31 maio, 2008

Cabeça fria ou sangue de barata

Peço desculpas aos meus caros e raros leitores, porque tenho andado muito pouco, por aqui, mas já sabem, porque preso muitíssimo a opinião de todos os que se interessam genuinamente pela educação superior, sobrevivo mesmo mal sem a vossa companhia - é que estou a ser vítima de blogger-jacking... para, em alternativa, eu fazer o quê?
E,...e, eu sei? Ando só para aqui...
.
Hoje, aproveitei uma pequena distracção dos meus sequestradores, evadi-me, e vim para aqui fazer um pequeno tour blogosférico.
Dei logo de caras com uma notícia, de há dez dias, do blog de Campus, intitulada "muita cabeça fria, muita paciência, e mais emprego próprio". Na verdade, até já a tinha lido e, de certa forma registado, mas não sei porquê, hoje, por causa da situação aflitiva das pescas e de ter ouvido por um dos seus representantes, as dúvidas dos pescadores, acerca das "parcerias científicas" para o sector, ao juntar ao anúncio que: Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior preside à cerimónia de assinatura dos acordos de constituição de quatro Laboratórios Associados, segunda-feira, 2 de Junho, pelas 11:00" (Isto, só em salários para doutorados - e eles terão que consumir mais recursos para poderem fazer alguma coisinha... - vai custar, com certeza, para cima 17,0 M€/ano) fiquei assim, meio que borocochó, e resolvi desenterrar defuntos velhos.
.
De volta, à "cabeça fria", afinal, nem uma meia dúzia de empresas privadas como a Unicer, Roche, Qimonda, etc... estão a valorizar os desenvolvimentos da educação superior, porque recomendam aos formandos enveredarem por iniciativas próprias - empreendedorismo; nem uma modesta actividade produtiva que sustenta só 1/3 do abastecimento nacional do pescado, parece identificar-se com as estratégias nacionais para a ciência e/ou a educação superior nacional....
Bom, mas com incongruências como estas - ao fim de 3 anos e tal - já nos habituámos...

Enquanto isso, vamos insistindo em opções (exclusivamente) políticas, e sem conteúdo, que parecem pouco consentâneas com as perspectivas dos mercados nacionais, e até internacionais.

Por uma busca ligeira, não sistemática, de informações sobre a pesca, fica-se a saber que:
- O sector das pescas da União Europeia é o segundo maior do mundo, fornecendo anualmente cerca de 7,3 milhões de toneladas de peixe proveniente da pesca e da aquicultura. A pesca e a transformação do pescado dão trabalho a 360 000 pessoas (aqui).
- Three (EU) Member States (Estonia 15%, Portugal 25%, Spain 39%) accounted for 80% of the EU-27 catches in 2006. (aqui)
- O emprego nas pescas em Portugal evoluiu assim: 38 700(1990); 30 937 (1995); 25 021 (2000); 18 085 (2005) e 17 261 (2006);
- O que irá fazer esta gente, bem como os seus filhos e familiares, quando a pesca acabar?
- O que faremos nós para nos desabituarmos de comer peixe? Nós comemos, 59 kg/"bico" e por ano, mais que duas vezes o que a média dos 25 europeus comem... Bom, aqui temos sempre a opção dos hamburguers da cadeia MacDonalds (a título de Declaração de interesses: não gosto, mas, no mais a mim, dá-me jeito). E, neste indicador, ainda estamos longe de noruegueses e islandeses...
- Também para se consultar alguma coisa sobre o sector das pescas portuguesas, no panorama económico nacional, através das estatísticas do INE, é de facto preciso ter vários doutoramentos, em ciências ocultas e pés de cabra, ou, será melhor ainda, termos paciência de chinês... Haja muita....

Afinal, parece que não sou só eu, que não sei bem o que ando a fazer...

Como nos aconselhava o artigo do Blog de Campus, diante deste quadro, é preciso manter a cabeça fria, .....sim, é verdade,...... ou isso, ou termos sangue de barata!

Bom, meus amigos, se puderem, fiquem bem!
Eu vou regressar ao cativeiro, não vão os meus personal-carcereiros dar pela minha ausência!

30 maio, 2008

Nota gastronómica (LVII)

Tarte de beringelas com enchidos à açoriana

Isto de a família julgar que eu sou mestre de cozinha é chato, desafiam-me para receitas a maravilhar os amigos. Ainda por cima, por vezes, com ingredientes que até nem são nada açorianos, como as beringelas, o último pedido que me fez um caro primo. Com isto, creio que, pela primeira vez, vou escrever aqui uma receita em duas versões, açoriana e continental. A diferença, enorme, está na morcela e na linguiça.

Nos Açores. 600 g de beringelas, 100 g de linguiça, 100 g de morcela, 5 dentes de alho, 1 folha de louro, 3 c. sopa de banha, 1 c. sopa de farinha de trigo, 1 c. sopa de farinha de milho, 1 cálice de aguardente da Graciosa, caldo de aves e vinho dos Biscoitos q. b., 3 limões galegos, 1/2 queijo fresco de vaca, sal, pimenta preta, malagueta, cravinho, queijo de S. Jorge de 7 meses de cura (ou o equivalente queijo velho).
No continente. 600 g de beringelas, 100 g de chouriço, 100 g de morcela, 5 dentes de alho, 1 folha de louro, 3 c. sopa de banha, 2 c. sopa de farinha de trigo, 1 cálice de aguardente, caldo de aves e vinho moscatel generoso q. b., 2 limões, 1 laranja, 1 queijo fresco, sal, pimenta preta, pimenta da caiena, 1/2 c. café de erva doce em pó, 1/2 c. café de cominhos em pó, 1 c. chá de colorau, cravinho, queijo de S. Jorge.
Massa. 200 g de farinha, 50 g de manteiga, 50 g de banha, 1 ovo, 1 cs de açúcar, 1/2 c. café de sal fino.

