12 novembro, 2006

Notas soltas

Da leitura do Público de hoje.

1. Almeida Santos é um homem culto e sabedor. Por isto, espanta-me a sua afirmação de ontem, no congresso do PS, de que há cientistas apostados em criar um olho retrovisor nos humanos. Devia saber que a natureza já nos dotou de um olho retrovisor, infelizmente muito desaproveitado, embora haja quem o aproveite bem para outros fins. É certo que esse olho vê muito mal, pior ainda quando o tapamos com cuecas e calças. Muito pior ainda quando sofre de uma miopia especial, as hemorroidas.

2. Passando ao sério. Na recensão de um livro sobre a guerra civil de Espanha, Sofia Branco escreve que "Salazar dava algum apoio aos rebeldes". Este "algum" fica muito aquém da verdade. Os portos portugueses eram a porta de entrada a todo o apoio logístico aos franquistas. No início da guerra, as zonas dominadas pelos franquistas estavam separadas, junto à fronteira portuguesa. De uma zona para outra, tropas, abastecimentos, munições, tudo fazia trânsito por Portugal. E quantos refugiados entregou Salazar a Franco, com destino certo ao fuzilamento?

1 comentário:

M.C.R. disse...

O apoio português a Franco (de que há vários testemunhos em livro; por todos ver Cesar de Oliveira) foi importante, diria vital, para a causa franquista. O radio club português foi uma emissora oficiosa dela. Por Portugal transitaram armas e abastecimentos para as zonas franquistas. Foi cá que esteve refugiado (e morreu... um de menos!) o general Sanjurjo que deveria ser o chefe militar da intentona "nacional". Daqui foram para Espanha milhares de milicianos, os Viriatos, para combater ao lado dos franquistas. Finalmente, Portugal fechou as fronteiras aos republicanos e prendeu todos os que apanhou devolvendo-os aos franquistas, o mesmo é dizer condenando a grande maioria à morte.
Saiu, aliás, recentemente um livro de Valentim Alexandre, O Roubo das Almas, D. Quixote ed., onde se podem ler detalhadamente alguns dos mais importantes aspectos desse apoio.