11 janeiro, 2009

O valor das palavras

O líder do Hamas, Khaled Mechaal, disse que "no plano militar, o inimigo falhou completamente, não atingiu nenhum dos seus objectivos. O inimigo falhou ao cometer um verdadeiro Holocausto no solo de Gaza".

Em situações dilacerantes em relação às nossas atitudes pessoais, de protesto, de simpatia, em que muitas vezes nada é claro, acontece haver "pequenas" coisas com tal valor que ficam acima de qualquer dúvida de simpatia, de interpretação. Pense-se de Israel o que se pense, pense-se da causa palestiniana o que se pense ou até (não é a mesma coisa) pense-se do Hamas o que se pense, o que me parece indiscutível é que, num momento em que a principal e legítima acusação a Israel se dirige à desproporção da sua acção, nada justifica a absurda desproporção de se comparar as mortes causadas agora em Gaza por Israel (condenáveis, deixo claro) com o Holocausto de seis milhões de judeus. E Israel quer fazer um Holocausto dos palestinianos? Já começou a construir as suas câmaras de gás?

Há afirmações que são inaceitável pornografia moral.

Normalmente, a declaração de interesses vem no início, esta vem no fim. Tenho uma grande simpatia pelo povo judeu (digam ou não o contrário, ele existe, conseguiu manter-se com identidade numa diáspora de quase dois milénios), recebeu uma pátria que resultou de uma luta anticolonialista (contra o domínio inglês na Palestina) em que os árabes não participaram, aceitou a partilha do território que foi logo contrariada de armas na mão pelos países árabes. Depois, conquistou o seu território actual, com total desprezo pelos residentes palestinianos, actuou muitas vezes manu militare como verdadeiro estado terrorista. Também sempre tive grande simpatia e solidariedade pelo povo palestiniano, afinal vítima também dos seus "irmãos" árabes. Romanticamente, e qual é o "revolucionário" que não se alimenta de algum romantismo, ponho igualmente nos meus afectos os lados fracos, as brigadas revolucionárias, os guerrilheiros da Sierra Maestra, os vietcong de pé descalço, a saga dramática dos últimos tempos bolivianos do Che, mais tarde, e é o que aqui importa, a intifada, pedras contra o poderio bélico. Com tudo isto, creio que tenho o direito abalizado de me indignar com a tal pornografia moral.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não consido sentir tanto desprezo pela "pornografia moral" das palavras, quanto pela "pornografia moral" das acções. Israel demonstra um gritante desprezo pela vida humana. Não olha a meios para atingir os seus fins - assassinatos selectivos.

Sinto ainda maior desprezo por se tratar de um estado democrático. O Hamas, apesar de democraticamente eleito, não funciona (infelizmente) num contexto democrático (instituições frágeis e muitas vezes corruptas). Por isso, a exigência perante Israel é muito maior.

Pedro Costa

Anti PS Neoliberal disse...

Israel um estado democrático???

Não é por haver eleições e partidos que os estados são democráticos, em portugal antes do 25 de Abril também existiam eleições, existia um só partido, lá são, salvo erro, 3 partidos mas a coisa é a mesma.