendizagem é adequada para uma determinada situação? O contexto empresarial fornece algumas pistas sobre quais os aspectos da situação de trabalho que exigem competências. Na gestão de competências, os perfis exigidos são aqueles que tipicamente se reconhecem como fazendo parte das unidades organizacionais e consequentemente das tarefas que lhe são afectas.

Em algumas experiências levadas a cabo durante o programa Aveiro-Norte, foi evidenciado que é preciso fazer uma distinção entre requisitos ‘Hard’ (competências que são absolutamente necessárias) e requisitos ‘Soft’ (competências que são objectivo desejado no futuro de curto e médio prazo).

Nota técnica:

Este texto, entre outros, foi preparado a partir de questões que se levantaram no decorrer e pós-seminário de Felder & Brent, em Set. passado, na U.A.

Houve um debate em torno de uma questão – crucial – que o(s) processo(s) Bolognese vieram colocar ainda mais a nu: As propostas sobre os conteúdos das disciplinas e o planeamento dos cursos com base nessas disciplinas são concebidas e desenvolvidas com base em que critérios?

Estivemos a ler, para ajuda na estrutura das afirmações, os docs de leitura obrigatória para o seminário (Felder & Brent), mais dois trabalhos interessantes de Christine Kunzmann, os proceedings da 6th I.C. on Knowledge Management e ainda os proceedings da 8th I.C. on Enterprise Information Systems, tudo isto de 2006; não devem ser estranhadas as inovações de vocabulário até porque raramente se tem feito qualquer esforço na formalização destes tópicos.

Mas, há sempre um mas na cantiga, a génese da motivação para escrever sobre isto está num dia de trabalho passado, tempos atrás, numa ‘planta’ de uma multinacional que fabrica «memórias». Foi um fantástico dia de trabalho, integral, com o director dos RHs dessa multinacional. Estamos a falar de 600 pessoas, mínimo 9.º ano e maioria com o 12.º ano. Engenheiros muitos.

A nossa conversa inicial teve origem numa frase do nosso RH: «só queria que o pessoal soubesse ler e escrever». Nesse dia, aprendi muito, em especial, o que significa ler e escrever ao nível do chão da fábrica.

Alexandre Sousa

Errei

Ha dias, critiquei aqui o CCISP (Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos). Recebi agora uma mensagem do seu presidente, que reproduzo.
Caro professor,
Li na sua página o seguinte trecho referindo-se ao CCISP: “Neste sentido, fiquei boquiaberto (mas já devia esperar tudo) com a decisão do CCISP: até ao fim deste mês, os institutos politécnicos vão definir um modelo-tipo de estatutos e organização e depois pô-lo em prática em cada um dos institutos. Não dá para acreditar!”
Suscita-me o seguinte esclarecimento: os Institutos não vão definir um “modelo tipo de estatutos e organização. O que os Institutos vão fazer é estudar até ao fim do mês um modelo tipo de regulamento eleitoral para eleição da assembleia estatutária, que depois será adaptado por cada Instituto à sua realidade concreta. E a razão dessa decisão resulta da necessidade que a eleição respeite o princípio da representação. Ora entre a lei antiga e a lei nova há alteração dos representados, na lei antiga eram as Escolas, na lei nova são os professores e doutores em regime de tempo integral – o que face à realidade concreta dos institutos não é a mesma coisa.
O CCISP não deseja ver o processo de revisão dos estatutos perturbado por impugnações do processo de eleição da assembleia estatutária e, por isso, decidiu estudar esta questão com rigor.
Não se teria perdido nada se tivesse procurado o esclarecimento. Neste caso fica boquiaberto por preguiça o que vindo de si não seria de esperar!

Baseei-me só na notícia do jornal, vejo agora que errada. Asneira, já escrevi aqui nestas notas sobejas coisas sobre a incompetência dos nossos jornais, devia estar prevenido. Devia ter confirmado, tanto mais que o Prof. Luciano Almeida está sempre disponível com a maior cordialidade, que retribuo. Estendo a mão à palmatória.

Bactérias vegetais

Continuando com a educação médica, vem-me à ideia uma coisa exemplar. Há tempos, um professor com altas responsabilidades na medicina disse-me esta pérola:
"Os alunos vêm muito mal preparados. Por exemplo, tenho sempre de lhes recomendar que nunca digam que as bactérias pertencem ao reino animal. Há quem o diga por ignorância, atendendo a que as bactérias se movem. Mas não, as bactérias pertencem é ao reino vegetal."
Juro que não é anedota e que a minha imaginação humorística não consegue ir tão longe.

15 outubro, 2007

Ensino médico (II)

O ministro Correia de Campos, ao arrepio dos últimos governos e do seu colega Mariano Gago (neste caso, "não esteve disponível para falar"), que têm dado cobertura ao corporativismo escandaloso do conúbio da Ordem dos Médicos e das escolas médicas, veio dizer que faltam 30% de médicos. Há muito tempo que venho a denunciar este escândalo.

Escrevi agora, de novo, um texto sobre este assunto. Não chega a ser um artigo de fundo (mantém-se actual o que referi), mas é texto longo demais para blogue. Quem tiver curiosidade, pode lê-lo no meu sítio.

