11 novembro, 2006

Pessoas ou sobreiros?

Esforço-me por ter a humildade de não emitir opiniões firmes sobre assuntos de alta complexidade técnica, que não domino. Um deles é o novo aeroporto, Ota ou outro. Quando muito, ponho-me na situação do utente comum e vejo como a minha vida é afectada. Neste caso, é em sentidos opostos.

Vou deixar de pensar no risco, mesmo que diminuto, que correm os meus concidadãos de Lisboa, vou pensar em como os seus visitantes vão ficar agradados nos seus passeios sem ruído de aviões e até vou deixar de interromper as minhas aulas de cinco em cinco minutos, com aviões a sobrevoarem baixíssimo a minha universidade.

Mas vou pensar em que terei de acordar bem duas horas mis cedo para ir tomar à Ota o avião das minhas viagens mais frequentes, para as ilhas, e que vou gastar muito mais tempo entre casa e a entrada para o avião do que a viagem propriamente dita, para além da maior despesa em gasolina e portagens.

Seria fácil eu aceitar tudo isto se visse com clareza que é uma opção técnica indiscutível. Parece que não. Leiam-se alguns excertos de uma notícia do Público, há umas semanas, acerca de um debate sobre o aeroporto da Ota. Começo pelos defensores, mas salientando que desconfio de interesses mais ou menos evidentes.
O empresário Henrique Neto, em representação do Movimento Pró-Ota, defendeu que Portugal pode desempenhar um importante papel como plataforma logística de dinâmica mundial com um aeroporto na Ota, um porto de águas profundas a sul de Peniche e uma rede de TGV entre Vigo e a zona do Aeroporto da Portela, cujas instalações poderiam ser bem aproveitadas, no seu entender, para terminal de comboios de alta velocidade.


Telmo Faria, presidente da Câmara de Óbidos e da Agência de Desenvolvimento do Oeste, tem uma visão contrária e salientou que a Portela está saturada e que o futuro aeroporto já está a contribuir para dois a três mil milhões de euros de investimentos, sobretudo na vertente turística, previstos para região Oeste, que, na sua opinião, poderá ser muito em breve a terceira grande região turística do território continental, depois do Algarve e de Lisboa.
Do outro lado, professores universitários:
António Brotas, professor do Instituto Superior Técnico (IST), já depois de ter visitado a área para onde está prevista a construção do novo aeroporto, observou que o projecto da Ota "é totalmente disparatado", porque assenta em extensas áreas de leito de cheia e não vai ter capacidade de expansão

O professor universitário Paulino Pereira estimou que o aeroporto da Ota tenha a sua capacidade esgotada já em 2039 e aconselhou o Estado a reservar uma área para outro aeroporto mais desafogado na zona entre Pinhal Novo e a Marateca. Frisando que o projecto da Ota exigirá muitas e dispendiosas movimentações de terras, o docente salientou que "não é o local ideal".


A mesma opinião manifestou António Diogo Pinto, engenheiro e professor do IST que participou na obra do novo aeroporto de Macau, que estimou que fazer o aeroporto na Ota e os respectivos acessos por TGV venha a custar 10456 milhões de euros, mais 1500 milhões que na margem esquerda do Tejo. Alertou, também, para as dificuldades de realização da obra numa área atravessada por três ribeiras. "Na margem sul afectaria mais sobreiros, na Ota afecta mais pessoas", vincou.
E pergunto-me porque é que nunca vejo discutida uma hipótese já alvitrada por alguém, o campo de tiro de Alcochete. Será veto da Nato?

3 comentários:

Unknown disse...

Não sei bem o que acontece com os voos para os Açores. Talvez tenham um check in mais simplificado. Mas, há coisa de um mês apanhei um avião para Budapeste e vi-me da cor do diabo para ultrapassar uma coisa que se chama aeroporto de Lisboa. A fila para check in dava umas 10 voltas no átrio (hora e meia), depois passei por outra para controlo das bagagens de mão e, por fim, outra para embarcar naqueles "very tipical" autocarros que nos levam ao avião.

Unknown disse...

Não sei, apesar de tudo, se será melhor a Ota ou qualquer outro lugar, mas é importante recordar que o contraponto público à Ota, começou por ser o "nada", depois passou para o alargamento para a base de Figo Maduro, seguiu-se Alverca, depois Montijo, e agora vão aparecendo outras.

Esta crítica não se aplica à sua posição que, me recordo, ter sempre apontado para a margem sul (Rio Frio, etc.). Mas qual é a alternativa de Miguel Sousa Tavares, que esgrime um absurdo da Ota como se fosse uma coisa óbvia e evidente?... Não sei.

Unknown disse...

Passei uma semana em Borja (50km de Saragoça) num congresso sobre História Náutica.

Saí de casa, no meu carro, no passado domingo e fiz 892 km até ao hotel onde fiquei. Mas, para o mesmo congresso, uma amiga minha preferiu ir de avião até Madrid e de AVE (TGV espanhol) até Saragoça. Saiu de Lisboa às 9h de segunda-feira e chegou a Saragoça às 6h40, onde a fui buscar de carro, porque ela já estava desesperada de de tanto controlo e de andar com as malas às costas de um lado para o outro. Demorou mais de duas horas para fazer o check in em Lisboa.