28 setembro, 2007

Exercícios de respiração por causa de hiperventilação

Enquanto, me dedico à avaliação de estragos irreparáveis, ocasionados ao futuro de muitos alunos do ensino superior politécnico, promovidos pela Direcção Geral de Ensino Superior, sob a intencionalidade e/ou complacência do MCTES e, perante a inércia e passividade das próprias instituições politécnicas afectadas, e a fazer uns exercícios de (contenção de) respiração - isto é, estou a tentar, (à semelhança de sobrevivermos em anóxia) nos subterrâneos, a calcular os danos institucionais das escolas e alunos, em especial, daquelas que, apesar de cumpridoras de todos os requisitos legais, tiveram reais preocupações estratégicas na concepção das formações politécnicas adequadas que ofereceram no passado e se propuseram garantir no futuro, para adaptar as suas formações anteriores aos requisitos do Processo de Bolonha, e que se vêm agora sem resposta concreta às suas propostas, deixando quanto a mim, de uma forma totalmente irresponsável, largos contingentes de alunos - por baixo por baixo, eu estimo pelo menos uns 5,000 - empurrados para um beco sem saída, ou melhor, com saídas facultativamente mandatórias para outras instituições de ensino superior, muitíssimo menos enquadradas, bem preparadas e/ou experientes em algumas formações, relativamente, às quais se descobriram, de repente, não mais do que de repente, vocacionadas quando, por força dos processos de adequação ao Processo de Bolonha, os 2ºs ciclos das licenciaturas bi-etápicas entraram em cessação abrupta, dentro de um ano, no máximo, dois anos, instituições melhor preparadas e equipadas, se vêm a trocar impressões com falsos autistas.

Será que fui só eu, neste país, a falar com cerca de cada um, aos pares ou em grupos, de uma meia centena de finalistas de bacharelatos, a perguntar-me: e agora, ajude-me, o que "acha" que eu devo fazer?

Esta situação não parece impossível, num estado de direito, que nos diz, de cinco em cinco minutos, que persegue a excelência da educação superior?
Asseguro-lhes, situações estapafúrdias, meus caros e raros leitores, são mesmo possíveis, o governo do estado é que, a mim, não me parece andar nada direito!
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Por piedade, alguém me traga um cartuxo - pode ser um qualquer de papel para os meus exercícios de respiração ou, pelo menos, o cartuxo das balas do meu rifle de caça grossa, que tranquei no cofre, daquela minha prateleira, lá de cima.
Meus caros e raros leitores, em resumo, é meu entendimento que em todas as circunstâncias ruins da vida, há vítimas, mas há ainda mais voluntários....

Delírio episcopal

Sem comentários, uma notícia de hoje no Diário de Notícias.
O arcebispo de Maputo, Francisco Chimoio, acusa os europeus de infectarem propositadamente preservativos com o vírus da sida "para acabar com o povo africano". As acusações, feitas à BBC, estão a chocar o país onde, diariamente, cerca de 500 pessoas são infectadas com o VIH.

"Os preservativos não são seguros porque eu sei que há dois países europeus que estão a produzi-los com o vírus de propósito", afirmou o arcebispo. "Eles querem acabar com o povo africano. Querem colonizar tudo. Se não tivermos cuidado, estaremos liquidados dentro de um século", acrescentou, indicando que a melhor maneira de evitar o contágio da doença é a abstinência, não os preservativos. Francisco Chimoio, o líder da igreja católica em Moçambique, seguida por 17,5% da população, recusou nomear os países em causa, indicando ainda que os medicamentos anti-retrovirais também estão infectados.

O poder do riso

Na sua coluna de opinião de ontem, no Público, Esther Mucznik discorda do convite da Universidade de Columbia ao presidente iraniano. “O que a Columbia University fez foi oferecer um palco de prestígio a Ahmadinejad”. Compreendo a sua posição, do ponto de vista de uma israelita, mas não concordo. Acabou por ser um espectáculo deplorável mas instrutivo (se é que precisávamos de mais instrutivo), como se pode verificar indo ao YouTube e vendo as dezenas de vídeos que lá aparecem se pesquisar “ahmadinejad columbia university”. A notícia e as imagens andam já por todo o mundo e são devastadoras.

Comece-se por notar a coragem do presidente da universidade, Bollinger, que não mede as palavras. Ditador mesquinho, é um dos mimos. Quase no fim, o grande momento, quando o homem afirma com o ar mais sincero que o Irão é um país “livre” de homossexuais (o que até seria uma aberração antropológica). A sala rebenta de riso. Hoje, em tempos da net, será difícil ao governo iraniano impedir os seus cidadãos de ouvirem essas gargalhadas. E já diziam os romanos que “castigat ridendo mores”.

27 setembro, 2007

Capelinhos

Um açoriano não poderia deixar de assinalar este dia, o do 50º aniversário da erupção dos Capelinhos. Ficar-me-á sempre na memória mas como uma das maiores frustrações da minha vida. Só o vi por fotografias nos jornais, porque nem televisão havia. E imaginam como era financeiramente um luxo ir-se de S. Miguel ao Faial? Poucos lá foram. Os interessados não tinham dinheiro, os que tinham dinheiro eram geralmente desinteressados.

Um novo jornal português?

Notícia de ontem do Público. “Está desde hoje nos quiosques espanhóis um novo jornal diário. De seu nome El Público, é um produto da Mediapro, sociedade que também está presente no núcleo duro accionista da recente cadeia de televisão, La Sexta. A nova publicação define-se como ‘progressista, de esquerda, popular, democrática e radical’ (…) Com uma redacção entre 130 a 140 jornalistas, delegações em Sevilha, Barcelona, Santiago de Compostela, Bilbao, Valência e Galiza e um horizonte de dez correspondentes internacionais, El Público apresenta algumas novidades. Não há editorial, peça que o director afirma só ter razão de existir no século XIX. E, todos os dias, haverá seis páginas dedicadas à ciência e outras tantas sobre temas culturais."

Falta também em Portugal, pelo menos falta-me a mim, um jornal que se assuma como tal, progressista e de esquerda. Creio é que não há espaço para tal, em termos de sustentação financeira (vendas, publicidade). Isto merece alguma reflexão. Começa por os nossos dois jornais de referência, Público e Diário de Notícias, se venderem a 90 cêntimos, ao passo que o novo jornal espanhol se ficar pelos 50 cêntimos. No entanto, não se acredita que gostem de ter prejuízo.

Mais importante, é que o novo jornal vai ter uma tiragem de 250.000 exemplares, num mercado em que os dois maiores, El País e El Mundo, já representam cerca de 760.000 exemplares. É aqui que as situações ibéricas são incomparáveis. Com o novo jornal, essa tiragem global é de cerca de um exemplar por 40 habitantes. Em Portugal, os dois citados contam com cerca de 80.000 exemplares, um por 125 habitantes. Como disse, é voz corrente que isto já é mercado saturado. Contentemo-nos, portanto com os tais dois, e em relação aos quais venha o diabo e escolha.

26 setembro, 2007

Nota gastronómica (XXIX)

Os ingleses em S. Miguel

As famílias micaelenses de óbvia origem inglesa, Hickling, Read, Anglin, Ivens, Fisher, Ryley, Hayes, outras, estabeleceram-se no ciclo próspero da laranja. Não dou por hábitos gastronómicos que daí venham. Talvez um bolo muito vulgar, com semelhanças com o "Christmas pudding". Já identifico uma ou outra pequena coisa, na família, mas de influências posteriores.

Houve dois casos marcantes de convívio micaelense com ingleses. Um foi o cabo submarino. O avô da minha primeira mulher era funcionário do cabo e pessoa de bom gosto, tendo sido um fotógrafo amador de muito bom nível. Desse contacto, ficou na casa dos meus primeiros sogros uma muito boa confecção de rosbife e, principalmente, o hábito de confecção caseira de uma excelente mostarda. Infelizmente, não a aprendi.

Outra influência inglesa na minha família veio de um contacto profissional muito estreito do meu pai com os engenheiros ingleses das obras de ampliação da doca de Ponta Delgada. Uma perdi, porque sou preguiçoso e o meu pequeno almoço é ligeiro, excepto quando me vingo nos hotéis, em viagem. Em casa dos meus pais, metia obrigatoriamente "porridge" ou ovos e salsicharia. Os ovos estrelados sobre bacon passaram depois para meu almoço frequente, hoje. Agora, acima de tudo, que saudades, a coisa inglesada da minha casa de miúdo que mais me encantava e por que o meu pai se perdia era o arenque fumado, mas o velho arenque carrascão, não o que se vende por aí, que é arenque mariconço.

Acabo com brinde, coisa muito simples de que falei mas que tem truques, os ovos com bacon. Se possível, usar frigideiras individuais de barro. Mesmo que não possam ser de barro, não há maneira de preparar os ovos sem ser numa frigideira pequena, em dose individual. Aquecer uma boa dose de manteiga, com um pouco de banha. Dispor numa camada as fatias de bacon, a cobrir bem o fundo e fritar a meio ponto, conforme o gosto. Isto é essencial, porque o gosto pelo ponto final da fritura do bacon é muito pessoal. Cada um tem de saber o que é o seu meio ponto.

Derramar com cuidado dois ovos e temperar logo a gema com sal (hoje uso flor de sal) na gema e pimenta preta moída a fresco na clara. Com cuidado, com uma colher, apanhar gordura muito quente debaixo do bacon e derramar sobre a clara mas nunca sobre a gema. Fazer isto constantemente até as claras estarem fritas. Derramar para o prato, sem a gordura e sem rebentar as gemas (aqui se vê o artista!). Para completar a qualidade dietética deste prato, um bom pão com manteiga açoriana.

Depois disto, creio que não vão ser capazes de comer no hotel uns horrorosos ovos mexidos e umas fatias de bacon prontas a servir para sola de sapato.

25 setembro, 2007

Água mole em pedra dura...

A Ásia habituou-nos a formas de protesto político aparentemente inócuas mas que, no fim, se revelaram tremendamente poderosas. Quem não sabe o que foi a marcha do sal de Gandhi ou a recusa à compra de panos ingleses? Ou a imolação pelo fogo dos monges vietnamitas?