14 outubro, 2007

Nota gastronómica (XXXIII)

Atum dos Açores

Hoje, vou criticar David Lopes Ramos pela sua crónica na P2 do Público (claro que estou a brincar). Sugere uma receita de pimentos piquillo com atum. A receita é muito simples mas sugestiva e hei-de a experimentar. Alho laminado frito em azeite, cortado com vinagre, temperado com cravinho, em molho a temperar os pimentos, cobertos com cebola crua, atum e ovo cozido picado. Se fosse na minha terra, juntava-lhe um toque de malagueta e de açaflor.

DLR diz, e com razão, que isto só com atum de conserva da melhor qualidade. O que "critico" é que não tenha dito que, pelo menos para mim, isso só atum dos Açores. Os japoneses, os grandes apreciadores, lá sabem, sempre com os seus navios nos mares dos Açores. As traineiras açorianas despejam-lhes directamente o atum, no mar alto, nem vão a terra vendê-lo. Note-se que se está a passar o mesmo, com outros peixes, em relação a navios espanhois matriculados em Vigo ou na Corunha.

Há duas marcas importantes de conservas nos Açores. Tradicional, a Corretora. Não encontro cá. Outra é uma marca continental muito conhecida, que só trabalha com atum açoriano. Não vou referir, porque não faço publicidade gratuita, mas até já escrevi sobre ela. Procurem.

13 outubro, 2007

Quando menos é demais

Não me posso esquecer que, com o actual governo da educação superior, ciência e tecnologia, tenho aprendido novas regras de contas de somar e sumir, por exemplo, que cinco é igual a três ou a quatro, mas só em casos muito particulares é que é igual a três mais dois, e que menos é, muitas vezes, demais. Ora vejam:

Entre diversas actividades de que lhes darei conta em breve, tenho andado muito entretida a verificar as contabilidades do Orçamento de Estado pra 2008 (sobretudo o Relatório do OE 2007, e OE do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior) que irá ser discutido,
não sei para quê, na Assembleia da República - ganharíamos todos tempo e paciências se partíssemos, directamente, para a publicação da proposta tal e qual e nos puséssemos, desde já, em campo, para pormos mãos à obra ou nos bolsos, pés de meia e contas bancárias de outros mais desprevenidos.

Entre as contas de cabeça que fiz, mostro-lhes na tabela seguinte, a síntese das variações orçamentais, em percentagem (%), no Ministério da Ciência Tecnologia e Ensino Superior, entre o OE de 2007 e o de 2008.
Perguntava-me hoje uma pessoa , ao ouvir-me os desabafos: Tu estarias mesmo disposta a dar cabo do canastro do «homem», não?
Ao que eu lhe respondi: Que ideia absurda, intencionalmente, intencionalmente, nunca! Mas, o subconsciente é poderosíssimo!

Guerra

Apocalypse now, Pelotão, Nascido para matar, Nascido em 4 de Julho, Jardins de pedra, O caçador, etc. Os americanos, pelo seu cinema, ajustaram contas com o seu passado, as suas culpas. Isto fora imensa literatura, memórias escritas, reedição de reportagens da época. Nós, portugueses, em relação à guerra colonial, quase nada. Sempre pensei que podia haver dois factores principais a justificar um pouco isto. Em primeiro lugar, a contradição de o fim da guerra, com Abril, se dever aos que, objectivamente a tinham feito. Era uma situação desconfortável. Wiriamu? Quem foi o responsável? E tantas coisas mais. Depois, a necessidade de inserir pacificamente os milhares de retornados, sem causar traumatismos que prejudicassem tão difícil tarefa.

Mas já é tempo. Os meus filhos mais velhos, que até viveram em Angola durante a guerra, não têm nenhuma memória disso a transmitir aos meus netos já crescidinhos e curiosos. Depois, é preciso ajudar pela catarse, se é possível, os que ainda hoje acordam em pesadelos (e ainda há dias ouvi um). Também compreender que ir à guerra podia ser um acto de coragem, se para combater a guerra lá no seu coração.

Por tudo isto, não perderei nenhum dos nove episódios anunciados de “Guerra”, a série televisiva que se estreia na próxima terça-feira, 16, na RTP. Ainda por cima, com o selo de garantia da autoria de Joaquim Furtado. Julgo que se justifica plenamente o tradicional “A NÃO PERDER!”. E, se por acaso tiverem a sorte de estar nessas condições, convidem para a ver juntos um amigo que tenha estado na chana, do outro lado.

(Editado)

Parentelas

Há coisas com que não se deve brincar. Por exemplo, com o desgosto que sentimos por detrás dos anúncios funerários nos jornais. Mas ver hoje que morreu um senhor de nome Paganini leva-me irresistivelmente a recordar a minha vizinha D. Carlota, R. do Saco, Ponta Delgada, anos 50.

Um dia, toda de preto, a sair de casa, disse à minha avó que ia à missa, rezar pela alma de um homem importante que tinha morrido, dissera a rádio, e que se calhar ainda era parente do seu marido. Ainda por cima, eram ambos músicos.

Razão tinha ela. Toscanini tinha acabado de morrer. O marido da D. Carlota era o sargento Toscano, que tocava na banda do 18.

Se querem ler mais coisas deliciosas da D. Carlota, comecem na pág. 103 do meu “O mastro das alminhas”, com muita invenção mas alguma base verídica sobre a D. Carolina.