Cozer as beringelas até ficarem moles, não demais. Cortá-las a meio, ao comprimento, retirar todo o miolo e reservar. Aquecer a banha e fritar a linguiça/chouriço e a morcela, às rodelas. A morcela deve ficar só moderadamente frita, ainda um pouco mole. Remover e picar fino a linguiça/chouriço, pelada, e esfarelar o conteúdo da morcela. Na mesma banha, alourar o alho pisado com a pele rosada, com o louro, e coar.

Voltar a aquecer, aproveitar 2 c. sopa e fazer roux com as farinhas. Juntar o miolo das beringelas, flamejar com a aguardente e dar umas voltas. Acrescentar a linguiça e a morcela, o sumo de limão galego ou a mistura de sumo de limão e de laranja e o vinho e o caldo, em partes iguais, em que se mistura muito bem o queijo fresco esmagado para consistência de recheio de tarte. Temperar e deixar evaporar o álcool do vinho.

Fazer uma tarte com massa quebrada: misturar a farinha com o açúcar, sal e gorduras. Incorporar o ovo, amassando bem até obter uma massa suave ao toque. Descansar 1/2 hora tapada com pano. Rechear, polvilhar com queijo ralado e levar ao forno, a gratinar.

Acompanhar com uma salada simples de repolho pré-cozido, picado ou ripado, salteado em azeite com alho e bem escorrido.

28 maio, 2008

Acordo ortográfico

Ainda ninguém me convenceu de que o acordo ortográfico vai ser uma desgraça e a nossa submissão ao país que “ainda vai ser um império colonial”. Também ainda ninguém me convenceu de que o acordo ortográfico é essencial para a afirmação da nossa língua. Eu passei anos de vida profissional a escrever diferentemente o inglês para revistas americanas e para revistas inglesas e não são assim tão poucas as diferenças. Será por isto que o inglês é língua hoje tão irrelevante?…

O que mais estranho por bizarro é o argumento do respeito pela etimologia. Se assim fosse, nunca estaríamos a escrever como hoje, depois da reforma de 1911. Nem os italianos teriam cometido o “crime” do abandono do h, por exemplo, em “uomo”. A ortografia é simples convenção e como tal deve ser prática. Claro que pode haver os países tradicionalistas que mantêm ortografias seculares, complicadíssimas, como os de língua inglesa. Mas repare-se que não são estúpidas as suas criancinhas, não precisam de acentos para saber acentuar as palavras. No campo oposto, uma língua como o russo para a qual só muito tarde foi criado o alfabeto cirílico. Quem aprende as regras básicas sabe interpretar qualquer texto, porque a relação letra-som é quase inequívoca. Por isto, tem bastante mais letras do que o nosso alfabeto, para identificar ditongos ou sons como o nosso "nh".

Hoje, ainda por cima, as peculiaridades ortográficas têm significado tecnológico, e tempo é dinheiro, até a teclar no computador. Não seria bem mais barato apenas um tipo de teclado? Em português, passaria a fazer corresponder cada som apenas a uma letra. Abro excepção para ão, õe, nh, lh, rr entre vogais e para o n anasalante. Também, por algum sinal de respeito para com a tradição, para o s final do plural, senão ficava todo o texto cheio de j.

Aqui vai um exemplo de uma reforma ortográfica radical.

“Xamo-me João, sou asoriano, coisa importante para estas istorias, tenho sesenta anos saudozos das orijens e presizo de ejcrever. Acordo tarde e mal dormido, com o gato Peugas a cosar-se-me nas pernas. Comeso por pensar e no cafe e na sigarrilha ce me faltam dejde a vejpera, leio o jornal, cuantas vezes para meu dejgojto e vejo o correio eletronico. Faso planos para o dia, coizas bem ordenadas, do arrumar o ejcritorio ao tratar de um dejleixado asunto bancario, do corte de cabelo ao preparar uma aula. Vão falhar as boas intensões, ja sei, porce persebo ce presizo de ejcrever. “

26 maio, 2008

Chumbos

Há pouco, tempo, esboçou-se uma polémica sobre os “chumbos”, motivada por um artigo no Público (14.5.2008) em que o autor questionava sobre se “chumbar é retrógrado?”, defendendo que não: “Entendamo-nos: a missão da escola é ensinar a todos os alunos que a demandam aquilo que está previsto. Mas a sua responsabilidade também é certificar, para utilização da sociedade, o conhecimento que os jovens aí adquirem. Dizer que o possuem sem o terem é uma fraude. Ora o discurso demagógico e pouco claro da ministra, a este propósito, parece fazer a apologia dessa fraude. O problema de gestão educacional com que nos confrontamos é o de saber como fazer para que cresça o número dos que realmente aprendem o que é suposto aprender e não abolir os chumbos, por serem retrógrados. Muito do que politicamente este Governo tem decidido não se orientou para a maior e melhor aprendizagem dos alunos.”

Em resposta, Rui Pena Pires, no blogue Canhoto, defende que, sendo o ensino obrigatório e havendo que optimizar o uso dos recursos, mais vale gastá-los na recuperação pedagógica do que no financiamento das repetências.

Tendo a concordar com esta opinião, mas até certos limites. O meu filho mais novo teve uma colega na então escola primária que já tinha 15 anos. Há alguma recuperação possível? E quais são os efeitos de fazer conviver crianças de idade normal na sua escolaridade com outras muito mais velhas, potencialmente dominadoras e transmissoras de comportamentos e atitudes que podem justificar o seu atraso?

Isto vem a propósito da educação superior. Julgo importante que não se globalize esta discussão dos chumbos. Segundo RPP, em relação à educação superior, "a escola deve substituir o chumbo pela selecção à entrada e por formas de acompanhamento, nomeadamente tutorial, incrementando as possibilidades de sucesso dos seus alunos em vez de delapidar recursos com percursos de insucesso".

Mas porque é que se há-de sequer considerar a possibilidade de percursos de insucesso? A educação superior não é obrigatória e gratuita, serve para formar elites, traduz-se em vantagens privadas muito consideráveis. Neste caso, parece-me ser de exigir o maior rigor quanto ao aproveitamento escolar. É verdade que há o conceito de estudante elegível, mas com efeitos só no financiamento porque as instituições (medo dos estudantes?) são muito benignas quanto a prescrições. Como provocação, digo que só permitiria, condescendendo com factores imponderáveis, a conclusão de um curso em apenas mais um ano do que a duração normal.