Agora é a Birmânia. Começou por uns tantos monges budistas, cada vez mais de dia para dia. Agora arrastam atrás de si, nas manifestações diárias, dezenas de milhares de manifestantes. A seguir, como anteontem, as monjas, possivelmente com capacidade de apelo à participação de mulheres nas manifestações.

Estejam atentos.

Nota – A referência à Ásia não faz esquecer, entre outros, Martin Luther King.

24 setembro, 2007

mesmo pote destinos diversos

Gostaria de, neste blog, dedicar um espaçozinho aos famosos Cursos de Especialização Tecnológica (CET).

Uma pessoa de família, nestes últimos dias, enviou-me um exemplar de um livro desprentensiosíssimo mas, para mim, muito interessante, recheado de passagens, sobre as quais fui obrigada a repensar. Exemplo, e a propósito da importância dos CET, considero útil recorrer a um Extracto do citado livro: O Português que nos pariu - uma visão brasileira sobre a história dos portugueses. Páginas 73 e 74. Angela Dutra de Menezes (2001):

Esta triste mentalidade sobrevive entre nós. Atenuada, é verdade, o enredo já foi pior. Durante séculos, a elite primava pelo conforto de se espreguiçar. Tantos a sustentavam que ela se orgulhava de não manusear dinheiro. Hoje as coisas mudaram, mas resquícios permanecem. Bom exemplo é a classe média, toda ela se esfalfando para entregar aos herdeiros o diploma de doutor, fazendo-os "filhos de algo". Em nossas cabeças o trabalho manual é coisa de “filho de vulgo”, traduzindo: mal nascido.

Se o pimpolho de um engenheiro quiser ser mestre-de-obras, provocará um sinistro. Papai terá um ataque, apontando ao menino sua vocação de "pobre". A mamãe lamentará, discursando ao desvairado exemplo da família, toda ela graduada em curso superior. A vovó recorrerá ao rápido Santo Expedito, prometendo a loucura de imprimir cem mil preces, desde que o neto se emende. O resto da família fofocará o fracasso dos pais do mestre-de-obras, incapazes de educá-lo no viver de gente bem.

Se não podemos ser riquíssimos, nobres da modernidade, ao menos nos situemos sobre classes populares, exercendo actividades que não desonrem o berço do nascimento sadio. É bem melhor passar fome com diploma na parede, do que mourejar ao sol, ao proletários’ way.

A inquirição, que ensinou-nos o desmérito do trabalho, também nos inculcou o vício de olharmos as actividades manuais, carentes de bom diploma: simples serviços rasteiros desonram o trabalhador. Se é preciso trabalhar, o digno é ser doutor. Ao menos garante servos saracoteando em volta.
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Voltarei ao tema dos CET, logo que puder. Pode ser?

Uma pequeníssima diferença

Sócrates não recebeu o Dalai Lama. Angela Merkel recebeu o Dalai Lama. É só a irrelevante diferença entre um estado que é grande potência e outro que nem sequer se pode chamar de micro-potência. Mas a coerência e o orgulho político estão obrigatoriamente dependentes desta diferença?

Bento de Gois

Alguém sabe quem foi? É uma figura injustamente esquecida e associo-me a um artigo do último Expresso propondo a comemoração, ainda este ano, do quarto centenário da sua morte, embora já passado o mês de Abril. O artigo é de Miguel Monjardino, nome que, à légua, cheira a Açores. Tinha de ser um açoriano, próximo ou distante, a lembrar-se de Bento de Gois. Transcrevo parte do artigo.

"Bento de Góis nasceu em 1562 em Vila Franca do Campo, na ilha de S. Miguel, nos Açores. Soldado no Oriente e um linguista extremamente dotado, tomou-se membro da Companhia de Jesus em 1588. No início de 1603, vestido de mercador persa, Góis partiu de Lahore para Cabul integrado numa longa caravana com quinhentas pessoas. A viagem durou seis meses e foi extremamente difícil por causa do clima, das montanhas e de ataques sucessivos na zona da actual fronteira entre. o Paquistão e Afeganistão. A dureza da viagem até Cabul e as baixas sofridas levaram muitos membros da caravana de Góis a desistir de continuar a viagem.

Acompanhado por um cristão arménio, Góis parte com uma nova caravana para uma viagem extraordinária através da cordilheira Pamir, do Karakoram e deserto do Góbi. Sobreviver ao frio e progredir em altitudes na casa dos cinco mil e quinhentos metros foi uma verdadeira odisseia. O determinado explorador jesuíta e o seu fiel companheiro arménio mantiveram-se vivos comendo maçãs secas e cebolas e esfregando alho nas gengivas dos cavalos que não morreram pelo caminho. A viagem através do Góbi foi feita de noite para evitar encontrar bandos de tártaros que assassinavam regularmente os mercadores estrangeiros.

Bento de Góis chegou a Sucheu na China no Natal de 1605. A sua duríssima viagem de quatro mil e quinhentos quilómetros atravessou um percurso povoado por tribos extremamente hostis e permitiu-lhe concluir que Cataio era mesmo a China, que não existiam comunidades cristãs perdidas na Ásia e que também não existia um bom caminho terrestre entre a Índia e a China. A sua contribuição para os. conhecimentos geográficos europeus sobre a Ásia foi enorme.

Góis morreu em Sucheu no mês de Abril de 1607. Tinha 45 anos. Quatrocentos anos depois, este enorme explorador jesuíta, o primeiro europeu em muitos séculos a atravessar a Ásia Central e a chegar à China pelo ocidente, é praticamente desconhecido entre nós. Vila Franca do Campo relembra-o. O resto do país ignora-o e pensa que a Ásia Central é irrelevante. Não é. 2007 é o ano ideal para começar a mudar esta situação."

23 setembro, 2007

"Eles" ? Mas,... quem?

Enquanto nós, por cá, repousamos e ou repisamos argumentos sobre o RJIES - Regime Jurídico das Instituições de ensino superior, lá a nível global, desenham-se as políticas de desenvolvimento da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. A falta objectiva de se ter ou poder, especificamente, o que fazer, aguça em demasia o interesse sobre o que os outros fazem ou não, e foi assim que, nesta última semana me dei conta do muito que por aí se vai concebendo, em matéria das próximas futuras linhas de força mundiais do ensino superior, ciência e tecnologia, exemplos:

1) Conferência Mundial sobre Integridade Científica - 16-19 Setembro 2007;
2) MCTES promove no Luxemburgo reforço da colaboração bilateral - 13 Setembro 2007;
3) SECTES participa nos EUA no seminário "Adapting Universities to the Global Society" - 11 Setembro 2007.

Na página do MCTES, há mais de uma semana, que somos surpreendidos e informados, sobre importantes eventos, acerca dos "desenvolvimentos recentes no sector em Portugal, bem como as prioridades da Presidência Portuguesa da UE na área do ensino superior e da ciência e tecnologia".
Gosto de prestar atenção à distribuição espacial da limalha de ferra sob acção de campos magnéticos. No caso presente, o papel do campo magnético genérico no âmbito da educação, ciência e Tecnologia, calhou muito principalmente a Portugal e, mais especificamente, através do 2º Parágrafo da Lei Orgânica, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Decreto-Lei n.º 214/2006 de 27 de Outubro, sendo que, o trabalho de sapa executivo foi, indubitavelmente, atribuído a Manuel Heitor (MH).
Ele (MH), e seus quê? co-workers? participaram, nominalmente, pelo menos em dois dos eventos - o primeiro e o terceiro. O trabalho realizado foi muito e, a meu ver, parece estar a ser, razoavelmente, bem feito, mas eu é que ainda não percebi, e penso que teria direito de perceber muito bem, é que chapéu está a usar o autor MH - será o de Secretário de Estado? o de Professor do IST? ou ainda o do Investigador de uma unidade de Investigação "secreta", para os não iniciados - "Center for Innovation, Technology and Policy Research, IN+". Seria bom que MH soubesse, que não se devem traduzir designações de identidades, mas....
Ao contrário do que eu penso, como cidadã europeia e como contribuinte portuguesa, MH/MCTES acha(m) que a Europa precisa reforçar o financiamento público da Investigação, Desenvolvimento e Inovação, e eu insisto é que precisaríamos de encontrar forma de reforçar e incentivar a contribuição das empresas PRIVADAS europeias e portuguesas.
Para estas empresas, entre nós, eu não conto 'coisas de administração para-pública super estranhas e duvidosas até para analfabetos em economia e finanças', tais como PTs, EDPs, e Empresas criadas e financiadas ao abrigo de "cotas, quotas ou acções" públicas, e esta concepção faz toda a diferença. O senhor ministro Mariano Gago, por exemplo, jamais se cansou(a) de clamar sobre a necessidade das instituições de ensino superior público - que, para ele, (e talvez até também para mim, up to a point) se restringem a ALGUMAS universidades - "têm de se habituar a um modelo diferente de financiamento".
Divergimos, entre nós, só 180º no conceito de financiamento aplicável, a saber: O que me parece que o Senhor Ministro quer é atribuir, discricionariamente, sob sua bênção directa, financiamentos públicos para a I&D&i, a entidades e ou instituições públicas à la carte, e o que penso, pior, como contribuinte exijo, é que financiamentos públicos não podem ser usados, como subsídios ad hoc, para "empresas para-privadas".
Privilégios destes, não há quem os não queira, mas porque será que se atribuem a uns quantos iluminados?
Procedimentos destes não credibilizam ninguém, antes porém, cheiram-me seriamente a desvios financeiros intoleráveis, e que estão longe de poderem incentivar e mobilizar a nossa débil iniciativa privada, mesmo a nível europeu, enquanto, isso sim, favorecem injustificadamente a ampliação, manutenção de subsídio dependências e currículos pessoais preferenciais, só que, cada vez são mais caras e hegemónicas e, proporcionalmente, mais selectivas e desprovidas de pré-requisitos conhecidos e reconhecidos, empurrando as restantes entidades ou instituições para imobilização progressiva, sem que nunca tivessem qualquer oportunidade de opção, ou sequer conhecimento dos seus invisíveis condicionamentos.
Quero dizer, seria benéfico seriar à priori, quem pode ou deve fazer o quê, evitando-se a todo custo perdas de energia e tempo, resultantes de vã alimentação de falsas expectativas ou a indução de insistentes murros em pontas de faca.
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Conferir informações deste post, via http://www.mctes.pt/:
- SECTES participa nos EUA no seminário "Adapting Universities to the Global Society"11 Setembro 2007.
- “Transatlantic Policy Colloquium”, que este ano discute os processos de reforma do ensino superior a nível internacional.
- Instituições Portuguesas participantes - via:
http://www.spea.indiana.edu/tac/institut.htm: Instituto Superior Technico (???) Center for Innovation, Technology and Policy Research (???).
- Apresentação SECTES. - Brief policy paper prepared for the "World Conference on Research Integrity" - Manuel Heitor Secretary of State for Science, Technology and Higher Education.
- Concluding Remarks by Manuel Heitor Secretary of State for Science, Technology and Higher Education.