12 outubro, 2007

Nota gastronómica (XXXII)

Garam massala, aliás pó de caril

Na receita de canja carilada, indiquei como tempero o vulgar pó de caril, mas também disse que podia ser "garam massala" preparado na ocasião. A designação é hindi e vulgarizada pela cozinha indiana, em geral. Creio que em Goa os falantes lusófonos lhe chamam apenas de caril. Como sou grande apreciador da cozinha indiana, é frequentemente isto que uso, feito por mim, embora seja difícil arranjar alguns dos ingredientes. É só o esforço de um passeio pelas muitas lojas indianas que por aí há.

Dizem-me, e eu acredito, que cada família rivaliza na receita da mistura. Vou por uma de um velho amigo goês, que também me presenteia com os mais magníficos achares e com uma massa secreta familiar de picante como nunca vi igual. Este pode ser o vosso pó de caril pessoal.

4 cs de cardamões, 3 cs de cominhos, 1 cs de pimenta preta em grão, 1 cs de cravinho, 1 cs de canela em pó, 1 c. chá de noz moscada ralada. Pisar tudo muito bem no almofariz, até ficar em pó e tostar em frigideira seca ou sertã, a olho apurado (vejam a cor!), mexendo sempre muito bem.

Para meu gosto, esta receita tem um sabor menos agreste do que alguns pós comerciais, e sem perda do aroma. Afinal, a cozinha indiana, como todas as outras, cheira-se tanto quanto se prova (e se vê).

11 outubro, 2007

Contrapúblico

Um amigo chamou-me a atenção para uma coisa em que eu não tinha reparado. Muito recentemente, em dias quase sucessivos, o Público trouxe artigos de opinião de Graça Franco, Ana Amaral e Rafael Espírito Santo. Creio que isto não causará estranheza nos meus leitores. Mas se eu disser que são todos membros notórios e influentes do Opus Dei? O que se está a passar com o Público?

História mal contada

Não nego que o romantismo da revolução cubana, da saga da Sierra Maestra, da figura de Fidel e do Che, tenham marcado a minha juventude. No entanto, nada hoje me atrai no regime cubano. Isto não me leva é a falsificações históricas, como a de Helena Matos (HM) hoje, no Público.

A questão tem a ver com o apoio cubano à luta independentista das colónias portuguesas. O episódio do capitão Peralta, aprisionado na Guiné, é exemplificativo, mas deturpado por HM, que o insere numa acção cubana não para fazer revoluções mas para fazer geo-política. E nem refiro a infeliz prosa de HM, pretensamente jocosa, sobre a partida de Peralta para Cuba, já depois do 25 de Abril.

Mais grave é a forma como HM vê a participação cubana em Angola, em 1975. Parece que as tropas cubanas vão para Angola sabe-se lá porquê (ou melhor, deduz-se, por geopolítica) e que, um pouco de surpresa, acabam por se ver envolvidas em combates. É incrível tal “desconhecimento” da história recente. O destacamento cubano vai para Angola em situação de emergência sabendo que chegava ao aeroporto e iria imediatamente para a linha da frente, a combater a coluna sul-africana e de mercenários portugueses, já às portas de Luanda, e que ameaçavam a independência, proclamada nos termos previstos em Alvor.

Finalmente, HM, a sua referência a diamantes e a droga levada para casa pelos combatentes cubanos (coisa que não prova) é demasiado mesquinha para uma jornalista do seu nível.

Le roi est mort, vive le roi

Morreu de velhinha a lei da autonomia, de 1988. Entrou ontem em vigor a lei 62/2007, mais conhecida como o RJIES (regime jurídico das instituições do ensino superior). Goste-se ou não, há duas certezas: a lei é uma rotura muito significativa com anos e anos de regime jurídico decorrente da já velha lei da autonomia; e, agora que a lei foi aprovada, há que a aplicar sabiamente e com imaginação. Neste apontamento, só três notas soltas.

1. As IES andam a queixar-se de que os prazos são apertados. Terão, a partir de hoje, oito meses para constituírem a assembleia de elaboração dos novos estatutos e submetê-los a homologação. De facto, algumas universidades aproveitaram e bem o “vacatio legis” para já terem aprovado o regulamento de constituição dessa assembleia e estão já prontas para a eleger. Do ponto de vista formal (discutirei isto na nota seguinte), creio que este prazo é largamente suficiente, a não ser se pensarmos na irresistível vocação dos nossos académicos para intermináveis discussões sobre a importância de uma vírgula.

Preocupa-me mais o prazo para constituição do novo conselho geral, com membros externos, que é de quatro meses. Não é tarefa menos importante do que a aprovação dos estatutos. Se eu fosse membro eleito de um conselho geral, gostaria de ter o tempo que me garantisse uma cooptação criteriosa dos externos, certamente com muitas horas de conversa sobre a sua concepção da universidade e as suas propostas de estratégia. Mas também, se fosse apenas professor, quereria o mesmo em relação aos meus colegas a serem eleitos para o conselho geral.