Nota - A propósito de notícias recentes sobre o julgamento de um caso de praxe burgessa, é de lembrar que a praxe, com a valorização do “veterano”, deriva da mesma cultura de irresponsabilidade, de cabulice, de desprezo pelo esforço nacional, de todos os contribuintes, para a educação superior de alguns.

25 maio, 2008

Modernização

Tive hoje uma surpresa agradável, logo pela matina, estremunhado. À minha ilharga fica a igreja de um convento, convento misterioso talvez de reclusas, porque nunca lhe vislumbrei uma freira.

Mas vamos lá à surpresa. A igreja tem sinos electrónicos, daqueles que por toda a parte tocam a Avé Maria. Esta também, até hoje, porque deve ter mudado a abadessa. Hoje passou a tocar o bem conhecido motivo da 9ª de Beethoven. Agora, de hora a hora, vou estar de ouvido atento. Viva a alegria! "O Freude, nicht diese Töne!"

24 maio, 2008

Nomeações

Já se conhece a composição do conselho de curadores da agência de avaliação do ensino superior. Como já estou preparado para coisas estranhas que vêm do MCTES, não fiquei surpreendido. Presidente, Gomes Canotilho. É figura de alta respeitabilidade mas nunca li qualquer palavra sua sobre a educação superior, muito menos sobre avaliação. Outro membro, hoje inevitável seja para o que for, o homem para todas as ocasiões, João Lobo Antunes. Deste já li alguma coisa redonda mas mais valera que não tivesse lido. E ainda tem tempo para mais cargos?

Entretanto, foram rejeitados pelo ministro dois nomes propostos, de duas das pessoas em Portugal com maior experiência em avaliação, Adriano Moreira e Sérgio Machado dos Santos, este último seguramente o de maior experiência internacional entre nós (claro que falo de avaliação a sério, não do turismo de avaliação que muitos fazem, por este mundo fora). Não dá para entender.

Só para avisar... Aí, (parece que) vem ela!

Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior: Governo designa Conselho de Curadores
Depois, com tempo, .....contem-me, está bem?

Obrigada!

23 maio, 2008

Cátedra à anglo-americana

É uma das universidades agora em crise financeira, a de Évora, que nos dá notícia de uma coisa inovadora entre nós.
“Cátedra Rui Nabeiro: A Universidade de Évora e a empresa Delta Cafés acordaram a criação da Cátedra Rui Nabeiro destinada à promoção da investigação, do ensino e da divulgação científica na área da Biodiversidade. Trata-se da primeira Cátedra instituída por uma empresa, em Portugal.

A Universidade de Évora e a Delta Cafés compartilham a visão de que a geração actual é usufrutuária de um património natural e que lhe incumbe a responsabilidade de o legar às gerações futuras em condições que garantam a sustentabilidade da vida humana. 
Nesta perspectiva, a Universidade de Évora e a Delta Cafés entendem que é necessário desenvolver esforços no sentido da preservação do ambiente e, em particular, da fauna e da flora, bem como antever os cenários que poderão resultar das previsíveis alterações climáticas e das constantes intervenções antropogénicas decorrentes do desenvolvimento das sociedades humanas. 
O Titular da Cátedra Rui Nabeiro será seleccionado internacionalmente entre investigadores de elevado mérito científico, pelo período de cinco anos.

Isto é prática comum em muitas universidades estrangeiras, principalmente as anglo-saxónicas. Em muitos casos, há um grande factor de prestígio pessoal associado à atribuição da cátedra, como é o caso do Cavendish Professor of Physics, de Cambridge. Há anos, tentei que os descendentes de grandes figuras do meu instituto patrocinassem uma cátedra com o nome do seu avô. Nada consegui.

Tinha alguma razão para me empenhar nisto porque, ainda antes, tinha proposto a uma universidade que me consultou uma coisa semelhante. A ideia era a de criar lugares de professor em sabática activa, estrangeiros de grande prestígio, num “pacote” que incluiria, para além do salário e despesas de viagem e instalação, o financiamento de um projecto de investigação, a concessão de facilidades laboratoriais e a atribuição de uma bolsa de “postdoc” e 2-3 bolsas de doutoramento. Também não foi avante. Infelizmente, já estou habtuado a ver boas propostas irem para o cesto dos papéis.

PS (26.5.2008) - Desconhecia que a Universidade Católica (Faculdade de Direito) também já tinha uma cátedra Miranda, patrocinada pela firma de advogados Miranda, Correia, Amendoeira e Associados, cujo titular é  o Prof. Jan Dalhuisen (King's College de Londres). 

22 maio, 2008

Caminho certo

Que me aconselhariam fazer os meus caros e raros leitores, para obviar o estado de permanente surpresa dos nossos políticos?

Eu explico, ante-ontem, em Portugal, ficaram pelo menos duas pessoas de boca bem escancarada de pasmo - a primeira, foi o Senhor Presidente da República e, depois, com ele, fui eu!

Já a tarde ia alta, lá pelas 7:00 horas, vi descritos - no Público (aqui, se quiserem confirmar) - o estado de choque e de espanto, bem como, os motivos pelos quais o Senhor Doutor Cavaco Silva foi apanhado desprevenido, num dos estabelecimentos do politécnico público, que decidiu visitar. O texto do Público, subscrito, por Margarida Gomes, rezava assim: 'O Presidente da República, Cavaco Silva, confessou hoje, no Porto, que tinha “um conhecimento insuficiente do trabalho dos institutos politécnicos, principalmente na área da investigação e desenvolvimento”, e exortou-os a apostarem na "diferenciação" em relação às universidades, porque esse "é o caminho certo"'. "Houve uma fase em que se pensava fazer dos politécnicos o mesmo que as universidades e eu sempre pensei que esse não era o caminho correcto".
(...)
"Eu próprio devo confessar que tinha um conhecimento insuficiente do trabalho dos institutos politécnicos, principalmente na área da investigação e desenvolvimento."

