12 dezembro, 2007

A orthographia

Ainda não consegui perceber nada da polémica sobre o acordo ortográfico. Não consigo destrinçar entre interesses económicos, de livreiros, entre farroncas patrioteiras, entre espevitanços intelectualoides. Porque raio é que é essencial escrever facto ou fato?

A língua é a minha pátria, sem dúvida. Mas a língua é estrutura do pensamento, simbologia, sintaxe, beleza musical, instrumento de comunicação, vocabulário misturado de origens diversamente ricas. O que é que isto tem a ver com o artifício da ortografia? A língua portuguesa perdeu alguma coisa com a extinção de milhares de pharmacias por todo este país? Depois de 1911, deixou de se estudar physica ou chimica?

As reformas ortográficas, tanto quanto percebo, tendem a adequar a ortografia à fonética. Creio que há aí grande dificuldade, porque a ortografia é uniforme e a fonética é extremamente variada. Qual é a fonética que domina o acordo? A de Coimbra? Porque é que há-de se mais importante do que a dificuldade de um micaelense, como eu, em escrever cabra quando se diz cobra, ou para um lisboeta escrever ministro quando ele diz sempre mnistro/e e até diz é Ljboa, da mesma forma que um tripeiro diz que a sua cidade é o puarto?

Caso exemplar é o da língua inglesa. Não conheço bem outras variantes, mas domino razoavelmente as diferenças entre o English UK e o English US (quem lida com computadores sabe o que estou a dizer). No meu primeiro artigo científico, publicado pela U. Oxford, sugeriram-me que alterasse "tumor" para "tumour", mas acrescentando logo que não era qualquer impedimento à publicação. Depois, habituado a publicar numa revista americana, experimentei uma vez escrever "recognise", à inglesa, em vez do americano/canadiano "recognize". Nem um único reparo!

Why can´t we be more like them?

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