22 setembro, 2007

Aborto

Durante a campanha do referendo sobre a despenalização do aborto, não vi que fosse muito contestada a estimativa de 20.000 abortos clandestinos por ano. Era a projecção de dados policiais e da comparação internacional com a percentagem de legais, nomeadamente em clínicas espanholas.

Leio agora (Público, 21.9.12007) que, nos primeiros dois meses de vigência da nova lei, foram praticados cerca de 1400 abortos, o que projecta para 8400 por ano. É claro que esta projecção é muito falível, porque ainda não se entrou em "velocidade de cruzeiro". Uma coisa parece certa: contra os alarmes dos defensores do não, não há evidência, para já, que a lei esteja a estimular o aborto. Pelo contrário, até é plausível que tenham razão os que receavam que, mesmo com a nova lei, não se criassem condições efectivas para a sua aplicação.

21 setembro, 2007

Aquilino, um escritor medíocre

Na sua coluna do Público, escreveu Vasco Pulido Valente que discordava da inumação de Aquilino no Panteão, não por ter sido anarquista mas por ter sido um escritor medíocre. VPV tem todo o direito à sua opinião, desde que fundamentada minimamente. Também eu confesso que não consigo ler Saramago desde há uns tantos livros para cá. No entanto, escrever num jornal "de referência", sem mais", que Saramago é um escritor medíocre, só porque não gosto de o ler, e sem nenhuma outra fundamentação da minha crítica, é acto demencial ou de uma intolerável infantilidade provocatória de menino-bem e mimado. Se eu me puser aos berros no Rossio a dizer que Picasso nem desenhar sabia ou que Einstein não sabia resolver uma equação, sou bom candidato ao Júlio de Matos.

Não há pachorra para aturar boa parte da nossa "intelectualidade". Ainda por cima, eu sei que eles até gozam connosco, em clube privado. Não tomam a sério esses seus dislates, não os discutem como opinião, gozam que nem perdidos é com o seu campeonato de "épater le bourgeois". Mas de quem é afinal a culpa? Não será de quem lhes dá o lugar na tribuna da opinião? Faria bem a muita gente cúmplice com isto reler o que Fradique escreveu sobre o Pacheco, de quem se falava em todas as barbearias de província, um rapaz de imenso talento.

Um novo CRUP?

Durante bastante tempo, falei do cinzentismo do CRUP, fruto da mediania dos reitores. Ultimamente, por vária s vezes, tenho estendido a mão à palmatória. Na generalidade dos casos, os reitores eleitos desde há uns tempos para cá têm marcado boa posição e têm assumido posições combativas e consequentes. Ressalto Seabra Santos, pela circunstância especial de ser o presidente do CRUP.

A sessão de abertura do ano lectivo de Coimbra deve ter sido divertida, no bom sentido do termo. Segundo o Público de ontem, Seabra Santos "criticou ontem duramente a política do Governo para o ensino superior. Fernando Seabra Santos acusou o ministério de Mariano Gago de estar a promover a "fragmentação das universidades", com o novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES), que entra em vigor a 10 de Outubro".

Claro que falou também do financiamento. "O sistema de financiamento do ensino superior foi também fortemente criticado. Segundo Seabra Santos, desde o início da legislatura, a percentagem do produto interno bruto (PIB) afecto ao ensino superior baixou 14 por cento, um número que na opinião do reitor da UC ilustra o "tratamento escandaloso" que as universidades têm recebido do Governo. "A universidade portuguesa dispõe, por cada aluno que forma, de pouco mais de 4 mil euros por ano, valor que deve ser comparado com 8 mil euros da média da UE a 25. (...) Isto traduz a vontade política do Governo, naturalmente não assumida, de estrangular as universidades para as colocar na dependência das unidades de investigação", afirmou."

Mas muito mais gozado é o que relata o Jornal de Negócios. "O reitor da Universidade de Coimbra e presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), Seabra Santos, acusou ontem o ministro do Ensino Superior, Mariano Gago, de favorecer politicamente uma escola – o Instituto Superior Técnico (IST) da Universidade Técnica de Lisboa, instituição de onde provém o próprio ministro. Durante o discurso de abertura do novo ano lectivo em Coimbra, Seabra Santos criticou Mariano Gago por nomear apenas pessoas do IST para os cargos políticos mais importantes do Ministério (... o ministro, o secretário de Estado, o presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, o presidente da Agência para a Sociedade do Conhecimento e o director do Programa Portugal/ MIT...) e por ter utilizado, alegadamente, a nova lei que regulamenta o ensino superior (o novo regime jurídico) para ir de encontro a pretensões do IST. O leque de acusações envolve ainda um outro ponto: o presidente do CRUP diz que o ministro tem leis erigidas em função de “agenda própria”.

Ora aqui está o que é chamar os bois pelo nomes!

Nota - Este texto foi escrito independentemente da publicação da entrada de ontem de Regina Nabais.

20 setembro, 2007

Desculpem lá o bocejo... aaghh...

Via Blog «Que Universidade?», pelo nosso amigo e sempre atento MJMATOS, ficámos a saber que o Público de hoje, lá pelas páginas tantas, publicou umas intervenções que intitularam "Reitor da Universidade de Coimbra acusa Governo de querer estrangular universidades" e "Politécnicos exigem revisão da lei de financiamento", cujos extractos também podem repescar, num ficheiro *.doc, meu, permanente, enquanto gratuito, aqui. Vai o tempo e volta o tempo e, apesar de todos sabermos que os recursos do país são mesmo curtos, e que a OCDE já disse que relativamente ao financiamento público, até que Portugal não está mal posicionado, quando comparado com os restantes países da OCDE - o que se torna num dos poucos indicadores portugueses pouco preocupantes, próximo ao dos Estados Unidos e superior aos do Japão, ninguém dos responsáveis, se cansa de arengar com os dinheiros. Apesar dos pesares, relativamente aos dois artigos já mencionados, parece que o CCISP, a meu ver, acertou num único ponto - o que é que aconteceu om os mestrados profissionalizantes dos politécnicos, propostos à Direcção Geral de Ensino Superior, em Novembro de 2006 - ter-se-ia o CCISP enganado, desta vez, quando ao fim de quase um ano vem protestar? Ora meus amigos, porque não haveremos nós todos de comemorar, com muita pompa e circunstância, o aniversário de mais umas propostas de mestrados de politécnicos à DGES, sem que esta se pronuncie, nem que sim, nem que não, e sobretudo porque não fundamenta os sim(s) já emitidos bem como a ausência de respostas para os restantes? Em compensação, a DGES aprovou alguns CETs sob propostas posteriores, se bem que não esclareçam como será o financiamento destas formações. Os meus caros e raros leitores querem que eu lhes diga porquê? Não? Pronto, digo na mesma, estou com uma daquelas disposições "sal de frutas"... É muito simples, tenho a certeza absoluta que algumas propostas de mestrados de alguns politécnicos são mesmo muito boas e, é só por isso - são, verdadeiramente, muito concorrenciais para as instituições ditas concorrentes, e que não aceitam de forma nenhuma uma verdadeira concorrência, quer falemos de um subsistema ou de outro. Como ando a dizer isto, há uma data de tempo, enquanto o CRUP ou o CCISP insistem em falar do financiamento de uns....aaghhh..... desculpem lá... ainda por cima, diz-se que os bocejos são, assim, a modos que, ...contagiosos....

Aquilino no Panteão

Portugal prestou ontem uma mais do que merecida homenagem a Aquilino Ribeiro. É pena que tenha sido inquinada por alguma polémica, de monárquicos fanáticos que não lhe perdoam um nunca provado envolvimento no regicídio. São coisas que só menorizam os detractores, que nem aos chinelos do mestre se podem comparar. E os que lá estão, são impolutos? Carmona e Sidónio, porquê? Amália teve uma vida irrepreensível? Humberto Delgado foi sempre símbolo da oposição ao salazarismo?

Curioso é também repararmos nos escritores homenageados no Panteão. Garrett, indiscutível. Mas Guerra Junqueiro e João de Deus, quando não estão lá Camilo e Eça? Estas honras têm sempre uma grande margem de erro, ao sabor dos interesses de momento.

19 setembro, 2007

Errata

Por erro exclusivamente meu, de edição, a nota de José Ferreira Gomes sobre o acesso ao ensino superior , no meu sítio, apareceu com título errado e com uma versão desactualizada do texto. Podem ler agora, corrigido, "Acesso ao Ensino Superior: boas notícias para todos". O meu pedido de desculpas a José Ferreira Gomes e aos leitores.

Sobre a educação superior (VIII)

Uma boa proposta, mas impossível

Creio que os meus leitores já devem ter percebido que tenho "mixed feelings" em relação à lei 62/2007 (RJIES). Considero, no essencial, que ela vai causar uma revolução inevitável no sistema de educação superior e isto, dê o que dê, é sempre positivo. Por outro lado, tenho criticado muitos aspectos pontuais mas importantes, nomeadamente a rigidez em relação aos modelos de governação e ao regime administrativo. Deste falarei depois.

Talvez já tenham reparado que dois bons amigos meus, José Ferreira Gomes e Sérgio Machado dos Santos, e eu próprio formámos um trio para divulgação de propostas fundamentais. Fizemo-lo em relação à autonomia e governação, mas por defendermos como princípio uma grande flexibilidade, até escrevemos que cada um seria capaz de apresentar soluções concretas radicalmente diferentes das dos outros. Curiosamente, isto verificou-se, num conjunto de colóquios sobre o RJIES em que participámos.