Estaremos nós no meio de uma daquelas preocupantes situações de pessoas distintas mas, exactamente, com o mesmo nome?

Quero dizer:

1 - Onde teria andado o Presidente do Conselho de Ministros de Portugal entre 1985 e 1995?
A maior taxa de crescimento dos politécnicos foi na vigência do seu governo.
Então, e deixam-se assim crescer "coisas" que não se sabe bem o que seja?:











2 - Onde terá andado o Senhor Presidente da República de Portugal, em 2007, quando aprovou, assinando de cruz, para o subsistema politécnico uma única classe de investigação, que não existe em Portugal, nem em lado nenhum, "Investigação Orientada", do famoso RJIES - assunto sobre o qual foi devidamente prevenido porque prejudicava a investigação no politécnico.

Se este Presidente da República não dá atenção ao que faz, como pode não se espantar, e não espantar os outros? Sobretudo, como pode dar agora conselhos?

Vamos começar por aqui: Quem são e de onde são os assessores do Senhor Presidente da República para a Educação Superior? Também não saberá quem são?


Deixo aqui, umas codiazinhas de pão, para que o Doutor Cavaco Silva e, na verdade, todos os nossos outros políticos continuem a demarcar o caminho certo do Politécnico, tão bem como têm feito até hoje.

21 maio, 2008

Nota gastronómica (LVI)

Catembe

Há largos anos, quando vivi temporariamente em Angola, fazia-me impressão o hábito de colonos recentes (não os das “gloriosas famílias” do Pepetela), mais ricos do que educados, de pedir no restaurante um bom tinto do Puto e beberem-no com 7 Up. Mais tarde, um frequente convidado meu, também retornado, pedia-me sempre duas pedras de gelo para pôr no copo de vinho tinto, que eu tinha “chambré” com esmero.

Por isto, franzi o nariz há dias, quando uma amiga angolana misturou vinho tinto e coca-cola. Resolvi depois provar, claro que com um tinto corrente e, para mal dos meus pecados diabéticos, com uma cola zero. Fiquei surpreendido, é um bom cocktail, melhor do que o Cuba Libre. Para os africanos, chama-se catembe, em honra da ilha turística próxima de Maputo. Terá sido inventado num dos hotéis ou bares do Catembe?

19 maio, 2008

Higiene internética

Na sua página de sábado no Expresso (online só para assinantes) Miguel Sousa Tavares conta uma história incrível - ou talvez não - de uma difamação de que foi vítima, a partir de um blogue anónimo e depois amplificada por muitos outros. Por isto, contesta a ideia que se faz da blogosfera como o maior espaço actual de liberdade de expressão. Não concordo com o termo. Acho que é, em muitos casos, é um espaço de libertinagem de expressão.

Por isto, e sendo bloguista, obrigo-me a algumas regras, para além da mais elementar, a de assinar sempre com o meu nome. Raramente aceito comentários anónimos, a menos que os considere relevantes e correctos. Por questão de princípio, não leio blogues anónimos, como não leio cartas anónimas. Não leio blogues, mesmo com autor identificado, se ele não fornecer um meio de o contactar para comentários ou protestos, mesmo que em privado no caso de o blogue não permitir comentários.

A internet está a precisar de alguma higiene, começa a cheirar muito a autocarro em hora de ponta.

18 maio, 2008

Astronauta

Volta e meia, por causa de coincidências noticiosas, dão-me crises agudas de desconstrução.
Num intervalo dos meus mais recentes "lazeres" andava eu, despreocupadamente, a ler a última do blog de Campus, um diferendo entre os sindicatos e o MCTES. Fui confirmar pela blogosfera afora, e encontrei mais informação, sobre este tema, no Público, via blog Que Universidade? (aqui) e depois no Diário de Notícias (aqui).
.
Impressionou-me muitíssimo o ultimato feito pelos sindicatos porque, de uma forma geral, mesmo não subscrevendo, na generalidade, as suas metodologias e argumentações reconheço ser pouco defensável manterem-se cerca de 12 a 13 mil pessoas em "suspense", acerca do seu futuro. Penso mesmo ser inaceitável pelo desrespeito longamente evidenciado. Pior, fiquei fiquei realmente estarrecida com uma frase do texto do Diário de Notícias, subscrito por Céu Neves, pelo qual ficámos a saber que: O Senhor Ministro Mariano Gago "está sempre disponível para dialogar com as estruturas sindicais sempre que exista matéria para tal."

Quer dizer que o Senhor Ministro acha então irrelevante manter, durante quase um ano, milhares dos seus próprios colegas, salvo(s) seja(m), em Banho Maria sobre assuntos como a estabilidade profissional?
Durante um ano, não teve então, o senhor Ministro, uma nesguinha de tempo, para esclarecer o seus pares sobre o seu pensamento de futuro da Educação Terciária, mas encontrou tempo para uma actividade indispensável - comparecer na sessão de apresentação, no Pavilhão do Conhecimento, em Lisboa, do Concurso que a ESA abriu nos seus países membros para recrutar (acreditem-me!) novos astronautas.
Se não o livram de tentações, aposto que irá conseguir "desgrudar mais uma grana", além das quotas anuais, para a ESA, à custa de outro qualquer desinvestimento na Educação Terciária, para financiar, isto é, oferecer, umas quantas viagens espaciais a uns quantos sonhadores mas, entretanto, não investe um cêntimo, que seja, no planeamento do futuro da Educação em Portugal.
Raça de azar, mas em que pau fomos nós amarrar a égua...
Por outro lado, não vivemos já quase todos na Lua?

16 maio, 2008

Deixar de fumar

Alguns comentadores e blogues têm desvalorizado o episódio de Sócrates a fumar no avião, como coisa menor relativamente a grandes problemas do país. Não estou de acordo, não penso que seja coisa menor um primeiro ministro não conhecer uma lei aprovada há relativamente pouco tempo pelo seu governo, uma lei muito mediática e que causou grande discussão.