2. Receio que se repita a experiência anterior de “copy-paste” de estatutos. Esta é uma ocasião única para uma reflexão profunda de cada IES. Há casos na Europa, com as novas leis de organização e governação das universidades, em que se discutiu aprofundadamente durante quase três anos. Começa logo, claro, por cada IES definir bem o que é e o que quer ser, qual é a sua missão e o seu lugar específico no sistema. Eu sempre quero ver o que vai ser a diversidade das declarações de missão dos próximos estatutos. E, decorrendo dessa diversidade, obviamente que também a da organização e da governação, isto é, dos estatutos.

3. Neste sentido, fiquei boquiaberto (mas já devia esperar tudo) com a decisão do CCISP: até ao fim deste mês, os institutos politécnicos vão definir um modelo-tipo de estatutos e organização e depois pô-lo em prática em cada um dos institutos. Não dá para acreditar!

10 outubro, 2007

Efemérides futuras dos 10 dos 10

  • 10 de Outubro de 1911, início do Derrube da Dinastia Qing (último imperador: Aisin Gioro Puyi) que culmina a 12 de Fevereiro de 1912, com o estabelecimento da República Popular da China.
  • 10 de Outubro de 2007, abertura oficial da Reforma do Ensino Superior Português, com a Dinastia Zé Mariano, para jamais acabar (ver origem da ideia desta informação:aqui, via Blog Universidade Alternativa)

Ensino médico (I)

Há dias, terminaram o seu curso os primeiros estudantes de medicina da U. Minho. Como os meus leitores universitários sabem, é um curso inovador, juntamente com o da Beira interior. Para simplificar, direi só que segue o modelo McMaster e o tipo de aprendizagem “problem based learning”. Já escrevi sobre isto e ainda tenho esperança de vir a dirigir, como estou indigitado, um curso de medicina do mesmo tipo e de cuja concepção sou autor.

Acerca desse meu trabalho, um eminente professor de uma das escolas médicas tradicionais dizia-me há algum tempo, com sobranceria, que esse modelo era uma moda e que a prática mostraria que os médicos formados pelas escolas tradicionais passariam muito à frente desta modernice de médicos à moda do Minho.

Pode haver muitos critérios de comparação, mas eu vou por este. Os 50 médicos agora formados em Braga são o que “resta” dos 52 que se inscreveram no primeiro ano. No total, o curso tem uma taxa de sucesso escolar de 98% (e ainda sem um hospital devidamente adequado ao ensino). Qual é a das escolas tradicionais?

Sérgio Machado dos Santos e Cecília Leão estão de parabéns, sem esquecer todos os que permiram este sucesso.

Sabedoria

“Escrito na pedra”, Público, 8.10.2007, uma máxima de Woody Allen, bem conhecida.

“Não quero alcançar a imortalidade através do meu trabalho… quero alcançá-la não morrendo”

Quem me dera!

09 outubro, 2007

Literacia ou proficiência? - parte 3 ( "ratoeira do canário")

Este post poderia ser incluído na série que intitulei "Literacia ou proficiência?", mas preferi dar-lhe destaque porque irá abordar um tema sugerido num comentário, por um dos meus caros e raros leitores, "fernando", de um outro blog que também subscrevo.

O motivo porque este post deveria pertencer à série referida, prende-se com o facto de que existem, existirão e serão valorizadíssimas, a curto prazo, profissões emergentes cuja designação não constam das actuais - e, por que não dizer, logo à partida, fundamentalistas e retrógrados catálogos formalmente instituídos? (ex. Classificação Nacional de Profissões, ver as razões em em [1] e [2])
Muitas são e serão as profissões emergentes de carácter tecnológico, que requerem uma abordagem pouco convencional no processo de ensino-aprendizagem, porque exigem a conciliação de conhecimentos executivos PRÁTICOS bastante diversificados e de treinamento persistente e extensivo para que os os formandos alcancem, no mínimo, os níveis de proficiência expectáveis ao seu exercício. São formações dessa natureza, que deveriam de ser o objecto de preocupação dominante das instituições politécnicas e para as quais haverá que organizar o pessoal docente.

Esta minha arenga, à laia de introdução, tem que ver com reflexões pessoais sobre o conteúdo do ficheiro - propostas/contributo do CCISP e de dois politécnicos, de Bragança e de Setúbal (?), que auxiliarão a definição do conceito de docente ESPECIALISTA do subsistema politécnico - ficheiro esse, gentilmente, sugerido e indicado pelo «fernando» mas que, em caso de sumiço do site original (Escola Superior de Tecnologia da Universidade do Algarve), também o podem encontrar aqui.
Para mim, estes docentes especialistas dos politécnicos são elementos chave, porque terão que reunir, manter e actualizar as suas competências profissionais, e ainda saber como as transmitir aos seus formandos, a quem devem conferir indubitáveis capacidades de execução profissional, imediatamente absorvíveis e utilizáveis no nosso mercado de trabalho - refiro-me aos Cursos de Especialização Tecnológica. Esses docentes especialistas, não terão outro remédio, se não acompanhar o desenvolvimento PROFISSIONAL da sua área de intervenção que, tal como as restantes, estarão agora em permanente mutação.
Os requisitos dos docentes especialistas deveriam ser definidos, apreciados, confrontados e concedidos, exclusivamente, por agrupamentos profissionais correspondentes ou, em casos especiais, afins.
Não sei se as nossas organizações profissionais pertinentes são suficientes e dotadas de flexibilidade, para assumirem esse desiderato, mas há sempre o recurso à opinião de especialistas profissionais estrangeiros para esse efeito.
Por outro lado, as instituições de ensino superior politécnico também não estão a demonstrar suficiente interesse ou destreza de pensamento para a resolução dessa questão.
Passo a explicar o meu pensamento, através de indicação genérica dos PRINCIPAIS reparos, à proposta e contra-proposta já citadas:

Proposta do CCISP
Reparo 1 - não entendo porque é que a proposta é ainda mais restritiva, limita apenas os especialistas politécnicos a três dos primeiros grandes agrupamentos, do total de nove agrupamentos, da nossa já obsoleta classificação nacional de profissões: Grande Grupo 1 - Quadros Superiores da Administração Pública, Dirigentes e Quadros Superiores de Empresa; Grande Grupo 2 - Especialistas das Profissões Intelectuais e Científicas, e Grande Grupo 3 - Técnicos e Profissionais de Nível Intermédio.
Antes de mais, penso que essa classificação não devia de passar de uma listagem indicativa, jamais exclusiva, a ser utilizada, apenas em casos já pré estabelecidos, mas sempre com a devida precaução.
Mesmo entendendo que seja desnecessário - para o efeito, de enquadramento profissional de "docentes especialistas do politécnico" - eliminar algum grande agrupamento da classificação, se eu fosse obrigada a excluir do leque, alguma classe profissional, excluiria logo o primeiro e o segundo agrupamento, por razões óbvias, dos únicos 3 seleccionados pelo CCISP.
Reparo 2 -Não percebo porque é que um procedimento que, quanto a mim devia ser muito dinâmico, expedito e flexível "precisa seguir um Modelo próximo ao de Provas de Agregação das Universidades. ???? Tenham dó! Mesmo com a configuração actual dessas provas, para mim, essa sugestão é tenebrosa, e traduz apenas aquilo que, a qualquer custo, JAMAIS PODERIA ser A OPÇÃO de um politécnico que se preze!
Reparo 3 - A ter que haver a emissão formal e nominal de um juízo, o júri devia ser exclusivamente constituído POR PROFISSIONAIS ACTIVOS DE EMPRESAS PRIVADAS da ÁREA de candidatura do docente, MAS SEMPRE FORA DE TODO O SISTEMA DE ENSINO, e de preferência por estrangeiros.
O júri, a quem se conferia essa tarefa, deveria ser constituído por um número ímpar de elementos, e ficaria subordinado a um procedimento simples pré fixado, que pode realmente incluir, além de uma grelha padrão de avaliação, documentos comprovativos da especialização, a argumentação directa com o(s (candidato(s), mas por simples vídeo-conferência.
Para mim, está fora de causa a necessidade de se fixar um local específico, para essas reuniões de apreciação. Só este requisito trará como consequência em júris não "pré-cozinhados", o atraso em marcação da datas, que pode ir a muito mais de um ano.
Reparo 4 - Se os politécnicos, obrigatória e conjuntamente, com as organizações de classe profissional, não reunirem condições para avaliação de um seu docente como especialista, não serão as suas parcerias com universidades que colmatam a sua deficiência, tanto mais que, as universidades não são obrigadas a esta classe de docentes e, por definição, deveriam mesmo estar noutro patamar de interesses e de evolução do conhecimento, isto é, noutros níveis de proficiência.


Contra proposta do Instituto Politécnico e Bragança
A meu ver, é uma contraproposta totalmente despropositada porque, tal como é referido na proposta do CCISP, um docente especialista é um profissional da área.
As avaliações pertinentes ao percurso académico ou de investigação aplicada (aplicada agora já não, deve ser INVESTIGAÇÃO ORIENTADA) dos docentes dos politécnicos deverão ter procedimentos específicos de avaliação - não convém aos docentes dos politécnicos, comprovarem, perante o júri, as suas tendências para "assobiar e chupar laranja", em simultâneo ou, o que quer dizer o mesmo, que sabem pouco de nada.
Pode, eventualmente, fazer sentido incluir-se um requisito de investigação aplicada, numa avaliação de carácter profissional da área para a qual o candidato se perfila, desde que essa investigação seja o resultado de projectos de empresas, coordenados e financiados por estas, nos quais alguns pontos tenham sido submetidos a contratação específica dos docentes candidatos. Outra maneira de ver o problema, para mim, é mesmo muito duvidosa.

Análise de Armando Pires (Politécnico de Setúbal?)
Concordo e gostei muitíssimo do preâmbulo e da chamada de atenção de Armando Pires sobre a proposta em causa, mas como discordo das provas públicas para o efeito de especialista, discordo também do procedimento por ele proposto, que resultou tanto ou mais complicado do que o da proposta original.

Na verdade a organização de provas públicas para especialistas, termo este que devia ser usado até com horizonte temporal curto, não fazem nenhum sentido, numa época em que a única constante é a mudança.

Em resumo,
Claro que podemos sempre baralhar ou complicar procedimentos...
É só não resistirmos às nossas tentações.
Ninguém nos impede de o fazer, muito menos o MCTES que, já de si, a meu ver, prefere pensar em sistemas complicadíssimos, que ninguém percebe bem quais os objectivos a atingir, a não ser para hierarquizar pessoas e instituições, nem a estrutura final que terá em mente, nem a calendarização da execução, e muito menos, e o mais grave de tudo, os orçamentos.