Por isto, não poderia deixar de comentar uma proposta do reitor da U. Porto, Marques dos Santos, no último número da revista do SNESup.
"Parece-me que um modelo razoável seria baseado num Senado pequeno, na ordem das vinte e poucas unidades, todas pertencentes à própria Universidade, docentes, estudantes e não docentes. Este órgão teria a seu cargo as funções académicas da Universidade e competir-lhe-ia ainda indicar três pessoas para um conselho geral da Universidade. O Governo indicava outros três, porque é a sociedade que paga as Universidades e, por isso, tem direito a ter aí alguém. Estes seis escolheriam mais três, externos à Universidade e era este grupo de nove pessoas, cuja maioria deveria ser externa à Universidade, que escolhiam o Reitor, aprovavam o plano estratégico da Universidade, os planos anuais, os relatórios anuais e que avaliava e podia demitir o Reitor. O Reitor, por sua vez, era seleccionado num concurso."

Aplaudo! Não me repugna nada esta hipótese, mas podia apresentar muitos mais exemplos. O problema é que o reitor da UP não pode propor este modelo, porque a lei não o permite de todo! Se a lei tivesse sido apenas isto?

Novamente o Público


José Manuel Fernandes, director do Público, já deve enjoar o meu nome. Ainda anteontem lhe fiz notar que uma jornalista escreveu "... afirmam que medida que...". Hoje, arrumando jornais já de uns dias, dou por esta nota sobre a corveta Jacinto Cândido. É claro que para o Público "barco" de guerra é tudo a mesma coisa, corveta e fragata são nomes bizarros, mas também leitor e bicho é tudo a mesma coisa na estima do jornal.

Quem olha para aquela imagem suspeita logo de que navio daquele deslocamento não é corveta. Se conhecer um pouco mais de marinha, vê que é uma fragata da classe Vasco da Gama (mais conhecida por Meko). Se for mais curioso, como eu, vai confirmar que a F331 é a Álvares Cabral e que a corveta Jacinto Cândido é a F476 (já decrépita).

Esquisitices, dirão. Mas o que diriam se o jornal, a ilustrar uma notícia sobre Sócrates, estampasse uma fotografia de Salazar? Afinal, se navio é navio, também primeiro ministro é primeiro ministro.

18 setembro, 2007

Os "lobos"

Tenho pouco de desportista activo. Algum ténis em jovem, hoje golfe. Não deixo é de ser interessado desportista de bancada ou agora de sofá, em tempos de TV. Sempre gostei muito de rugby, não perdia o torneio das cinco nações. É um desporto duro, sem versão feminina, mas extremamente correcto. Não me lembro de alguma vez ter assistido às canalhadas tão vulgares no futebol. E aquela regra essencial de não se poder passar a bola (?) para a frente com a mão é mesmo maluqueira de quem quis dificultar o jogo ao máximo e exigir grande capacidade atlética aos jogadores.

Isto vem a propósito desta coisa cada vez mais vulgar dos últimos anos que é ficarmos privados de participar em coisas tão interessantes como tem sido esta actuação dos "lobos" por o contrato de transmissão ser concedido a um canal privado. Chega até a campeonatos mundiais e aos próprios jogos olímpicos. Deixo aqui uma sugestão que sei ser aberrante, em termos de liberdade de negócios: que todas as intervenções desportivas de selecções nacionais sejam obrigatoriamente de sinal aberto.

Nota gastronómica (XXVIII)


Ostras

Esta imagem foi tudo o que pude recuperar da embalagem, já no lixo, de um almoço recente, de ostras, coisa deliciosa. São uma das minhas perdições e a minha mulher, ao fazer compras, bem conhece os meus pontos fracos.

Simplesmente, é compra bem rara aqui para os meus lados. Habituei-me a elas, quando podia, vindas bem frescas de Bouzigues, quando vivi em Toulouse. Depois, cá, do Tejo e do Sado, bem boas que eram, as famosas "ostras portuguesas". Há dias, escrevendo a um amigo morador fanático da beira-Tejo, na outra banda, desafiando-o a trazer-me ostras, respondeu-me o seguinte.
"Tem a sua ironia eu morar a 200 metros da ÚNICA estação depuradora de ostras que este país tem, que está inactiva e em ruínas há seiscentos mil anos [JVC - esta não percebo, o meu amigo que explique], et pour cause o Estado vendeu-a em hasta pública a uma empresa que fará magníficas vivendas em condomínio privado."

Pela imagem, as ostras portuguesas foram para outras paragens. As que comi, vieram de Vila Praia de Âncora, muito boas. Como não podia ser, a mais simples das confecções. Espalhadas sobre o tabuleiro do forno, já a 210º, para abrirem rapidamente sem emborracharem. Não esperei que abrissem, apenas reparei quando é que já havia uma fresta para meter a faca. Um pouco de manteiga açoriana derretida e limpa do fundo, sumo de limão a gosto, um toque de pimenta. Claro que isto foi porque tive de respeitar o gosto da minha mulher, que se horroriza com o meu prazer de comer ostras cruas, bem como lapas. Mas insisto, cruas, que delícia!

Teria ido por um champanhe ou por um Alvarinho (já que as ostras eram minhotas), mas tinha no frigorífico um bom Sauternes. Não é vinho que aprecie muito, por causa do adocicado, mas ligou bem.

"Para dorar una cebolla o servir y degustar unos macarrrones hace falta filosofia." (Santi Santamaria)

17 setembro, 2007

Sobre a educação superior (VII)

O acesso ao ensino superior

O meu caro amigo José Ferreira Gomes, professor e ex-vice-reitor da U. Porto, publica hoje no meu sítio uma nota desenvolvida, "Comentário aos resultados do Acesso ao Ensino Superior 2007 (1ª fase)", que creio que vai merecer alguma polémica. Não digo porquê, para não desmotivar os leitores. Os comentários podem ser deixados aqui.

16 setembro, 2007

Novo posicionamento

"O PS é um partido de "centro-esquerda". A nova nomenclatura - a servir de mote antecipado às eleições de 2009 - foi ontem lançada por José Sócrates, acentuando ainda mais a distância que o separa da esquerda do partido.

(Diário de Notícias, hoje)

Portas de recomeços

O dia de ontem-hoje até que correu bastante bem, para o ensino superior português.
A Direcção Geral de Ensino Superior (DGES) cumpriu os prazos, há muito previstos em calendário, na sua página do acesso ao ensino superior, (aqui) - para a disponibilização de informações sobre os resultados da 1.ª FASE DO CONCURSO NACIONAL DE ACESSO DE 2007, e juntou-lhe uma nota de síntese - (aqui).
Tomara que esta notável proficiência da DGES, demonstrada neste processo, seja para ficar, expandir e generalizar a outras das suas atribuições.

Também foi reconfortante saber-se que algumas instituições se esforçaram por oferecer formações pós-laborais - abrindo hipóteses a alunos trabalhadores - se bem que. a meu ver, não tenham visto o seu esforço, devidamente, recompensado pelo interesse dos candidatos.
Ainda há que referir que em 97 dos cursos com mais do que 20 vagas iniciais, foram preenchidas, até agora, menos do que 50%.

As candidaturas, por instituição nesta primeira fase, deram os seguintes resultados, considerando a taxa aproveitamento das vagas oferecidas:

ESTABELECIMENTOTotal
_________________________
ULISBOA_Politécnico
_____
100.0
UPORTO99.1
UMADEIRA98.3
ISCTE96.1
UNOVALX95.1
UAVEIRO93.5
IPCOIMBRA93.4
UTÉCNICA91.2
IPPORTO89.9
UAVEIROP89.0
UCOIMBRA88.1
UMINHO85.1
UTAD84.8
IPVIANADOCASTELO83.8
IPLISBOA82.8
UÉVORA82.3
IPLEIRIA81.3
UALGARVEP77.7
IPCAVADOAVE77.1
UBI76.3
IPSANTARÉM75.5
ULISBOA73.3
UAÇORES69.9
UALGARVE69.6
IPCASTELOBRANCO68.3
IPGUARDA64.2
IPSETÚBAL63.2
IPVISEU60.9
IPBEJA53.3
IPTOMAR50.5
IPPORTALEGRE44.8
IPBRAGANÇA43.8


ENFERMAGEM E ESCOLAS DE SAÚDE
94.1
Média Geral80.9

______________________________________________
Enfim, penso que, dentro do possível, tudo correu bem!
Um brinde aos bons recomeços e melhores acabamentos!

ADITAMENTO (16-09-2007; 16:40 h) - relacionado com o facto de um leitor deste blog num seu comentário a este post, sobre os resultados do acesso - taxas de aproveitamento de vagas oferecidas na primeira fase de candidatura - ter feito uma observação específica apenas sobre uma das formações superiores, decidi publicar (aqui) uma síntese do que, genericamente, se passou por cada uma das formações, e estabelecimento de ensino, considerando apenas as taxas de aproveitamento das vagas oferecidas em cada uma delas - o que quer dizer que esta minha lista desconsidera questões muitíssimo importantes, de que destaco os diversos regimes de acesso por um lado, e a capacidade e demais requisitos de preparação efectiva das instituições para leccionarem as formações listadas.

15 setembro, 2007

Sabedoria chinesa

Não vou falar do Dalai Lama, que claro que não é chinês. É personagem por quem tenho o maior respeito, e por isto lamento que se sujeite, por objectivos políticos irrealistas, a envolver-se em situações destas, que podem prejudicar a sua imagem religiosa e moral (no mais elevado sentido da palavra).

Vou falar é dos comerciantes chineses da Baixa. Maria José Nogueira Pinto quer encafuá-los na zona do Martim Moniz. António Costa, desmarca-se, o Bloco protesta com veemência. Também a mim, à primeira vista, me pareceu ser um acto simbólico de inaceitável xenofobia.

Mas leio hoje que o presidente da associação dos comerciantes chineses está de acordo, que em toda a parte há "chinatowns" e que é bom para o negócio. Vou passar a ter mais cuidado com as minhas indignações e, pelo menos, a não ser mais papista do que o papa.

14 setembro, 2007

Hoje, daria discussão de plágio

"Pescador da barca bela,

Onde vais pescar com ela.

Que é tão bela,

Oh pescador?
Não vês que a última estrela

No céu nublado se vela?

Colhe a vela,

Oh pescador!
Deita o lanço com cautela,

Que a sereia canta bela...