Mas não é disto que quero falar, antes de um aspecto que ainda não vi comentar, a grande aposta política de Sócrates no meio deste caso. Vai deixar de fumar. Pode parecer coisa também sem importância, mas ou muito me engano ou ainda vamos ouvir falar disto.

Toda a gente sabe como é difícil deixar de fumar. É preciso muita determinação e força de vontade e é relativamente alta a percentagem dos que não conseguem ou voltam mais ou menos rapidamente ao vício. Como ex-fumador, ainda hoje vejo como tenho por vezes uma saudade quase irresistível da minha cigarrilha, ano e meio depois de ter deixado de fumar. No entanto, passei por muitas viagens longas, congressos, reuniões de dia inteiro, em que não podia fumar e aguentava. Ora quem não aguenta uma viagem à Venezuela e se expõe sabendo que não é propriamente o Zé da esquina desconhecido, vai conseguir facilmente deixar de fumar?

Não conhecemos todos casos mais ou menos caricatos dos que, tendo anunciado deixarem de fumar, acabam depois por se esconder em qualquer canto, ou ir dar uma voltinha, para não serem apanhados na quebra da intenção? Imagine-se um primeiro ministro, comprometido por essa sua declaração, ser apanhado a fazer uma figura dessas, a mostrar que afinal não tem a força de vontade que tanto cultivou como imagem de marca. Coitado, muito vai sofrer o engenheiro, mais do que para tirar o curso. Mas fica a aprender um velho ditado: as galinhas só cacarejam depois de pôr o ovo.

13 maio, 2008

Abraçar cactos

A grande maioria das pessoas que dedicam o todo ou parte do seu tempo à investigação foram, simpaticamente, convidadas a assistirem, ontem, na Universidade de Aveiro, ao lançamento do Program Ciência 2008.
Mesmo quem não compareceu ao evento, pode encontrar uma cópia do discurso bastante positivo e incentivador proferido pelo Senhor Presidente da Fundação para Ciência e Tecnologia. Por outras palavras, se o senhor disse isso, ninguém o leva preso porque, estatisticamente, parece que a actuação do MCTES/FCT tem sido bastante favorável à Ciência; basta, para o efeito, contarmos a palavra MAIS no texto.
Temos e teremos, então, pessoas mais qualificadas e prontas para serem cientistas, mas que têm também TODO o direito a expectativas de futuro.
Pergunta: sem ser através do Orçamento Geral de Estado, essas pessoas têm futuro?


Do discurso, gostei particularmente da frase que se segue, sobretudo, das palavras a que darei relevância:
(....)Mas se este balanço é muito importante, para avaliar a justeza das políticas executadas é-o também para devolver aos cidadãos portugueses os resultados do investimento que todos fizeram, e dos quais se devem orgulhar.
Não sei se durante a cerimónia do lançamento do Programa Ciência 2008, do dia de ontem, se esclareceu bem esse ponto: isto é, se os Portugueses querem ter mais cientistas, só porque querem, ou se querem como povo, no seu conjunto, viver melhor.
Por outro lado, na medida em que o nosso PIB é o nosso PIB (ver Tabela), e este não cresceu proporcionalmente ao crescimento da dotação da Ciência (46,5%), entre os anos de 2005 e 2007, fica-se sem se perceber bem esta generosa opção.
É verdade que o financiamento da ciência é "peanuts", se comparado com o PIB, mas, não temos outras prioridades, e também outras pessoas com expectativas?
Tudo estaria bem, se na própria página do MCTES para a divulgação pública do citado programa, não se tivesse falado também em "Financiamento competitivo", referência que já ouvi em outras ocasiões...
Assim, o que eu gostaria de vislumbrar, no meio disto tudo, é:
- quem é que perde e quem ganha competitividade?
- qual é o futuro efectivo dos cientistas nacionais que agora são e serão acrescentados ao parque da ciência nacional?
Disse isto, porque gosto muito de cactos, mas não tenho especial inclinação para lhes dar abraços...

12 maio, 2008

Amor de casados

Como não sou crente, parece-me que é lógico fazer o que normalmente faço, não criticar as posições da Igreja em matéria de crenças morais dos católicos, desde que não sejam posições políticas ou que afectem toda a gente. De resto, é matéria privada dos católicos. No entanto, por vezes, há coisas de tal forma chocantes ou ofensivas da inteligência que me fazem falar.

A moral sexual é uma obsessão do Vaticano. Parece que já vem dos primórdios da cultura judaico-cristã, embora os escritos de Salomão não sejam um modelo de puritanismo. Sabe-se que essa moral oficial não é seguida por enorme percentagem de crentes, provavelmente a maioria, o que contradiz a velha máxima de que não se deve aprovar uma lei que não será cumprida, o que desprestigia todo o edifício legal. Anteontem, no 40º aniversário da encíclica “Humanae vitae”, Bento XVI não retirou uma vírgula à posição oficial. Mais, reforçou o anátema destes últimos anos contra todas as conquistas médicas, fascinantes, de dar a felicidade e a realização de vida da paternidade/maternidade a quem não a consegue por meios naturais.

Mas o que quero focar, porque tudo isto já é de esperar, é uma declaração espantosa: “Nenhuma técnica mecânica pode substituir o acto de amor que duas pessoas casadas trocam”. Não falo das técnicas mecânicas, até porque não sei bem o que isto quer dizer. Aceito também que um filho desejado e concebido num acto de muito amor é coisa bem bonita, embora não indispensável. Agora o que não consigo perceber de todo é em que é que difere um acto de amor de pessoas casadas de um acto de pessoas que, simplesmente, se amam, seja lá qual for o seu estado.

Não seria tudo bem diferente se não houvesse o celibato sacerdotal?

08 maio, 2008

Petição

Hoje não escrevo nada, limito-me a transcrever parte de uma mensagem enviada aos docentes do ensino superior pela FENPROF e pelo SNESup.
A FENPROF e o SNESup enviaram no passado dia 1 de Abril ao Ministro a carta anexa solicitando a abertura de negociações sobre matérias que se prendem com as carreiras docentes e de investigação e com os respectivos estatutos remuneratórios. Ainda não foi recebida qualquer resposta a este pedido, passado que foi mais de um mês.