(continua)

___________
[1] Esteganografo - profissão já antiga mas que, sob adequada metodologia de inovação e com o recurso às novas tecnologias, tão em voga, será ser muito valorizada a curto prazo, e não consta da lista de profissões. Vale apostarmos?
De acordo com a WIKIPEDIA, Esteganografia é o estudo e uso das técnicas para ocultar a existência de uma mensagem dentro de outra.
[2]
37 weird jobs that you actuallymake a living at.
[3] Se quiserem procurem o significado de "canary trap" e vejam se advinham as razões porque coloquei este título, neste preciso post.

Os capelães hospitalares

Vital Moreira, no causa nossa e hoje no Público, tem discutido bastante o problema em foco dos capelães hospitalares. Estou em quase total sintonia com ele. E só digo quase por causa de uma afirmação sua hoje no Público.
“Um dos aspectos mais censuráveis do projecto governamental é a remuneração dos serviços de assistência religiosa pelo Estado. Se, fora dos hospitais, a assistência religiosa constitui um encargo dos interessados, por que é que, no caso dos internados num estabelecimento público, esse serviço passa a ser suportado pelo Estado? O Estado só deve remunerar ou subsidiar actividades que fazem parte das suas atribuições ou que ele tem obrigação de apoiar ou fomentar. Ora, num Estado laico, a assistência religiosa não é uma tarefa do Estado, nem pode fazer parte da sua missão. Por isso, é manifestamente ilegítimo o gasto de recursos públicos numa actividade a que o Estado deve ser alheio.”

Não é bem assim, a meu ver. Compreendo a visão de Vital Moreira, mas creio que lhe falta a perspectiva médica, como é natural. A assistência religiosa ou espiritual a um doente, seja ela católica ou outra, não é meramente um acto religioso privado. Pode ser, e é muitas vezes, um acto médico, um contriburto importante para o bem estar do doente, principalmente em situações de grande sofrimento ou de falta de perspectivas de cura.

Ainda há poucos anos, infelizmente, acompanhei a doença terminal de uma pessoa muito querida e profundamente religiosa. Não sou crente, mas não me importei nada que dos meus impostos tenha saído alguma coisa para a assistência religiosa que ela teve e que certamente lhe amenizou um pouco o sofrimento. A medicina não é só feita de medicamentos.

Novamente o Público e o ensino do jornalismo

Leio habitualmente com atenção a crónica dominical do provedor do Público, Rui Araújo, sempre isenta e ponderada. A correspondência que lhe envia este "chato do costume" encheria páginas e sou sempre tratado por ele com consideração. Não concordo com uma sua afirmação na última crónica. O tema até não me diz muito, o surf, mas vê-se que a colecção de asneiras escritas pelo jornalista é mesmo digna de um jornal “de referência”. O provedor termina com coisa parecida com o que aqui já escrevi: “o surf é só um desporto, mas é certo que estes erros são preocupantes. Podem deixar presumir que o conjunto das matérias noticiadas no jornal contém inúmeros erros. Ora, como se sabe, qualquer generalização é perigosa”. Concordo, em geral, com a última frase, mas, lamentavelmente, não neste caso. Já apanhei tantos erros do Público em assuntos que domino que me parece legítimo extrapolar para o conjunto das matérias.

A este propósito, volto a insistir no que já aqui uma vez discuti. Não tenho dados seguros, mas creio que a maioria dos jornalistas das gerações mais recentes são licenciados em comunicação social. É um exemplo típico de curso da época do apogeu da chamada banda estreita, dos cursos especializados. Foi um curso muito inovador, e é bem pena que não tivessem podido usufruir das suas vantagens gente como Norberto Lopes, Mário Neves, Rodrigues da Silva, Saramago ou Baptista Bastos. Que bons jornalistas teriam sido!

Volto a um exemplo que extraio de um conjunto de dados com que ilustro normalmente, nas minhas palestras, a questão da empregabilidade geral. A Universidade de Chicago oferece graus de BSc (licenciatura) em 94 áreas, algumas tão estranhas para nós como Mundo mediterrânico, Estudos gerais (!), Estudos judaicos, História da cultura, Pensamento social. Curiosamente, esqueceu-se da comunicação social ou jornalismo. Se formos ver qual a formação dos seus graduados que se empregaram no jornalismo (imprensa rádio e televisão), 7% são de ciências, 10% de economia, 17% de história e 66% de todas as humanidades.

Em Portugal, diz-se que os licenciados em humanidades não têm emprego. Na comunicação social, sofrem a competição dos respectivos licenciados. Este ano, inscreveram-se em cursos de comunicação social 516 estudantes (e também vão ter emprego?…). O contingente de áreas com formação cultural de base para o jornalismo é muito maior: 245 em história, 417 em geografia, 407 em ciências políticas e internacionais, 475 em culturas (excluindo as línguas, em sentido estrito). Aposto que o triste panorama dos jornais (incultura, falta de rigor intelectual, barbaridade na escrita em português) seria bem diferente se fosse este o campo de recrutamento preferencial dos jornalistas.