Mas cautela,

Oh pescador!
Não se enrede a rede nela,

Que perdido é remo e vela

Só de vê-la,

Oh pescador.
Pescador da barca bela,

Inda é tempo, foge dela

Foge dela

Oh pescador!"

Lindo poema, mas duas coisas muito diferentes. Nos tempos de hoje, daria grandes discussões sobre plágio; para mim é coisa magnífica de construção cultural.

O poema é de Garrett, ninguém pode duvidar de que é um poema erudito, embora simples, não uma poesia popular. Foi muito bem musicado por Lopes Graça, mas com um toque de ouvido da tradição açoriana, porque a "Barca bela" também é uma velha canção açoriana, surpreendentemente tão semelhante em poema.

Estranho? Se calhar não. Garrett viveu nos Açores, em jovem, com o seu tio, bispo de Angra, D. Frei Alexandre da Sagrada Família. Talvez este poema seja dessa sua juventude, sobre uma velha canção popular que ele ouviu, de que o povo terá gostado mais e que adoptou. Ou então, mais provavelmente, talvez tenha sido mesmo criação de Garrett, poema lido por um literato local que gostou e o musicou na tertúlia da farmácia, talvez a do meu remoto tio Chico Fagundes, à ilharga da Sé, centro do progressismo terceirense. Que daí passou para um serão no clube, cantado por menina prendada, talvez minha trisavó, ao piano, onde um criado aos fundos o ouviu, gostou e o levou para a tasca das Quatro Ribeiras, ou outra freguesia, tasca de copos e música, de onde ele se espalhou pela Terceira, depois pelas ilhas do meio.

Claro que tudo isto é minha imaginação, "e pur, si no e vero e bene trovato!"

13 setembro, 2007

Prudência e rigor (II)

Escrevi há dias que não ia comentar, sem dados seguros, o caso Madeleine. Mas "nunca digas nunca". Li hoje no Público uma pequena informação que me deixou perplexo. O casal demorou para aí uma hora a avisar a GNR, mas, entretanto, já tinha ligado à Sky News a dar a notícia. Isto poderá ser possível?

Estado laico?


Esta fotografia (de que só reproduzo uma parte) ocupa boa mancha da primeira página do Público de ontem. O primeiro ministro foi inaugurar um centro escolar. A cerimónia oficial incluiu benção religiosa, o que já é mau, mesmo para quem como eu, não é jacobino nem anticlerical. Pior é que, a menos que seja ilusão da fotografia, o primeiro ministro está a benzer-se. Se sim, e com todo o respeito pela crença do cidadão Sócrates, é intolerável num primeiro ministro no exercício das suas funções, numa cerimónia oficial.

P. S. (10:08) - Só agora reparo que já ontem Vital Moreira tinha abordado isto, no causa nossa, embora sem referência a o PM estar a benzer-se.

12 setembro, 2007

Nota gastronómica (XXVIII)

Cozinha da emigração

Vou continuar com feijoada, cozinha açoriana e suas coisas invulgares. Toda a cozinha das ilhas (insisto sempre em que há é cozinhas das várias ilhas, não uma cozinha açoriana única) é genuinamente radicada nas velhas tradições dos povoadores. A esta base acresceu a importação e largo uso de especiarias, creio que pelo mercadear com os navios da volta do largo. Mais recente, caso único que eu conheça de cozinha de emigração retornada, o feijão à calafona, hoje com todo o direito a ser já considerado cozinha regional genuína, principalmente em S. Miguel. Não me consta, pelo contrário, que a cozinha popular madeirense tenha incorporado usos venezuelanos ou sul-africanos.

É curioso que o termo calafona até não tem muito a ver com S. Miguel, muito mais com a Terceira e as outras "ilhas do meio", de onde partiu a maior emigração de camponeses e horticultores, para a Califórnia. Daí o "calafona". Pelo contrário, a emigração micaelense teve principalmente como destino a Nova Inglaterra e era de pescadores, em Batafé (adivinhem...) ou de operários indiferenciados na Maçachuça (idem...).

O que é o feijão calafona? Não vou contar todos os segredos da excelente receita que recolhi mas, no essencial, é um feijão cozido e juntado a carnes, a refogar em banha, cebola picada, alho e temperos. Depois, e esta é que é diferença para o que conheço das feijoadas portuguesas, passa tudo para uma assadeira, regado com um pouco de caldo das carnes e assa-se. Mas com um requinte: bem polvilhado com salsa picada, regado com mel e temperado no fim com canela.

Estranho? Claro que não. Isto é coisa de açoriano que se habituou a comer "baked beans" lá para as bandas de Boston. Como na terra não tinha "maple sirup", passou a usar mel. E a canela vem-lhe dos sabores ancestrais.

Nota - A melhor receita que recolhi vem no meu livro "O gosto de bem comer". É preciso atender à modernidade da receita. Coisas muito antigas tendem a sedimentar, com poucas variações. Esta receita, pelo contrário, difere muito de família para família emigrante.

11 setembro, 2007

"S" de entropia

Felizmente, para mim, não é frequente ter que guardar uma distância respeitável do que é, publicamente, dado a conhecer sobre o que se passa no ensino superior mas, às vezes, acontece-me, e atraso-me na inventariação das ocorrências...
Só hoje, "blogosferando", encontrei registadas "novas" (e velhas) más e também outras, respeitantes a este sector específico de educação.
Exemplos:
1ª notícia - Foi publicada a Lei nº 62 de 2007 - a tal do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior;
2ª notícia - O Blog de Campus ensino superior e I&D negócios recomeçou a publicação pós-férias enormes - ainda bem, porque faz falta - com o seguinte "post": OE 2008 não cobre salários em mais de metade das universidades.
Contitas feitas - muito por alto e ao de leve - existirá um deficit para pagamento de despesas de pessoal que se cifrará em 8,3 e 3 milhões de euros, respectivamente, para universidades e politécnicos. As instituições deficitárias, no seu conjunto, pelo que percebi, poderão contar com um possível balão de oxigénio - elegantemente, designado por "dotações de saneamento financeiro" - que cobrirá 83,3% do diferencial total necessário; as restantes despesas de pessoal terão que ser resolvidas por propinas de um contingente adicional de alunos para essas instituições, da ordem de 2500.
Apesar da maioria das instituições deficitárias serem, geograficamente, desfavorecidas, torço para que sim, que consigam ou alunos adicionais e/ou possibilidades extra de contratualizar prestação dos seus serviços ou projectos e, nem é bom pensarmos, por ora, nas despesas de funcionamento destas, bem como das outras instituições todas, pois não?
Uma opção para solucionar questões desta natureza, seria o governo, aproveitar o embalo/inércia, e criar condições para o lançamento, em Portugal, de um sistema de empréstimos para as instituições de ensino superior público, com "spreads" negativos, viabilizando simultaneamente um fundo estatal de socorro mútuo - isto não deve existir, mas não virá grande mal ao mundo se, de repente, todos nós resolvermos insistir em soluções criativas.
Não proponho, desde logo, também um sistema de empréstimo semelhante para os funcionários docentes e não docentes do ensino superior, porque uma boa maioria - nas presentes condições de instabilidade - não pode, sequer, assegurar o pagamento de rezas a santos.
__________________
Frase do dia: "Entropy is related to exergy in the respect that when the exergy diminishes in a system, entropy is increasing" - é uma afirmação instrutiva, e voltarei a este tema mas aplicado, assim que puder.

10 setembro, 2007

Narcisismo

Craig Venter ficará na história da ciência. Por uma excelente razão: foi o homem que imaginou uma estratégia alternativa e muito eficaz para o enorme sucesso que foi a grande epopeia científica da última década do século XX, a segunda "conquista do espaço", isto é, a conquista do conhecimento do genoma humano.

Também vai ficar por más razões. É um megalómano, empresário tanto ou mais do que cientista. A última foi ter gasto e feito gastar uma fortuna para a coisa mais narcísica que já vi: a sequenciação do seu próprio genoma. A não ser que o homem seja uma infeliz acumulação de todas as doenças genéticas, o seu genoma não me aquece nem arrefece. Claro que seria diferente se ele fosse Einstein.

09 setembro, 2007

Back-up de segurança e AIE de promessas políticas?

De vez em quando amanheço filosofando sem rede, isto é, com pensamentos muito emaranhados acerca de um qualquer tema.
Hoje, calhou de ser sobre estratégias políticas e medidas de implementação, vantagens e inconvenientes, prazos de execução? custos e benefícios? quem as aplaude? quem as reprova?.... E, meus caros e raros leitores, sempre que isso me acontece, ressuscito os meus defuntos velhos que funcionam como uma espécie de ancoras do pensamento solto - hoje, por exemplo, lembrei-me, de repente e desgarradamente, da seguinte frase de um poema de Walter Scott: Oh! what a tangled web we weave. When first we practice to deceive!.


Todos temos a vaga consciência que, em algumas sociedades, não é nada conveniente usarem-se, conjuntamente na mesma frase, as palavras 'político e mentiroso' porque o par de termos ilustra uma redundância.
Em Portugal, especificamente, esse conceito deveria tornar-se num imprescindível 11º mandamento. É verdade mesmo, vamos nos metendo progressivamente em complicações agravadas, induzidos por vagas promessas de excelência, ou mesmo de simples melhorias futuras para todos.... vamos a ver o que acontece é que todos pagam cada vez mais, e os beneficiados parecem parâmetros - são constantes de qualquer tempo de observação.
.
Tornar-se-ia, assim, desejável imaginarmos um esquema de segurança - uma aplicação específica, às estratégias de todos os nossos políticos (que os pouquitos políticos honestos - eu não conheço, mas devem existir - me perdoem) do Principio da Precaucionaridade - por exemplo: um Relatório AIE - Avaliação de Impacte de Estratégias, enquanto que arquivávamos, em simultâneo, as suas promessas numa base de dados, para conferência futura.
Desta forma, todas as propostas de estratégias políticas, a traduzir em normativos legais, deveriam, OBRIGATORIAMENTE, ser acompanhadas por um relatório pormenorizado, produzido por peritos das áreas-objecto, que registassem, em português corrente, detalhadamente, todos os impactes económico-sociais e as externalidades previstas durante a execução das medidas preconizadas para implementação dessas mesmas estratégias.
Por outras palavras, não existiriam leis ou decretos aprovados sem estarem complementados do seu relatório de AIE, que incluiria forçosamente, as metodologias de implementação, todas fontes bibliográficas usadas, o estado de arte nosso e noutros países e, a título meramente consultivo, incluiria também o parecer de todos os directamente implicados, ou seus representantes.
Seria assim, como uma espécie de um caderno de encargos que protegeria os incautos dos vivaços.
Nada do que não estivesse devidamente especificado nesse AIE seria susceptível de execução, sem a respectiva análise de pormenor.