O Ministro não reúne com estas organizações sindicais desde 5 de Junho de 2007, há já mais de 11 meses. Desde a sua tomada de posse, têm sido muito poucas as reuniões e quando acontecem, têm-se realizado sempre a solicitação insistente das organizações sindicais, em particular perante iniciativas conjuntas da FENPROF e do SNESup. Acresce a isto que o Ministro não tem cumprido os prazos que a si próprio se propõe para apresentação de propostas para um efectivo início de negociações.

Ora, este bloqueio negocial por parte do Ministro é inaceitável. Como todos sentimos, a situação ao nível do ensino superior tem-se degradado, tanto no que se refere ao financiamento das instituições, como no que concerne à situação profissional dos docentes e investigadores.

É pois urgente que se actue no sentido de que o Ministro abra efectivas negociações com as organizações sindicais, com vista à procura de soluções para os vários problemas existentes.

Neste sentido, a FENPROF e o SNESup decidiram propor a todos os colegas a assinatura de um abaixo-assinado, na forma de uma Petition On-Line, a que pode aceder no link:

http://www.petitiononline.com/negociar/petition.html, enunciando os principais problemas a necessitar de solução urgente.
Nota - Após uma leitura apressada, fiquei com dúvidas, por não poder subscrever a manutenção das categorias de assistente e de assistente estagiário, como li apressadamente na petição. Afinal, trata-se dos actuais assistentes manterem as expectativas de carreira com que foram contratados. Não me repugna, porque não é a meio do jogo que se mudam as regras.

06 maio, 2008

Indicadores - estamos cada vez,... mais cada vez

Meus caros e raros leitores, hoje, fiquei sem fala de espanto.
Andava eu naquele meu inveterado vício de percorrer todas as estações de via sacra da educação superior e, eis se não quando, constato o seguinte:
.
1º - O MCTES e a DGES têm páginas de internet novinhas em folha, e o Ministério, finalmente, aparece com RSS, e tudo! Não é incrível?
Viva o luxo!
Não aprecio, especialmente, o layout gráfico e as cores mas, não há dúvida, ambas estão muito mais amigáveis.
.
2º - Um destes dias, alguém da blogosfera queria muito saber a agenda do Senhor Ministro, pois está na página! Também lá está descrita a agenda do SECTES, para quem se interessar; Desde que este último passou a designar-se por SECTES, interessa-me!
.
3º - No link de afazeres do SECTES consta um registo de Alguns indicadores de cooperação internacional em C&T - 2008. Por aqui, confirma-se que os Pã-Doutoramentos e os Pã-pós-Doutoramentos estão a crescer bem.
.
4º - Em 2007, o MCTES apoiou a contratação de 629 investigadores doutorados e consignou, para esse efeito, um montante de 35 M€ ... Desde que cada um dos beneficiados, em média, produza para o país, uma mais valia mínima de 5500 Euros por ano, não tenho rigorosamente nada a dizer, a não ser dizer bem! Vou ficar muito atenta a estas prestações de contas e "contabilidades"!
.
5º - O GPEARI também tinha novidades interessantíssimas - informações estatísticas sobre a Science, Technology and Innovation in Europe 2008 - neste endereço.
Os indicadores mostram que..., bom.... vou deixar a análise dos indicadores, para cada um a fazer como bem entender, com tempo, calma e paciência.
Portugal é aí mencionado página sim, página não... Mas estou, como alguém disse: Falem bem, falem mal, mas falem de mim!
.
- Diz-me aquela minha dorzita esporádica que trago neste joelho, que estamos a entrar numa fase civilizacional. Mas os meus joelhos são enganadores! Veremos...

05 maio, 2008

Maio de 68

Muito se tem escrito sobre o quadragésimo aniversário de Maio de 68, a meu ver com alguma dose de mitificação. Não me arrogo o direito de falar em nome da geração que, cá longe, o acompanhou, a minha geração, de/dos 60, mas parece-me que temos uma visão mais objectiva do que foi Maio de 68.

Por exemplo, escreveu há dias o director do Público, José Manuel Fernandes, que a juventude portuguesa devia duas coisas essenciais ao movimento de Maio: a liberdade sexual e o despertar para o envolvimento na reforma da universidade. Nada mais errado. Em 1968, a vida sexual entre namorados estudantes era coisa banal. Quando muito, pode-se dizer, ao que me recordo, que não havia era promiscuidade considerável, como veio a acontecer para o fim da década seguinte. Quanto à reforma da universidade, tal afirmação é uma ofensa a tudo o que de estudos, debates, publicações marcou a vida associativa dos anos 60.

Sou de opinião que Maio de 68 em França pouco marcou os estudantes portugueses, com excepção dos exilados em França. Aliás, passou-se um pouco o mesmo por toda a Europa, com excepção de Berlim. De certa forma, foi um fogacho. A provável estranheza com que alguns leitores lerão isto, leva-me a recorrer à glosa de um artigo provocador, “Praga y Memphis en Mayo”, de Antonio Muñoz Molina, publicado recentemente no El País. Até reproduz a célebre boutade de Pasolini, dizendo que tinha mais simpatia pelos polícias do que pelos estudantes, porque os primeiros eram filhos de operários e camponeses e os segundos eram filhos de burgueses ricos.

A reacção portuguesa, provavelmente também a espanhola, tem muito a ver com a influência marcante do partido comunista, com o aparecimento ainda quase vestigial dos grupos maoistas, sendo ambas as correntes claramente reticentes, para não dizer hostis, ao anarquismo ou a alguma influência trotskista sobre Maio de 68. Anarquistas e trotskistas, cá, só raros e por brincadeira. Por isto, para a minha geração, “a imaginação ao poder” e outros slogans eram engraçados, mas não pareciam coisa séria.

É por tudo isto que teve muito maior repercussão no movimento estudantil português, até com dissidências políticas que maio de 68 não causou, a concomitante Primavera de Praga. Aí sim, víamos revolução, adivinhávamos (ou desejávamos) uma rotura histórica com o então já fossilizado regime soviético. Não se deve esquecer também o reflexo entre nós do movimento estudantil americano. Mais uma vez, lidava-se com coisas bem menos ligeiras do que em França, era a guerra do Vietnam, que muito nos dizia por os nossos protestos contra ela serem facilmente relacionáveis com a nossa luta anti-colonial.