Nota - A jornalista Catarina Gomes escreve sobre "as sepulturas judias" vandalizadas. Asneira. Judia é o feminino do substantivo judeu, mas não do adjectivo judeu. Podia ter escrito era judaicas. São pequenas coisas de cultura geral e da língua, enfim, picuinhas, qual é o jornalista que tem de se ralar com isto? A propósito, escrevi "tem de". Quantos jornalistas escrevem "tem que"?

P. S. (10.10.2007) - Eu não dizia? Vem hoje no Público: "Chrysler pode ter que enfrentar..." E é título, o que, segundo julgo, nunca é da responsabilidade de um jovem jornalista.

08 outubro, 2007

Também sou judeu


Gostaria de ter estado lá e ter dito "hoje também sou judeu". E até, biologicamente, sou 1/16 de judeu, pelo meu trisavô sefardita José Bensabat.

O melhor programa europeu

No âmbito da presidência portuguesa da UE, houve há dias uma reunião de balanço do Erasmus. Os ministros acabaram por reconhecer o que eu já escrevi, que o Erasmus está a funcionar de forma elitista, acentuando o fosso de oportunidades entre ricos e pobres. Lamento profundamente porque, tendo sido pai de um “erásmico”, continuo a dizer que é das melhores ideias que a Comissão Europeia já teve. Os nossos jovens, a começarem a ser cidadãos europeus, só o sentem se passarem além fronteiras.

Simplesmente, ou se quer de facto um verdadeiro programa inclusivo de mobilidade estudantil ou não se pode ficar por este arremedo. As bolsas não dão para nada e, por isto, o grande sucesso de acolhimento é dos países ex-comunistas. As bolsas são pagas meses depois de o estudante regressar a penates. As universidades, para aumentarem o seu “score” de estudantes enviados para o estrangeiro, dividem por dois estudantes cada bolsa.

No meu caso, quase posso dizer que o meu filho não teria precisado nada do Erasmus, do ponto de vista financeiro, para ter tido a excelente e inesquecível experiência que teve. Quando finalmente veio a bolsa, era coisa tão ridícula que ficou para ele, para um projecto de investimento pessoal muito interessante (isto sim, beneficiou ele do Erasmus, aprendeu com o curso de empreendedorismo de Stanford/Estocolmo, o que são projectos pessoais de investimento).

Estou a falar do que sei por experiência própria. Mas isto faz-me lembrar o que tantas vezes penso na leitura do jornal: “se isto é tão grande galegada em assunto que domino, não será que estou também a engoli-las no que não domino”? Na política da educação superior, ainda vou sabendo alguma coisa. No entanto, como não sei de todos os seus aspectos o mesmo que sei de experiência vivida sobre o Erasmus, não será como os jornais?

07 outubro, 2007

Notícias antigas

Via Jornal Público online, BBC e pelos Annals of Improbable Research sabemos que, entre o dia 4 de Outubro (Sanders Theatre, Harvard University) e o dia 7 de Outubro ( MIT Building 10, Room 250) ocorreram dois dos diversos eventos relacionados com o prémio Ig Nobel de 2007 que, este ano, prestigiou os seguintes temas-laureados:

"Medicine - Brian Witcombe, of Gloucestershire Royal NHS Foundation Trust, UK, and Dan Meyer for their probing work on the health consequences of swallowing a sword.

Physics - A US-Chile team who ironed out the problem of how sheets become wrinkled.

Biology - Dr Johanna van Bronswijk of the Netherlands for carrying out a creepy crawly census of all of the mites, insects, spiders, ferns and fungi that share our beds.

Chemistry - Mayu Yamamoto, from Japan, for developing a method to extract vanilla fragrance and flavouring from cow dung.

Linguistics - A University of Barcelona team for showing that rats are unable to tell the difference between a person speaking Japanese backwards and somebody speaking Dutch backwards.

Literature - Glenda Browne of Blue Mountains, Australia, for her study of the word "the", and how it can flummox those trying to put things into alphabetical order.

Peace - The US Air Force Wright Laboratory for instigating research and development on a chemical weapon that would provoke widespread homosexual behaviour among enemy troops.

Nutrition - Brian Wansink of Cornell University for investigating the limits of human appetite by feeding volunteers a self-refilling, "bottomless" bowl of soup.

Economics - Kuo Cheng Hsieh of Taiwan for patenting a device that can catch bank robbers by dropping a net over them.

Aviation - A National University of Quilmes, Argentina, team for discovering that impotency drugs can help hamsters to recover from jet lag."

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O Ig Nobel é organizado, desde 1991, pelo Annals of Improbable Research (AIR). A cerimónia é patrocinada por um consórcio entre Harvard-Radcliffe Science Fiction Association (HRSFA), Harvard-Radcliffe Society of Physics Students (SPS) e a Harvard Computer Society, e conta sempre com a participação de ganhadores de Prémios Nobel.
Como a própria organização o Ig Nobel declara, a iniciativa primeiro promove o riso, mas depois obriga a pensar...
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Se tiverem paciência, não deixem de passar os olhos pelos trabalhos originais, dos premiados, ex: Crocheting the Hyperbolic Plane", versão revista de um original de 2001.

Nota gastronómica (XXXI)


Fumados em 5 minutos?