Trata-se de uma ideia louca - foi inspirada por gato escaldado, em telhado (de zinco) quente - por isso, muito susceptível de dar certo.
O que, os meus caros e raros leitores, acham desta ideia?
.....
Bom, podem ter razão....
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PS1: "Every law of the land and canon of the church is subject to “interpretation” by those who look to the Evil One and not to our Blessed God" - não faço a mínima ideia quem disse isto, nem em que contexto, mas ...
PS2: O título deste post, por extenso é: Back-up de segurança e Avaliação de Impacte de Estratégias e «promessas políticas» (leia-se mentiras).
PS3: Aditamento ao presente post (10-Set-2007; 9h:30m) - para exemplificar o que quiz dizer, sobre nossa situação de estratégias políticas de ordem geral, descrita neste post, por favor, atentem à notícia de hoje do Diário de Notícias: "A lei das rendas não funciona e vai ter de ser alterada", de autoria de ANA TOMÁS RIBEIRO E CARLA AGUIAR -
http://dn.sapo.pt/2007/09/10/entrevista/a_das_rendas_funciona_e_ter_ser_alte.html - de onde extraí a frase de remate de texto: "Há uma iniciativa nova, a "Portas 65", uma comissão nomeada pelo Governo e constituída pelo arquitecto Portas - o famoso da "Lei Portas" - e o economista Augusto Mateus, que vai fazer o acompanhamento da lei. Fiquei bem impressionado, porque eles têm muita consciência dos problemas e percebem que a lei tem entraves. A comissão prevê a possibilidade de mexidas na lei." São questões como estas, que inviabilizam boas taxas de execução das reformas necessárias, ou que nos são enunciadas como tal - é Deus está nos detalhes....

08 setembro, 2007

Prudência e rigor

Ainda não li hoje blogues mas não me admira que abundem em especulações e até em "factos" garantidos sobre o caso Madeleine. Sem excluir seja o que for que ainda me venha a surpreender, algumas coisas poderão ser tão chocantes que só me parece haver, para já, uma atitude sensata e justa: aguardar calado. Fico por aqui. É tudo o que vou escrever nestas notas.

P. S. (14:13) - Eu bem imaginava. Hoje, no Público, a recensão de blogues é sobre este caso. Em contrapartida, a não perder, um excelente editorial (acesso reservado a assinantes).

Nota gastronómica (XXVII)

Feijoada da casa

Escrevi há dias que a feijoada açoriana é tradicionalmente de feijão rajado, não tanto em s. Miguel, mais nas "ilhas do meio". Fora isto, não tem nada de especial, a não ser a especificidade magnífica dos enchidos. Até é muito simples, sem hortaliças nem galinha ou arroz, só porco e enchidos açorianos. Coisa diferente é o feijão assado à calafona, com mel e especiarias, excelente (vem a receita no meu livro). Mas, voltando à simples feijoada, a da minha casa era uma especialidade e merece crónica.

O meu avô materno, de seu incrível nome Pretextato, foi um cabulão monumental, não conseguindo acabar o liceu. De castigo, o meu bisavô, com as posses que tinha, mandou o jovem para o Brasil, a aprender a vida com um primo distante, comerciante carioca bem sucedido. Mas o meu avô, qual quê! Um ano depois, obtido o perdão do pai austero, regressa com grande prova do seu sucesso brasileiro, coisas que a minha avó, com a lágrima ternurenta e saudosa de um amor furioso como nunca percebi outro, tirava da gaveta secreta (quem me dera tê-la!) nos momentos especiais de eu ir doente para a cama: um punhal índio, uns binóculos de teatro, umas pulseiras em cobre, os Albertinhos, duas figuras minúsculas em porcelana, um par de coralinas a que eu sempre chamei carolinas e uma boa ametista, que não sei por onde anda porque nenhum neto foi para bispo nem para farmacêutico.

Mas o meu avô, perdido pela boa mesa que o levou aos 50s de coração exaurido, trouxe coisa muito importante, a tal especialidade da feijoada familiar. Vinha sempre para a mesa, na minha casa de miúdo: farinha de pau, moída bem grosso e ligeiramente tostada! Curioso é que, nos anos 50, se vendesse nos Açores farinha de mandioca.

07 setembro, 2007

O nome da rosa

O peso das palavras é enorme! Vou dar dois exemplos opostos. Primeiro, o que me reconforta. ES quer dizer ensino superior ou educação superior? Parvoíce, dirão, eu não. Mas comecem a notar a quantidade de pessoas ilustres, reitores, articulistas, que hoje já escrevem sempre educação superior. Para quando o ministro, se é que ele percebe bem a diferença?

Virando a página, lembro-me do que aqui já referi, uma página de jornal com dois artigos, de Vital Moreira, professor universitário, e de Santana Castilho, professor do ensino superior. Não é a mesma coisa? Não exactamente. O primeiro é doutorado e professor universitário, o segundo é licenciado e professor de um instituto politécnico. Importante é que ele não devia ter vergonha de escrever "professor do ensino politécnico". Eu não teria e felizmente conheço muitos professores do politécnico que não têm.

Eu sou simplesmente JVC. Muita gente me identifica assim, estou-me nas tintas para quem não o consegue fazer. Desculpem lá, mas já não preciso de ganhar o céu, não sou evangelista nem menino de Deus. Não bato a nenhuma porta a dizer "olá, sou fulano, ex isto e aquilo, condecorado, hoje catedrático etc".

Leitura de férias

“(…) eu tive um tio bom, o meu tio Alex, que já faleceu. Era o irmão mais novo do meu pai, um licenciado em Harvard que não tinha filhos e que era um honesto vendedor de seguros de vida em Indianapolis. Era culto e sábio. E a principal queixa que fazia sobre os restantes seres humanos era o facto de eles repararem tão poucas vezes quando eram felizes. Por isso, quando estávamos, por exemplo, a beber limonada à sombra de uma macieira no Verão, e a falar pachorrentamente disto e daquilo (…), o tio Alex interrompia subitamente a cavaqueira aprazível para exclamar:”Se isto não é bom, não sei o que será.”

Kurt Vonnegut, Um homem sem pátria: Memórias da América de George W. Bush. Lisboa: Tinta da China, pp. 139-140.

Sucessos e insucessos



Esta infografia ("clicar" para ampliar) veio há tempos no Público e ilustra algumas mudanças em Portugal, em períodos variáveis, comparando-as com as da média da UE, nos mesmos períodos. Claro que, à cabeça, falamos sempre do PIB, neste caso per capita, o mais significativo, a meu ver. A subida foi enorme, nos últimos 20 anos, de 7 para 17 milhares de euros. O pior é que isto significa apenas uma subida de 7% do valor em relação à média europeia, valor que ainda hoje é de 65%.

Como toda a gente sabe, lembrando-se da época do betão do cavaquismo (e também depois), também um aumento espectacular da rede de auto-estradas. Em 1995, 0,7 km por 100 km2, exactamente metade da média europeia; em 2003, 2,2 km, contra uma média europeia de 1,7 (em alguma coisa havíamos de estar acima da média, e é porque ainda não se mede a parvoíce, a saloice e coisas que tais).

O lixo urbano, em 20 anos, passou de 385 kg anuais per capita para 446 kg, aumentando 16%. É um indicador de desenvolvimento (?) ou de migração rural-urbana que não me tinha ocorrido. No mesmo período, esta taxa europeia aumentou 26%. A evolução mais reconfortante e até espectacular, em 20 anos, foi a da mortalidade infantil, baixando de 15,9 por mil para 3,5.

Também impressionante é quando se passa para um símbolo da estratégia de Lisboa, o acesso à internet. Em apenas cinco anos, até 2006, o acesso médio da UE, em percentagem de habitações, passou de 49 para 54. Pode parecer pouco, mas foi um aumento médio anual de 2%. Em Portugal, aumento de 15 % para 35%, quase 7% ao ano, em relação ao ponto de partida. No entanto, ainda estamos a 65% da média da UE.

Mas não há bela sem senão. Continuo a insistir que nada disto é sustentável sem a educação e o capital humano. Olhemos para a percentagem de jovens na classe etária dos 15 a 24 anos que continuam a estudar. Esta classe é muito importante, porque vai, grosso modo, desde o fim da escolaridade obrigatória até ao fim dos estudos superiores. Dados de 1999: 50,2% em Portugal, 55,2% na média da UE, representando a taxa portuguesa 91% da média da UE. Dados de 2004, apenas 5 anos depois: Portugal 51,6%, UE 61%. Crescemos 3%, a UE 18%. Passámos de 91% da média, nada mal, para 85%. E daqui a cinco anos?

06 setembro, 2007

Honenagem (II)


Uma homenagem a um grande homem, voz que me ficará para sempre no ouvido, não implica que não exerça também alguma crítica. Quem ouvia ao vivo os concertos de Pavarotti , estava sempre à espera do "must", o "Nessun dorma". Eu sempre fui mais pela sua "Una furtiva lagrima", do Elixir de amor.

Mas algum dos meus leitores tem esta preciosidade de CD cuja imagem apresento (mais o seu CD irmão)? Quantos já ouviram cantar Caruso? Claro que isto, sendo uma gravação de 1904, precisou de muito trabalho para se ouvir desta forma.

Ouvir estes discos resolveu-me um velho problema de apreço por dois tenores. Pavarotti é o "bel canto", voz cristalina, angelical, em acrobacias musicais. Placido é a voz quente, inteligente, sensível com a elegância de um grande de Espanha. Só quando comecei a ouvir Caruso é que percebi que ele é a mistura excelente dos dois. Aqui fica a sua "Una furtiva lagrima".