Como nota final, por já estar fora da universidade e com pouco contacto com Coimbra, não faço ideia sobre se a crise de Coimbra de 1969 deve muito, pouco ou nada a Maio de 68. Pelos seus principais protagonistas e as suas posições políticas, suspeito de que não deve muito.

04 maio, 2008

Flagstick: Campos de golfe nacionais sem «buracos»

Em 12 de Março de 2008, os Serviços Académicos da Universidade do Algarve publicaram a Deliberação n.º 705/2008, no Diário da República, nº 51, 2ª série, pela qual se dava a a conhecer uma iniciativa conjunta da sua Faculdade de Engenharia de Recursos Naturais da Faculdade de Economia bem como da Escola Superior de Gestão, Hotelaria e Turismo - para criação de um ciclo de estudos conducentes ao Grau de Mestre em Gestão e Manutenção de Campos de Golfe.
De uma forma geral, pareceu-me que a ideia não teve assim um acolhimento entusiasta de diversos quadrantes da Educação Superior.
Já não consegui encontrar a referência, mas cheguei a ler que não faltaria muito para alguém defender a «criatividade» da formação.
Se bem que a Universidade possa dispensar apoios, sobretudo, os pouco ou nada impactantes, o vaticínio estava absolutamente certo, pena é que seja eu a sair a terreiro, porque não sou mesmo nada convincente... mas aqui vão algumas das múltiplas razões pelas quais estou a torcer para que a Universidade tenha toda a sorte, e que não desanime em executar esta sua ideia, e que as outras não a sigam em bando para a mesma formação:
.
1ª - Na verdade, a ideia em si é das melhorzinhas que apareceram ultimamente na educação terciária, se bem que a sua realização, a meu ver, se inicia com uma pontinha de excessiva ambição ou confiança - no entanto, a este respeito, não posso deixar de dar razão a Doug Keeley - fundador e ex CEO da Integrated Communications and Entertainment - na sessão de abertura do Golf Industry Show de Orlando - evento anual promovido, pela Golf Course Superintendents Association of America (GCSAA) -- uma associção profissional dos gestores de golf (superintendents) lá do sítio, - quando disse (Fev., 2008): Leaders and winners in golf, as well as in life, focus instead on where they're going, not what could prevent them from getting there (...).
Também, de acordo com Keely, existirão apenas três tipos de lideranças: those with hierarchal power, those in control and those who simply go first - a Universidade do Algarve reuniu as 3 condições, e ainda ocupa uma situação relativa, no cenário da nossa Educação Terciária, que reclama muito mais por iniciativas corajosas do que por choradeiras copiosas, pela confidencialidade de gabinetes ou, em público aos pés da tutela, e diante da comunicação social, como é de "bom tom" com a maioria das suas pares.
.
2ª - Em 14 de Julho de 2007, foi lançado, em Faro, o ALLGARVE, lembram-se os meus caros e raros leitores disto? A designação é controversa, e não se pode dizer que o custo não o será ainda mais: durante as cerimónias, ficou-se a saber que o Turismo representará 15% do PIB nacional em 2015, o que justifica um investimento para a região de grandes empreendimentos de oferta hoteleira para os próximos dois anos, que perfaz 1,4 bilhão de euros. Com jeitinho, há toda a razão para extorquir alguns fundos do Plano Tecnológico.
.
3ª - As indústrias e serviços subsidiários do golfe - hotelaria, restauração e bebidas (vinho, refrigerantes, bebidas e águas incluídos) rent-a-car, agências de viagens, marketing e publicidade, eventos, discotecas, publicações, advocacia, máquinas e equipamento de golfe, relvas, empresas de adubos e fertilizantes, fotografia, topografia, etc., etc.., - em 2006, representaram uma facturação de cerca de 1,8 mil milhões de Euros, nada menos, que 1,24% do PIB português, 14% do PIB turístico e, sobretudo, o emprego de cerca de 100,000 pessoas, com a vantagem de garantir actividade na época "baixa". Cada campo de golfe, com cerca de 100 hectares, gera pelo menos 1250 postos de trabalho. Há uma intenção de se construirem 150 campos de golfe.
.
4ª - Campos de golfe são sistemas muito complexos, integram muitos e especializados agentes, que interagem de muitas formas diferentes, em diversas dimensões, não podendo qualquer delas ser ignorada. Nestas condições, os agentes são usualmente agregados a fim de formarem os órgãos funcionalmente especializados do corpo empresarial, tais como o marketing, a contabilidade, a protecção ambiental a economia de matérias subsidiárias - água e combustíveis. Os intervenientes podem também ser agrupadas em equipas - projecto, ou em task forces horizontais.
É nesta fronteira de caos que se precisa de movimentar, com profissionalismo, o (superintendente) gestor de golfe.
Na verdade, ninguém hoje estranha ou menospreza a actividade de um agrónomo que gere uma exploração agrícola, em ambiente rural; porque haveríamos de menosprezar um gestor de uma exploração do lazer em ambientes diversificados?
Seria bom, digo eu, distinguirmos os níveis de responsabilidade da actividade de um gestor de campo de golfe com a do aparador de relvados, assim como a importância, nos resultados do jogo, do actual caddy relativa à de um mochileiro de tacos ou de catador de bolas.
.
5ª - De acordo com a Golf Course Superintendents Association of America um gestor de campo de golfe, generally, earn high salaries and have great opportunities to advance in the profession. It is not unusual for GCSAA superintendents to earn a six-figure income as they advance in their careers. GCSAA superintendents will often go on to other areas of management, such as general manager of a facility.
.
6ª - A GCSAA recomenda a seguinte estrutura Curricular:
A. recommended General Education curriculum (Basic Core)
(......)
General Education studies.
• English Composition
• Speech (and/or) Oral Communications
• College Algebra (and/or) College Algebra and Trigonometry
• Social Science
• Foreign Language (Spanish is highly recommended)
• Introduction to Economics
• Introduction to Small Business Operations (and/or) Business Management
• Introduction to Marketing
• Computer Science (Computer Applications in Agronomy is highly
recommended)
B. GCSAA recommended Major Courses
Plant Sciences
• Botany
• Plant Pathology
• Plant Propagation
• Principles/Introduction to Turfgrass Science
• Plant Physiology
• Irrigation Systems Management
Integrated Plant Management
• Weed Identification
• Entomology/Nematology
• Safe Pesticide Management
• Integrated Pest Management
Agronomy
• Soil Science
• Plant Fertility and Nutrition
• Environmental Quality
• Turfgrass Management
• Physical Properties of Soil (Elective)
• Soil Conservation (Elective)
Horticulture
• Woody Plant Materials
• Herbaceous Plant Materials
• Irrigation and Drainage Systems
• Landscape Management (Elective)
• Landscape Design and Construction (Elective)
Business Management
• Golf Course Operations
• Accounting
• Business Management
• Human Resources/Personnel Management
• Financial Management
• Business Writing and Communications
• Written and Oral Communications
• Statistics (Elective)
• Computer Science (Elective)
• Introduction to Marketing (Elective)
Internship or cooperative work experience
_____________