Há muita gente que se arrisca hoje a não perceber patavina do que lhe é oferecido nas ementas de muitos restaurantes. Já vi carpaccios de fatias com alguns milímetros de espessura, crocantes dos mais variados tipos, incluindo fritos, tártaros de alimentos cozinhados. Outras vezes, isto corresponde a técnicas pouco conhecidas, embora com o risco de confusão com termos consagrados.

O exemplo que vou dar não é qualquer um. Vem de Dieter Koschina, o chefe do nosso único restaurante bimedalhado, o Vila Joya. Vi na edição mais recente do Fugas uma coisa que achei muito sugestiva, embora tecnicamente estranha, mas só à primeira vista: fígado de ganso fumado.

Fumado é coisa que nenhum português tem dúvidas do que é, qualquer produto sujeito muito demoradamente (meses) à acção do fumo: presunto, enchidos, língua, salmão, etc. Como é então isso de fígado fumado? A descrição da confecção é elucidativa. “Cortar o fígado em pedaços. Remover a pele e os nervos. Banhar em leite durante uma hora. Fumar durante 5 minutos”. Fumar durante 5 minutos?!

Pode parecer estranho, mas não é. Para os que não vão seguindo as modas, explico o que é este fumar, que pode ter dois significados. Já mais de uma vez o vi referido como um outro significado alternativo de “fumer” em francês, com que se relaciona, por exemplo, a designação “fumet” para o consagrado caldo de peixe. Sucintamente, significa ferver com aromas, em geral baixo e durante algum tempo. Este outro “fumer” chama-se em bom português fumegar, totalmente diferente de fumigar, isto é, tratar com fumo.

Claro que não acredito que Dieter Koschina esteja a dizer tal disparate. Estou certo de que ele se refere a coisa pouco conhecida dos amadores. É que se pode ter em casa um dispositivo para cozer em ambiente de fumo e até se vendem variedades diferentes de aparas de madeira para queimar, com diferentes aromas. Não tenho, mas vou comprar um “fumoir” (para ser correcto, um fumigador).

05 outubro, 2007

Literacia ou proficiência? - parte 2

Quando, em Portugal, oiço falar de competitividade global e da importância da estrutura educativa no desenvolvimento do país, lembro-me logo de uma data de coisas:
1ª - Imagino um tabuleiro de xadrez, no qual um dos competidores, nós, lhe são intencionalmente suprimidas, pelos maiores responsáveis, peças muito importantes, logo no início do jogo, refiro-me a todos os piões.
É por isto que as empresas e empresários (entre nós, a maioria constituída por pequenas e micro-empresas) se queixam, de não terem oportunidade de seleccionar colaboradores com formações ajustadas às suas necessidades.
2ª - Não me digam, nem digam a ninguém, nada, mas também a nossa educação, a todos os níveis, me lembra algumas das aprendizagens das mais radicais, em madrassas, nas quais, os alunos de religião islâmica, iniciando-se por volta dos 8 anos de idade, durante 2 nos e meio, apenas lhes é permitido memorizar o Corão, sem jamais compreenderem uma linha do que verbalizam em ladainha ( Hifz ) para, após prestação, com sucesso, de uma série de provas absurdamente, complexas, poderem então iniciar-se na interpretação do Corão (Tafsir) e na Lógica e na Lei Islâmica, durante 8 e mais anos seguintes.
3ª - As formações e docentes que, durante mais de 30 anos, fazemos gala em proporcionar aos nossos jovens cidadãos e residentes são a(o)s de preparação directa para Caciques e de Presidentes de Conselhos de Administração, para um país paradisíaco, hipoteticamente, desprovido de índios e de operariado especializado.
4ª - Lembro-me com muito carinho de duas pessoas - o António e o Zé Manel - ambos jardineiros, separados por 3 gerações, o primeiro de uma sabedoria, calma, paciência e educação infinitas, e o segundo de uma perspicácia imbatível, quer na forma como recruta e gere o pessoal com que trabalha, adquire e mantém o vasto e especializadíssimo equipamento que utiliza com presteza mas, sobretudo, a percepção como redige e propõe os contratos de prestação de serviços, sob os quais se rege, e acreditem-me, regiamente.
5ª - A forma como vejo a articulação das formações, de nível superior, que me pareceriam importantes, para Portugal sair da arapuca em que se meteu, estão sintetizadas no esquema seguinte (clique na imagem para poder ver melhor a informação) que adaptei de (ver aqui):
TECHNICALLY SPEAKING. WHY ALL AMERICANS NEED TO KNOW MORE ABOUT TECHNOLOGY. Committee on Technological Literacy. National Academy of Engineering. National Research Council. Greg Pearson and A. Thomas Young, Editors. NATIONAL ACADEMY PRESS. Washington, D.C.

Em que:
A - Formações pós secundárias não conferentes de grau - Cursos de Especialização Tecnológica. Com numerosos formandos.
B - Formações superiores de curta duração - 1º ciclo de Bolonha. Com número intermédio de formandos.
C - Formações superiores de longa duração - 2º ciclo de Bolonha. Com menor número de formandos.

É por isso que faço questão de, pelo menos para mim, distinguir Literacia e Proficiência.
Estarei errada?
Penso que não!
Mas se entenderem que estou fora do contexto, importam-se de me esclarecer?
OBRIGADA!

(continua)