Homenagem

Nota gastronómica (XXVI)

Açores e continente, horta igual e diferente

Já aqui muito escrevi sobre a diferença de sabor – não quero meter-me por juízos de qualidade – dos peixes dos Açores. Também já discuti a falta cá de dois condimentos essenciais, a malagueta e a açaflor, dando ideias, até no meu livro "O Gosto de Bem Comer", de maneiras de tentar imitar, embora imitação seja sempre imitação.

Também uma coisa especialíssima da cozinha açoriana, principalmente a micaelense, o limão galego. Mesmo em S. Miguel, é sazonal, só de inverno. Depois de muitas experiências, comparando com o genuíno, sugiro uma mistura de 1 c. sopa de sumo de limão, 1 c. sobremesa de sumo de lima e 1 c. chá ou um pouco mais de sumo de laranja.

Outros ingredientes antes desconhecidos cá vêem-se agora por aí com frequência: a caiota (chuchu), a batata doce e o capucho (fisália). O que talvez desconheçam é que a horta pode ser bem diferente nos Açores. Por exemplo, o repolho, bem diferente das nossas variantes continentais de repolho ou de couve lombarda. É relativamente pequeno, muito maciço e duro, perfeitamente esférico. A diferença da textura depois de cozinhado e do sabor são bem perceptíveis a quem tenha bom gosto.

Outra diferença notável está no nabo e nas suas nabiças. Estas é que são a hortaliça por excelência para o esparregado tradicional, nos Açores. Têm um travo ligeiramente mais acentuado mas também um maior perfume do que a irmã continental. Maior diferença é a do nabo, tanto mais importante quanto são ingrediente de uma sopa famosa, a sopa de nabos de S. Maria. Por sugestão de uma conhecedora, experimentei no continente o que me pareceu resultar muito bem, partes iguais de nabo e de rábano. Mas o que me custou encontrar rábano! Há alguém que saiba onde o encontrar facilmente?

Ainda duas diferenças significativas, o inhame e o funcho. O primeiro, que por aqui se vende de origem brasileira, se não estou em erro, é uma coisa incomestível para quem, como eu, sabe o que é o deliciosamente suave inhame açoriano (e ainda mais a sua variante mini, o minhoto). Do funcho, nem falar. Não me estou a referir aos bolbos de funcho, que uso muito, em várias receitas de peixe, mas da rama de funcho selvagem. Já a apanhei por tudo o que é estrada deste país, mas para ir a sopa para o lixo. E lembrei-me ainda de outra nota, porque esta sopa é de feijão. Nos Açores, mas principalmente na Terceira, usa-se com grande frequência uma variedade de feijão que julgo, se não erro, não ser muito usado no continente, o feijão rajado. Era (hoje já vou vendo muita "novidade") o feijão típico da feijoada terceirense. Em S. Miguel, o feijão assado "à calafona" é com feijão vermelho.

1/2 oito cubana

Gostaria de dispor de suficiente arcaboiço psicológico para passar impávida e serena ao largo das intervenções de figuras públicas portuguesas, pesos-pesados organizacionais e da formação da opinião pública. Todavia, pertenço aquele triste agrupamento da natureza humana dotado de pavio curto - não me contenho e, sempre que alguns portentosos ameaçam de abrir a boca...
Olhem, meus caros e raros leitores, detono!
Simples: se me perguntarem se eu não explico porque "mato" gente, digo que não, e mato. Mas hoje vou aperfeiçoar o procedimento - primeiro "mato" e, depois, digo que não explico nada.
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Por motivos, que não vêm ao caso, a minha explosão de hoje (já lhes conto...) ocorre ao retardador, o que não se constitui num esforço provisório de auto-domínio, mas tão só, de uma falta de oportunidade pessoal da referida explosão ocorrer atempadamente - refiro-me à notícia da Lusa, de 3 de Setembro, publicada pelo Jornal Público, na mesma data, com o título: Bastonário defende redução de 80 por cento nos cursos de engenharia.
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Concedendo o devido desconto às traduções da comunicação social do que é, verdadeiramente, dito pelas pessoas, não posso deixar de comentar, o que nos dizem que o Senhor Bastonário da Ordem dos Engenheiros disse aos jornalistas, e também não vi, posteriormente, nenhum seu esclarecimento ou desmentido. Por isso, limito-me a registar, aqui, o meu mau humor e os mitos e factos sobre os temas que o Senhor Bastonário decidiu divulgar pelos jornais, que lhe deram atenção:

i)
MITO: os cursos de engenharia em Portugal deveriam ser reduzidos em cerca de 80 por cento, uma vez que muitos dos nomes "são marketing puro".
FACTO - Mesmo tendo lido o texto, e feito umas contitas, não percebi o fundamento desta peculiar afirmação.
ii)
MITO: que, dos actuais 314, "não faz sentido existirem mais de 60/70 cursos de engenharia".
FACTOS - No ano lectivo de 2006/2007, em todo o ensino superior português incluindo os subsistemas público e privado, do Bacharelato aos Doutoramentos passando por preparatórios e mestrados integrados um total de 806 cursos, agrupados ao todo em 116 designações, com um total geral de 69,090 alunos.
Os cursos que eu penso podem ser considerados pela Ordem seriam: Bacharelatos+Licenciaturas: 175; Licenciaturas: 195 e mestrados integrados: 41.; TOTAL: 411.
Desta forma, não percebo de onde virá o valor 314? (o que não terá grande importância), mas o mesmo já não posso dizer dos 70/80 cursos.
Se se tratarem de cursos, a própria Ordem já acreditou 106 formações. Porque é que já acreditou 106 cursos, se não fazem sentido mais do que 80?
Estamos aqui a falar de quê? De cursos ou de designações?
iii)
MITO: "Houve já uma vontade dos reitores em uniformizar as designações, que não teve apoio político. Hoje cada um cria o curso com o nome que quiser e as pessoas do mercado não sabem qual é o conteúdo correspondente à designação. É marketing puro.
FACTOS: Essa vontade não foi só dos reitores, a vontade existiu mas incluiu também pelo menos a dos Presidentes dos Politécnicos Públicos, e a proposta dos reitores nem estava mal feita, estava como a minha disposição - péssima! Ou não leu a famigerada proposta dos reitores?
Sobre a referida proposta, inclusivamente, escrevi e justifiquei a minha posição sobre o assunto à Ordem, ao MCTES e a todos que tivessem alguma coisa a ver com o assunto e caixas de correio electrónico, nomeadamente o Senhor Presidente do CRUP, à época - Leopoldo Guimarães.
iv)
FACTO: como há poucos alunos e há mais oferta", assiste-se em Portugal "a uma disputa das escolas para ter alunos socorrendo-se daquilo que tiver à mão".
.... "vai obrigatoriamente acabar por perceber-se que há cursos que deveriam ser fechados, não deveriam existir, porque não têm o mínimo de qualidade".
FACTO - Verdade absoluta. A isto chama-se concorrência - é muito saudável, para os consumidores (empregadores). Assim como é verdade que a oferta e procura constituem o melhor sistema regulador do mercado. Neste particular, o conceito de mercado é também muito discutível.
Estamos a falar de quê, quando falamos de mercado? Do mercado Nacional (10,6 milhões de habitantes), do mercado Europeu (500 milhões de habitantes) ou do mercado Mundial (6,6 bilhões de pessoas)?
v)
FACTO: "a entrada na Ordem passa por um exame e esse sistema de acreditação não tem mais nenhum objectivo do que estabelecer, de forma criteriosa e pragmática, o modelo que leva a que alunos de determinados cursos possam ser dispensados deste exame"
FACTOS:
- Se a forma fosse criteriosa, haveria critérios bem definidos e devidamente publicitados. Onde se encontram publicados esses critérios da Ordem dos Engenheiros?
- Se a forma fosse pragmática, a sua execução não ocuparia uma média superior a 18 meses.
- Admito que o modelo leva a que formandos de determinados cursos são dispensados de exames. Mas aqui, eu sublinho o determinados.
vi)
FACTOS:
- Pessoalmente, sou INTEIRAMENTE partidária e até fanática de organizações de classe, desde que integrem ou não indivíduos que se habilitem INDIVIDUALMENTE. O que a Ordem, para mim, não pode é afirmar-se como seleccionadora diferencial de instituições, actuando desta forma, como um agente publicitário (o tal marketing que o Senhor Bastonário falava....) favorecendo assim, à prióri - em mercados de banda estreita, como o nosso - agrupamentos e/ou colectividades institucionais.
Para mim, num contexto como o nosso, é inadmissível este procedimento.
- De cada vez que muda o bastonário da Ordem dos Engenheiros, penso sempre esperançosa que vai ser desta vez que se estabelece uma trajectória ascendente na organização das engenharias da nação. Mas, o resultado final, pouco tempo depois do cargo ser assumido, é sempre igual - uma meia oito cubana, só que com aterragem forçada, em queda livre, e na água. E então, é só agora, depois da confusão instalada, é que a Ordem dos Engenheiros parece querer imitar a dos médicos - eliminar a concorrência? E isto, é que nem com Red Bull eu aguento!
Uma das competências básicas da classe de engenharia não será a capacidade de planeamento e consequente antecipação de soluções? Pelos vistos deixou de ser....

05 setembro, 2007

Obrigado, Público!

Depois de tanta queixa que aqui vou debitando em relação ao Público, é reconfortante escrever uma coisa positiva, dá-nos autogarantia de isenção. Por vezes, o jornal contribui decisivamente para a minha cultura. É claro que, sendo jornal de referência, esses contributos têm de ser coisa importante, com registo futuro em enciclopédia. Por exemplo, ensinarem-me os jornalistas Mariana Oliveira e Álvaro Vieira (secção Local, 3.9.2007) onde ficam algumas grandes cidades europeias ou mesmo quais são algumas capitais, até a espanhola, que eu pensava que era Badajoz, onde se ia comprar caramelos.

"A Transportadora Aérea Portuguesa (TAP) vai inaugurar no dia 15 duas rotas diárias com partida do Porto, uma para Roma (Itália) e outra para Bruxelas (Bélgica). O porta-voz da companhia aérea, António Monteiro, confirmou ainda que haverá um reforço da operação a partir do Aeroporto Francisco Sá Carneiro para Genebra (Suíça), Amesterdão (Holanda) e Madrid (Espanha), aumentando o número de voos diários existentes."

Se o ridículo pagasse imposto, já não havia défice orçamental.