Só deixei aqui, uma pequena parte dos motivos pelos quais desejo à Universidade do Algarve, seus futuros alunos e docentes do mestrado em Gestão e Manutenção de Campos de Golfe, as maiores felicidades profissionais. Precisamos de campos de golfe, mas sem buracos financeiros.
Se tudo correr de feição, nós todos ganharemos com isso.
Aos meus caros e raros leitores se depois de lerem este post tiverem ganas de me apedrejar, façam-no à vontade, mas com estilo, atirem-me com... diamantes...

TEE TIME! (estou de saída de jogo!)
_______________________
Referências principais:

http://www.gcsaa.org/cm/gen/gcsaa_generated_bin/documents/basic_module/PictureThis06.pdf

http://www.usga.org/turf/articles/management/general/when_in_doubt.html

http://www1.universia.net/EstudiosXXI/0OFE0/SU2PPESII1EE1/ST7215/OF218254/index.html

http://app.expansionyempleo.com/buscadorformacion/app/cursos/verCurso.html?curso.codigo=1209

http://www.cursosypostgrados.com/EXPERTO-EN-GESTION-DE-CAMPOS-DE-GOLF-LES-ROCHES-MARBELLA-3343.htm

02 maio, 2008

Dá gosto aplaudir

O governo anunciou algumas medidas que facilitarão o acesso à educação superior de públicos não convencionais, designadamente trabalhadores estudantes. Passa a poder-se frequentar disciplinas avulsas, que serão creditadas para um percurso académico seguinte. Haverá o estatuto de estudante a tempo parcial e a possibilidade de frequência de disciplinas à margem do plano de curso. Os estagiários continuarão a beneficiar de regalias próprias dos estudantes da parte lectiva dos cursos. Passa a não ser exigido o custoso diploma para efeitos de certificação do curso. Sobre Bolonha, a novidade de os estabelecimentos terem de apresentar relatórios regulares sobre a concretização da adequação a Bolonha dos seus cursos.

Pode-se dizer que são pequenas medidas avulsas, mas são elas que muitas vezes fazem avançar de facto e não de forma os processos. Assim como critico com frequência, hoje aplaudo o MCTES.

Só não concordo com uma afirmação do ministro, no sentido de que hoje já 90% dos cursos seguem o modelo de Bolonha, a menos que “modelo” signifique coisas diferentes para o ministro e para mim. Na próxima entrada contarei alguma coisa de uma experiência minha recente, instrutiva, sobre cursos “à Bolonha”.

01 maio, 2008

Só por ouvir dizer....

Diz-se que quem se dedica ao blogging tem vincada propensão para o mexerico.
Pode ser que seja verdade...
Hoje, por exemplo, vou comentar o que não ouvi directamente, e de que também não encontrei nenhum registo da blogosfera ou noutra fonte qualquer.
Na segunda feira, 28 de Abril, de 2008 eu não andava por aí, por isso, foi por intermédio do post "PODCAST" (Blog Co-Labor) da mesma data, que pude ler uma descrição "fotográfica" da entrevista da Antena 1, sobre o tema: "...Que futuro para a educação superior pública, em Portugal? Reestruturação dos cursos... Financiamento Novos Métodos... Ligação entre as universidades e o mundo do trabalho... (enfim, mais um road show de, nada menos que, para cima de DUAS horas).
Ainda procurei registos institucionais completos do sucedido, mas... devo ter procurado mal...

Encontrei um extracto de 15 minutos de arengas, sobre coisa nenhuma - tirando uma breve referência ao estudante a tempo parcial, do Senhor Ministro Mariano Gago - aqui, aonde acedi por indicação na caixa comentários do referido post (http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php) mas, quanto ao mundo do trabalho, nada! E o que eu queria saber eram só as opiniões do mercado de trabalho, de todos os outros ando cansada de as saber.
Como Deus é também amigo de alcoviteiros e o meu santo é forte; literalmente, tropecei numa pessoa conhecida que me disse:
Interessante, interessante mesmo, foi uma senhora dos Recursos Humanos da EDP dizer que a implementação do Processo de Bolonha em Portugal tinha tido um impacte muito evidente...
????!!!!! Isto é o que chamo de FÉ!
A ser verdade o teor da apreciação, como pode uma representante do "mundo do trabalho" (1) ter avaliado "favoravelmente" o impacte de formandos pelo Processo de Bolonha, se ainda não pode sequer ter saído um único formando para o mercado de trabalho, que tenha feito o seu percurso completo de aprendizagem por aí?
Serei eu que estou a ver mal?
_________
(1) - Enquanto a EDP não for uma empresa-EMPRESA que se preze - sujeita a concorrência leal de seus pares, e independente de benesses governamentais, para mim, não pertence sequer a nenhum mundo de trabalho, quanto mais que se precise de considerar as opiniões que emitem.