Nota - Já agora, TAP é abreviatura de Transportes Aéreos Portugueses e não de Transportadora Aérea Portuguesa, empresa que nunca existiu. A designação comum hoje adoptada pela companhia é TAP Portugal, tendo sido recentemente TAP Air Portugal. Não tem importância, jornalista de hoje não se prende com trivialidades.

04 setembro, 2007

Fantasmas atarantados 2 - UMA CORRECÇÃO IMPORTANTE

Lendo com um pouco de mais atenção o texto final da PROPOSTA DE LEI N.º 148/X do REGIME JURÍDICO DAS INSTITUIÇÕES DO ENSINO SUPERIOR, artigo 49º, constatamos o seguinte:

_______________________
Artigo 49.º
Corpo docente das instituições de ensino politécnico
1 - O corpo docente das instituições de ensino politécnico deve satisfazer os seguintes requisitos:
a) Preencher, para cada ciclo de estudos, os requisitos fixados, em lei especial, para a sua acreditação;
b) Dispor, no conjunto dos docentes e investigadores que desenvolvam actividade docente ou de investigação, a qualquer título, na instituição, no mínimo de um detentor do título de especialista ou do grau de doutor por cada 30 estudantes;
c) No conjunto dos docentes e investigadores que desenvolvam actividade docente ou de investigação, a qualquer título, na instituição, pelo menos 15% devem ser doutores em regime de tempo integral e, para além destes, pelo menos 35% devem ser detentores do título de especialista, os quais poderão igualmente ser detentores do grau de doutor.
2 - A maioria dos docentes detentores do título de especialista deve desenvolver uma actividade profissional na área em que foi atribuído o título.
3 - Os docentes e investigadores a que se referem as alíneas b) e c) do n.º 1:
a) Se em regime de tempo integral, só podem ser considerados para esse efeito nessa instituição;
b) Se em regime de tempo parcial, não podem ser considerados para esse efeito em mais de duas instituições.
_________________________________
Assim lida à letra, a situação geral de todas as instituições politécnicas é muitíssimo mais difícil do que enunciei ontem, por isso, hoje efectuei a distribuição dos docentes Doutorados, registados no REBIDES 2006, mas tendo em atenção os seus regimes contratuais específicos, ou outra qualquer forma de compromisso institucional, e o resultado, para mim, foi este (clique na imagem seguinte, ou procure o ficheiro - FORMAS CONTRATUAIS DOS DOUTORADOS_POLITÉCNICO.xls - aqui).




























Se agora eu estiver a ver/ler bem, significará que está no horizonte deste MCTES uma alteração ao próprio regime contratual dos docentes do politécnico?
Sinceridade? Sim, meus caros e raros leitores, apostaria que está sim! Vejam bem os números...
Já viram a dificuldade que poderá resultar para as instituições-docentes cuja área de ensino dominante não tratar de formação de professores, saúde ou tecnologias da saúde (vocacionadas para a preparação de pessoas queiram trabalhar para o estado).
Mas, aonde andará o CCISP?....


__________________
Se assim for, todo o procedimento de Reforma do nosso Ensino Superior, já não é, minimamente, comparável à casa referida no meu post anterior, e descrita em redacções de adolescentes, este já é um caso muitíssimo mais sério - é a própria Winchester House e, pasmem, situada sabem aonde? Em Sillicon Valley [1].
[1] .......160-room Victorian mansion had modern heating and sewer systems, gas lights that operated by pressing a button, three working elevators, and 47 fireplaces;"
e, ainda 40 escadas e 52 clarabóias....
"....110 of the 160 rooms ….. the bizarre phenomena that gave the mansion its name; a window built into the floor, staircases leading to nowhere, a chimney that rises four floors, doors that open onto blank walls, and upside down posts! No one has been able to explain the mysteries that exist within the Winchester Mansion, or why Sarah Winchester kept the carpenters' hammers pounding 24 hours a day for 38 years. "

03 setembro, 2007

Sobre a educação superior (VI)

Os empréstimos universitários

Comprometi-me a escrever aqui alguma coisa, depois deu-me a preguiça. Fácil, era só dizer que subscrevia por inteiro o artigo de Vital Moreira, "prontos". Mas acabou por dar uma nota mais extensa, no meu sítio, "O sistema dos empréstimos". Depois ainda, um artigo de fundo, "O financiamento pelos empréstimos".

P. S. (14:46) - Republiquei a nota, corrigindo um erro de cálculo significativo.

Presente envenenado

Expresso, 1.9.2007. Artigo de José Roquete, com o título ironicamente bem achado de "Flexi-socialismo". Um elogio de um conhecido "socialista" (!...), dono do Esporão, potencial grande investidor turístico no Alqueva. Sem comentários!
Nada como ser a esquerda a "mexer" na lei laboral. Ironias à parte, é interesante ser um Executivo socialista a atacar o tabu da nossa injusta, rígida e desresponsabilizante lei do trabalho. Nos ultimos 30 anos, nenhum governo o fez, com ou sem maioria. Nenhum líder teve coragem, nem capacidade para enfrentar o problema. Agora, um Governo socialista, imune aos gritos da esquerda demagógica, vem demonstrar bom senso. Isto promete. O ministro do trabalho (socialista) promete firmeza mas diz que a flexi-segurança, por cá, se chama "adaptabilidade". Bagão Félix, ex-ministro das finanças (de direita), é contra flexibilizar a natureza/causas de despedimento, só os "procedimentos". Queremos mesmo mudar?

Fantasmas atarantados

O projecto, os sucessivos planos e os construtores do desenvolvimento do Ensino Superior Público, em Portugal, inspiraram-se, de certeza, nas directrizes de obra e nos conceitos arquitectónicos de Appleby House [1]. Se os meus caros e raros leitores acham que não, por favor, ajudem-me lá a rever esta minha hipótese [2]:
Por razões que não vêm ao caso, mas que se relacionam com facto de que talvez "mais valha ser rico e com saúde, do que ser pobre e doente" - passei quase um mês, imobilizada, em casa e, para me entreter, decidi verificar a situação da composição do corpo docente, e ratios de docência, do ensino superior em Portugal, das escolas integradas em Institutos Politécnicos públicos.
O objectivo seria verificar quais dos INSTITUTOS/ESCOLAS cumprem o ratio mínimo de 15% de Doutorados, que se presume será objecto do RJIES.
Toda a informação respeitante ao ensino Superior está disponível, pelo Gabinete de Planeamento, Estratégia. Avaliação e relações Internacionais - GPAERI, através da página: 'Registo biográfico de docentes do ensino superior' - 31 de Dezembro de 2006 (REBIDES 2006).
Os alunos das formações iniciais do Ensino Superior, em Portugal, em 2006, distribuíam-se desta forma:
____________________
PARTICULAR e COOPERATIVO
i) Politécnico - 29 639 alunos (9.1%), 393 cursos, 64 escolas;
ii) Universitário - 43 399 alunos (13.3%), 580 cursos, 49 escolas;
PÚBLICO
i) Militar e Policial Politécnico - 236 (0.1%) alunos, 18 cursos, 3 escolas;
ii) Militar e Policial Universitário - 1 341 (0.4%) alunos, 28 cursos, 4 escolas;
iii) Público - Politécnico - 105 571 (32.4%) alunos, 1 364 cursos, 101 escolas, destas, 42 escolas, com um total de 89 758 alunos, são escolas INTEGRADAS, em 15 Institutos Politécnicos Públicos (objecto do inventário);
iv) Universitário - 136 997 (42.0%) alunos, 1 447 cursos e 70 escolas;
UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA
i) Politécnico - 956 (0.3%) alunos, 8 cursos, com 2 escolas politécnicas;
ii) Universitário - 7 994 (2.5%) alunos, 117 cursos e com 26 escolas universitárias.
_____________________
Total Geral - 326 133 alunos, 3955 cursos de formação inicial.

Síntese dos resultados que obtive, apenas para 7 das escolas Politécnicas Públicas, que detêm mais do que 5,000 alunos:

1º Tabela de Docentes (base informativa);
Ratios comparativos para as diferentes Escolas (clique na imagem para poder ver melhor):


































3º Síntese da distribuição de Equivalentes em Tempo Integral de Docentes (clique na imagem, para poder ver melhor), para Institutos Politécnicos com mais do que 5000 alunos, para verificação da conformidade do corpo docente dessas instituições com o texto ":No conjunto dos docentes e investigadores que desenvolvam actividade docente ou de investigação, a qualquer título, na instituição, pelo menos 15% devem ser doutores em regime de tempo integral" do Regime jurídico das instituições de ensino superior - Versão final, aprovada pela Assembleia da República.



























Por favor, caso pretendam, consultem os ficheiros aqui (http://www.esnips.com/web/REBIDESRJIES/).

CONCLUSÕES:

Pois, .... pode constatar-se que:
- nem todas as escolas dos institutos politécnicos, com mais de 5000 alunos, reuniam em Dezembro de 2006 esse primeiro requisito;
- houve escolas/politécnicos que apostaram fortíssimo na formação académica dos seus docentes (ex.: Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Bragança) mas terão agora que confrontar o seu efectivo de docentes com a segunda parte do texto: para além desses 15% detentores do grau de doutor, "pelo menos 35% devem ser ser detentores do título de especialista, os quais poderão ser detentores do grau de doutor", tomara que sim que todas as escolas, nessas penosas circunstâncias, consigam esses tais "especialistas, felizmente, ainda a definir como der mais jeito"....
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[1] "Years of rumors and unsubstantiated reports have created, in a quiet urban neighborhood, a house of horrors. The dwelling is one Appleby House, a modest dwelling of 36 rooms built over an 8 year period. On interviewing neighbors, who dubbed the owner "strange," one finds that 10 carpenters have been employed to build such oddities as stairways to ceilings, windows on blank walls, and doorways going nowhere. According to reports, these bizarre customizings are intended to confuse ghosts. Maybe the owner will report one day that he has caught one in a dead end hallway! Until then, however, the mystery of the building of Appleby House remains just that -- a mystery."
[2] Em relação à nossa gestão da Educação Superior, a cada passo, estamos em presença de uma ou múltiplas alternativas sem saída - Appleby House: presos por mimar o cão ou por o abater, ou então pode ficar tudo como dantes, e isto é o mais certo.